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Arrasto de praia é modalidade mais antiga da captura da tainha no litoral catarinense - Foto: Joyce Reinert/ND

Pescadores de Campeche, praia no sul de Florianópolis/SC, não aguentam mais esperar a volta às atividades

Olhos ao mar. Olhos mareados de saudades. De sentir o balanço do barco. Do vento úmido no rosto. Do barulho da rede caindo. Do esforço para subir com ela…

A rotina dos pescadores da praia do Campeche mudou drasticamente por causa da pandemia. A tradição passada de pais para filhos há séculos foi declarada patrimônio imaterial do Estado em 1º de maio, dia da abertura oficial da pesca artesanal de tainha. Os preparativos (conserto das redes e garapuvus) começam muito antes.

Peixes bons de verdade, segundo os próprios pescadores, só mesmo lá para o final de maio até o final de junho. É a época das tainhas mais gordas, com ovas. Já lá para o mês de julho, elas não se deslocam tanto, estão mais magras e com pouco sabor. 5 horas é um horário mágico. Da manhã ou da tarde. Os pescadores têm que estar onde gostam! É quando os cardumes estão mais “parados”, como gostam de falar.

São aproximadamente 40 pescadores, mas quando é hora de puxar as redes, mais de 100 pessoas se aglomeram na praia. É festa! Gente de todo lado, conhecida pelos pescadores como ‘turma da gaivota’. Gente da comunidade e turistas que se unem para tirar os peixes do mar. Em troca, levam uns peixinhos para assar!

Um processo planejado e seguido à risca

Por volta das 5 da manhã, os primeiros pescadores começam a chegar. Vigias se posicionam em pontos altos, de olho no mar e no tempo. A tecnologia já faz parte da tradição. Celulares são usados para comunicar o movimento dos cardumes.

Pesca da tainha na praia do Campeche, em Florianópolis - Foto: Paulo Mueller/NSC TV

Parece até que nada está acontecendo. Uns batem papos animados, outros jogam dominó, Mas quando tem notícia de peixe, é um Deus nos acuda. Canoas n’água! Quatro remeiros, o chumbeiro e o piloto. Se o cardume for muito grande e uma canoa não der conta de cercar, eles põem o outro barco no mar.

O vento traz as esperanças, mas a realidade é outra

Se rolar um vento Sul, a comunidade fica em alerta. É um bom sinal. Independente do peso com que a rede vem do mar, há um peso ainda maior pairando nas costas destes pescadores. O futuro incerto da tradição.

O futuro da pesca artesanal como prática regular na comunidade é incerto. Além de os ganhos oscilarem muito e de não haver incentivos, os jovens, assim como os da área rural, não demonstram interesse em dar continuidade à atividade.

É consenso de que não dá mais pra viver só da pesca. Mas as consequências são mais perversas: será o fim de uma tradição da comunidade, de uma cultura. Além disso, a pesca artesanal vem perdendo espaço para a industrial que se utiliza de tecnologias para a captura, utilizando sonares e drones, que não só mapeiam o local exato como informam até a quantidade estimada de peixes.

Opinião

Precisamos rever com urgência nossas necessidades e aspirações. O desenvolvimento é necessário. Mas a que custo? Uma economia baseada em crescimento desmedido não é mais compatível com os recursos do planeta. E a natureza vem demonstrando isso. Até quando vamos nos cegar para estes avisos?

Tradições com a pesca da tainha em Campeche são o que há de mais interessante, humano e cultural em comunidades similares. Deixá-la morrer é abrir mão de nossa própria condição social. É deixar morrer raízes que estruturaram comunidades, cidades, países. É morrer um pouco junto.

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