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Cafezais com maciços de árvores nativas ao redor

A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) vem utilizando a tecnologia desenvolvida de implantação de corredores ecológicos multifuncionais para auxiliar o controle biológico de pragas na cafeicultura. O projeto, que indica o plantio de determinadas espécies de árvores e arbustos perenes em corredores dentro e próximos a cafezais, conta com 10 unidades demonstrativas no Cerrado Mineiro e quatro na Zona da Mata.

Os trabalhos tiveram início há mais de duas décadas com a seleção de plantas, seguidas por testes em laboratório, em casas de vegetação, em áreas pequenas nos campos experimentais da Epamig. Posteriormente a área foi ampliada até chegar à fase atual de unidades demonstrativas em fazendas de produtores parceiros. No Cerrado Mineiro, a implantação dessas unidades ocorreu em 2021 e está na fase de análise dos resultados do primeiro ano.

Alguns critérios devem ser considerados na escolha das árvores e arbustos que farão parte dos corredores ecológicos. É preciso que estas plantas tenham características que atraiam os inimigos naturais das pragas do café e forneçam alimentos para esses insetos (pólen e néctar) e abrigo, além de não beneficiarem as pragas do café. A opção é por plantas perenes para que o produtor não tenha que ficar replantando todo ano.

Abelha na flor do café
Abelha na flor do café

Algumas espécies são essenciais para a implantação do corredor multifuncional. Um modelo de tecnologia foi desenvolvido pela Epamig, com as espécies básicas que devem compor o corredor, mas a implantação nas propriedades é sempre de uma maneira participativa, então, por exemplo, se o produtor que colocar um abacate ou alguma planta que tem interesse para a madeira, estas outras espécies podem integrar a esse corredor. Existem as plantas obrigatórias que atraem os predadores e parasitoides das pragas do café e os polinizadores, ambos beneficiam o café, mas isso não significa que elas tenham que ser exclusivas. Elas têm que estar em maior densidade e o arranjo final conta com a participação e interesse do produtor.

Implantação das áreas

Os estudos básicos, obtidos nas pesquisas realizadas pela Epamig, indicam que cada corredor ecológico deve ficar a uma distância máxima de 40 m um do outro para ter efeito positivo no combate às pragas. Mas a posição pode variar em função da região. Isso também é de acordo com o produtor, pode variar em função da mecanização da lavoura, do relevo, como no caso de áreas montanhas. Os técnicos se baseiam no modelo básico, que é uma tecnologia validada, com resultados comprovados, publicados em revistas internacionais com fator de impacto relevante, além de terem sido revisadas por outros pesquisadores, e adequada à realidade da propriedade.

As espécies tidas como necessárias, que foram identificadas ao longo do trabalho, são de ingá (Inga edulis) (árvore), erva baleeira (Cordia verbenacea) (arbusto), fedegoso (Senna macranthera) (árvore) e um arbusto, semelhante ao fedegoso, apelidado pela equipe de fedegozinho.

Cafezal com corredor ecológico
Cafezal com corredor ecológico

Trabalho colaborativo

O início da implantação das unidades demonstrativas e a avaliação dos resultados faz parte de um projeto em parceria com a Nespresso. Posteriormente, foi aprovada pelo edital 40 da Fapemig/Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sede), a garantia de recursos para a expansão do projeto, para a região das Matas de Minas.

A produtora Isabel Cristina de Carvalho, do município de Coromandel no Alto Paranaíba, conta que a busca pelo manejo responsável e a redução do uso de pesticidas químicos nas lavoura sempre foi a premissa dos cafés Estrela Carvalho. Desde 1981, a produtora do Cerrado Mineiro é adepta do plantio direto e desenvolve o reflorestamento com espécies de árvores nativas. A partir de 2021, com a parceria com a Epamig, veio o incentivo ao controle biológico nas suas diversas formas e alternativas.

A Epamig subsidia com dados de pesquisa sobre o uso de controle biológico de pragas, forneceu mudas e sementes e incentivou a plantar erva baleeira e fedegozinho, ingá e outras plantas atrativas para os insetos benéficos, inimigos naturais de pragas, por exemplo bicho-mineiro. Desde 2022, a equipe da Epamig realiza as amostragens que incluem, toda biodiversidade e análise de folhas solo e frutos na lavoura de café orgânico. Ao final esses resultados estarão relacionados também com aspectos da qualidade do café.

Cafezal jovem circundado por árvores nativas da Fazenda Ecológica Estrela Carvalho
Cafezal jovem circundado por árvores nativas da Fazenda Ecológica Estrela Carvalho

O Café Estrela Carvalho alcançou o primeiro lugar na premiação de qualidade do café do Cerrado Mineiro. Suas terras estão localizadas no nobre terroir do Pântano e alcançou essa premiação com o café orgânico, procedente do talhão em que a equipe da Epamig é parceira.

Também parceiro neste trabalho, o Guima Café, pertencente ao Grupo BMG, investe em sustentabilidade e produção de bebidas especiais desde 2018. A propriedade, entre os municípios de Varjão de Minas e Patos de Minas, no Cerrado Mineiro, foi adquirida em 1977, e tem como foco específico a cafeicultura.

O empreendimento conta com os resultados das pesquisas da Epamig para tomadas de decisão em manejos nas lavouras, conhecimentos técnicos necessários para a adoção das práticas regenerativas. Sem falar na relação profissional que conquistamos. Há cada dois meses, os técnicos da Epamig fazem a coleta de insetos, de folhas e do solo e biometrias, e passam as orientações para a condução do plantio regenerativo.

Corredor ecológico ao fundo do cafezal na Fazenda Estrela Carvalho em Coromandel, MG - Foto: Emerson F. Vilela
Corredor ecológico ao fundo do cafezal na Fazenda Estrela
Carvalho em Coromandel, MG – Foto: Emerson F. Vilela

Desde a escolha por adotar práticas mais sustentáveis, a fazenda conta com uma equipe e profissionais com alto nível de conhecimento técnico, que tem ajudado a alçar e atingir os objetivos de um mercado muito exigente e comprometido com a questão ambiental. Ao investir na agricultura regenerativa, objetivou-se promover a sustentabilidade ambiental, regenerar ecossistemas agrícolas degradados, melhorar a saúde do solo, aumentar a resiliência das fazendas às mudanças climáticas, reduzir a dependência de insumos externos como fertilizantes e pesticidas sintéticos, conservar a biodiversidade, aumentar a produtividade a longo prazo e garantir a segurança alimentar para as gerações futuras, como também mitigar os efeitos climáticos das altas temperaturas na cultura do café aliado à biodiversidade sem agredir o meio ambiente, fazer uma agricultura mais resiliente e responsável.

A Epamig tem utilizado a tecnologia desenvolvida de implantação de corredores ecológicos multifuncionais para auxiliar o controle biológico de pragas na cafeicultura - Foto: Guima Café
A Epamig tem utilizado a tecnologia desenvolvida de implantação de corredores ecológicos
multifuncionais para auxiliar o controle biológico de pragas na cafeicultura – Foto: Guima Café

Em 2023, o Guima Café conquistou o “Best of the best no 8º Prêmio Internacional de Café Ernesto Illy, realizado em Nova York. O lote premiado é da cultivar MGS Paraíso 2, desenvolvido pelo Programa de Melhoramento Genético do Cafeeiro da Epamig.

As tecnologias de controle biológico conservativo da Epamig estão implementadas em fazendas produtoras de café em Patrocínio, Monte Carmelo, Varjão de Minas, Patos, Carmo do Paranaíba, Coromandel, no Cerrado Mineiro, e de Paula Cândido, Araponga e Espera Feliz, na Zona da Mata.

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