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Um solo bem estruturado e com quantidade ideal de nutrientes e matéria orgânica é essencial para o bom desenvolvimento das plantas e para a boa produtividade agrícola

O solo é primordial para garantir a segurança alimentar no planeta. Modelos integrados viabilizam um solo mais saudável. As propriedades químicas, físicas e biológicas dos solos melhoram em modelos sustentáveis como a ILPF. Essas alterações observadas estão ligadas à quantidade e qualidade do carbono orgânico. As pesquisas da Embrapa comprovam que esses solos acumulam maior quantidade de carbono, e que a estabilidade dessa matéria orgânica é maior do que nos sistemas convencionais. Um solo de melhor qualidade promove altas produtividades das culturas e melhora o vigor da pastagem ofertada aos animais, resultando em maior produção e renda.

As práticas de produção sustentáveis e conservacionistas contribuem ainda com alguns dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) porque estão relacionadas a aspectos econômicos, sociais e ambientais, como à redução da fome (ODS 2) e pobreza extrema (ODS 1 e 3), proteção do meio ambiente (ODS 6, 11, 12, 14, 15) e ao combate às mudanças climáticas (ODS 13).

Ciclo do carbono

A importância da saúde do solo é hoje fundamental para a produção agrícola, pois as plantas necessitam de um solo fértil e saudável para se desenvolverem adequadamente. Além disso, um solo saudável é importante para a conservação do meio ambiente, pois assim ele será capaz de armazenar água e sequestrar carbono.

Quando se pensa na saúde do solo, é necessário adotar práticas como a rotação de culturas, o plantio direto, além do uso de insumos, como fertilizantes que possuem tecnologia para melhorar as condições do solo, entre outras práticas. Com esses manejos, é possível ter um solo mais saudável e contribuir também para a produção de alimentos mais saudáveis e sustentáveis.

A saúde do solo é um conceito que se refere à capacidade do solo em sustentar a vida e a produção agrícola de forma equilibrada e sustentável, sem comprometer a qualidade e a fertilidade do solo a longo prazo. Um solo saudável é aquele que apresenta uma série de características físicas, químicas e biológicas, que permitem que as plantas se desenvolvam de forma saudável e que a biodiversidade do ecossistema seja preservada.

Solo saudável - Fonte: Livro "Saúde do Solo - Múltiplas perspectivas e percepções" - Maurício Roberto Cherubin & Bruna Emanuele Schiebelbein
Solo saudável – Fonte: Livro “Saúde do Solo – Múltiplas perspectivas e percepções”
Maurício Roberto Cherubin & Bruna Emanuele Schiebelbein

Dentre as características de um solo saudável, podemos citar a presença de uma boa estrutura, com porosidade adequada para permitir a infiltração de água e aeração das raízes das plantas; um pH equilibrado, que permita que os nutrientes sejam disponibilizados às plantas; a presença de matéria orgânica, que fornece nutrientes e melhora a capacidade de retenção de água; e a presença de uma microbiota diversa e ativa, que desempenha funções importantes na ciclagem de nutrientes e na saúde das plantas.

A saúde do solo é fundamental para a manutenção da produção agrícola e para a preservação do meio ambiente. Solos degradados ou contaminados podem levar à diminuição da produtividade agrícola, à perda de biodiversidade e à contaminação dos recursos hídricos. Por isso, a manutenção da saúde do solo é essencial para garantir a sustentabilidade da produção agrícola e para a preservação dos ecossistemas naturais. Esse solo ideal é responsável pela produção de alimentos saudáveis e abundantes, pela conservação do meio ambiente e a mitigação das mudanças climáticas.

O solo é um dos principais reservatórios de água doce do planeta, sendo responsável por armazenar e filtrar a água que abastece rios, lagos e aquíferos. Um solo saudável é capaz de reter a água da chuva por mais tempo, reduzindo a erosão e contribuindo para a manutenção da qualidade dos recursos hídricos.

4 fatores essenciais para que um solo saudável - Fonte: Livro "Saúde do Solo - Múltiplas perspectivas e percepções - Maurício Roberto Cherubin & Bruna Emanuele Schiebelbein)
4 fatores essenciais para que um solo saudável – Fonte: Livro “Saúde do Solo – Múltiplas perspectivas
e percepções – Maurício Roberto Cherubin & Bruna Emanuele Schiebelbein)

Outra importante função é a de sequestrar carbono da atmosfera. A matéria orgânica presente no solo é uma importante fonte de carbono, e um solo saudável é capaz de armazenar grandes quantidades desse elemento. Isso contribui para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, reduzindo a quantidade de carbono na atmosfera e contribuindo no combate do aquecimento global.

Por fim, um solo saudável é importante para a manutenção da biodiversidade. O solo é o habitat de uma grande diversidade de organismos, que desempenham papéis fundamentais nos ciclos biogeoquímicos e na saúde do ecossistema como um todo. Um solo saudável é capaz de sustentar essa diversidade de organismos, garantindo a manutenção da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos associados a ela.

É essencial que as práticas agrícolas adotadas levem em conta a importância da saúde do solo, a fim de garantir a sustentabilidade do sistema produtivo e a proteção dos recursos naturais.

Solo bem estruturado permite boa formação de raízes
Solo bem estruturado permite boa formação de raízes

Os pilares relacionados a um solo saudável

O solo é um sistema complexo e dinâmico, formado por uma mistura de partículas minerais, matéria orgânica e organismos vivos. Para entender a saúde do solo e sua importância, é necessário compreender os três pilares que o sustentam: químico, físico e biológico.

Esses três pilares são interdependentes e afetam a saúde e a produtividade do solo. Um solo saudável requer um equilíbrio adequado entre esses pilares, com nutrientes disponíveis para as plantas, uma estrutura física adequada para o crescimento das raízes e a circulação de água e ar, e uma comunidade biológica diversificada e ativa para garantir a fertilidade do solo e manter a saúde do ecossistema.

Pilar físico

As propriedades físicas do solo incluem sua textura, estrutura, densidade e permeabilidade. A textura do solo é definida pela proporção de partículas minerais que o compõem, sendo que os principais componentes são areia, argila e silte. A estrutura do solo, por sua vez, é a organização das partículas minerais em agregados, ou seja, como as partículas se mantêm unidas. A densidade do solo refere-se ao seu peso por unidade de volume, enquanto a permeabilidade está relacionada à sua capacidade de permitir a circulação de ar e água.

Diferentes características físicas dos solos
Diferentes características físicas dos solos

A textura do solo é importante porque afeta a capacidade de retenção de água e nutrientes. Solos com alta porcentagem de argila retêm mais água e nutrientes, enquanto solos com alta porcentagem de areia têm menor capacidade de retenção de água e nutrientes. A estrutura do solo afeta a circulação de água e ar, bem como a profundidade das raízes das plantas, e pode ser influenciada pelo tipo de vegetação, pelo clima e pelo manejo do solo.

A densidade do solo pode afetar negativamente o crescimento das raízes, bem como a capacidade de infiltração de água. Solos compactados têm menos poros e, portanto, menos capacidade de retenção de água e ar, bem como menor capacidade de absorção de nutrientes pelas raízes das plantas. Por fim, a permeabilidade do solo está relacionada à sua capacidade de permitir a circulação de água e ar. Solos com boa permeabilidade são mais resistentes à erosão, mais produtivos e menos suscetíveis a problemas de encharcamento ou compactação.

Pilar químico

As propriedades químicas do solo incluem seu pH, nutrientes disponíveis, capacidade de troca catiônica (CTC) e matéria orgânica. O pH do solo é uma medida da acidez, neutralidade ou alcalinidade do solo e afeta a disponibilidade de nutrientes para as plantas. Em solos ácidos (pH abaixo de 7), alguns nutrientes como cálcio, magnésio e fósforo, são menos disponíveis para as plantas, enquanto que em solos alcalinos (pH acima de 7) os micronutrientes ferro, manganês e zinco podem ficar indisponíveis.

Elementos químicos do solo
Elementos químicos do solo

A disponibilidade de nutrientes é influenciada pelas condições químicas do solo. A matéria orgânica é importante porque fornece nutrientes para as plantas, melhora a estrutura do solo e aumenta sua capacidade de reter água e nutrientes.

O pilar químico do solo é importante porque afeta diretamente a capacidade do solo de fornecer nutrientes para as plantas. Se as propriedades químicas do solo não estiverem em equilíbrio, as plantas podem sofrer de problemas nutricionais, o que pode afetar seu crescimento e produção. Por exemplo, a deficiência de nitrogênio pode resultar em crescimento reduzido das plantas, enquanto a deficiência de fósforo pode afetar o desenvolvimento das raízes.

Pilar biológico

O solo é um ambiente complexo que abriga uma grande variedade de organismos vivos, incluindo bactérias, fungos, protozoários, entre outros. Esses organismos interagem entre si e com as plantas, realizando diversas funções essenciais para a saúde do solo e a produtividade agrícola. A esse grupo de microrganismos se dá o nome de “microbiota do solo”.

Microbiota do solo
Microbiota do solo

A diversidade e a quantidade da microbiota do solo podem variar dependendo das condições do solo, como o pH, a umidade, a temperatura e a disponibilidade de nutrientes. Além disso, a atividade agrícola também pode afetar a microbiota do solo.

Entre os principais grupos de microrganismos presentes na microbiota do solo, destacam-se as bactérias e os fungos. As bactérias são os microrganismos mais abundantes no solo e realizam diversas funções biológicas, como a decomposição da matéria orgânica, a fixação de nitrogênio, a mineralização de nutrientes e a proteção contra patógenos.

Os fungos, por sua vez, são importantes para a formação de agregados do solo, que melhoram sua estrutura e sua capacidade de retenção de água e nutrientes. Além disso, os fungos micorrízicos estabelecem simbiose com as raízes das plantas, fornecendo nutrientes e proteção contra patógenos.

A importância da microbiota do solo para a saúde e a produtividade do solo tem sido amplamente reconhecida, e o manejo agrícola deve levar em conta a importância desses microrganismos. O uso adequado de fertilizantes e outras práticas agrícolas podem promover a diversidade e a atividade da microbiota do solo, contribuindo para a sustentabilidade do ecossistema e para a manutenção da produtividade da lavoura a longo prazo.

As interconexões dos solos saudáveis - Ilustração: Bruna Emanuele Schiebelbein - Livro "Saúde do Solo - Múltiplas perspectivas e percepções" - Maurício Roberto Cherubin & Bruna Emanuele Schiebelbein
As interconexões dos solos saudáveis – Ilustração: Bruna Emanuele Schiebelbein – Livro “Saúde do Solo – Múltiplas
perspectivas e percepções” – Maurício Roberto Cherubin & Bruna Emanuele Schiebelbein

Indicadores de qualidade biológica do solo

Os indicadores de qualidade biológica do solo são ferramentas utilizadas para avaliar a saúde e a biodiversidade dos ecossistemas do solo, incluindo a atividade microbiológica e a presença de organismos vivos. Esses indicadores podem ser usados para monitorar a saúde do solo, avaliar a eficácia das práticas agrícolas e monitorar os impactos ambientais. Alguns desses indicadores são:

  • Biomassa microbiana do solo;
  • Nitrogênio mineralizável;
  • Respiração microbiana do solo;
  • Atividade enzimática;
  • Quociente metabólico.

Técnicas de análises identificam a presença de enzimas (beta-glicosidase e arilsulfatase) que participam do ciclo do carbono e do enxofre e que estão relacionadas a atividade biológica do solo.

Manejo para um solo saudável

Muitas práticas de manejo podem ser utilizadas para garantir um solo mais saudável, como também para melhores índices de produtividade. Essas práticas contribuem para o equilíbrio dos pilares químico, físico e biológico, que permitem que as plantas se desenvolvam em um ambiente mais favorável. Confira abaixo algumas dessas principais práticas agronômicas:

Rotação de culturas

Rotação de culturas

A rotação de culturas é uma prática agrícola que consiste em alternar diferentes culturas em um mesma área, durante um determinado período de tempo. Ela tem como objetivo melhorar a saúde do solo, reduzir a incidência de doenças e pragas, aumentar a produtividade e promover a sustentabilidade do sistema agrícola. Isso ocorre porque diferentes culturas têm diferentes necessidades nutricionais e impactos no solo, e a rotação permite que o solo se recupere e se beneficie dessas variações.

Cobertura vegetal no solo

Cobertura do solo no controle de plantas daninhas do café
Cobertura do solo no controle de plantas daninhas do café

Consiste no plantio de culturas ou plantas de cobertura para proteger o solo e manter a umidade, evitando a erosão e melhorando a sua estrutura e fertilidadeo. A cobertura vegetal pode ser composta de gramíneas, leguminosas ou outras plantas, e pode ser utilizada em conjunto com a rotação de culturas para promover ainda mais a saúde do solo e a sustentabilidade do sistema agrícola.

Cobertura morta

A cobertura morta ajuda a manter o solo protegido e sempre pronto para transplante ou semeio. Quando feita através de palhada, evita o impacto da chuva no solo. Já em épocas secas, ajuda a manter a umidade fundamental para o cultivo. Nessa técnica, a palhada é disposta sobre o solo para a realização do plantio. Isso pode ser feito de duas formas: pela importação de palhada ou através do cultivo de plantas de cobertura fornecedoras de palhada e seu manejo direto no local.

Cobertura morta
Cobertura morta

A cobertura morta mantém a superfície do solo sem formação de crosta endurecida, evitando a evaporação da água da chuva ou irrigação. Também reduz a erosão em solos inclinados, diminui a temperatura do solo no verão e economiza capinas devido à menor incidência de plantas daninhas.

Sistema plantio direto

É uma técnica de plantio que consiste na semeadura sem a necessidade de aração e preparo prévio do solo agregada a práticas conservasionistas do solo. O Sistema Plantio Direto (SPD) é o método mais conservacionista de trabalhar a terra para fins agropecuários. Caracteriza-se pela busca incessante da rentabilidade do sistema agrícola produtivo por meio da máxima expressão dos potenciais genético, edáfico e ambiental. A adoção deste sistema de manejo propicia a melhoria da qualidade de solo, água e ar, aumentando e estabilizando a renda da agropecuária.

Os princípios utilizados no SPD o diferenciam de semeadura direta ou plantio direto. Nestas formas de manejo cultivam-se sequências simples, compostas de espécies para formação de palha e da cultura comercial. No SPD preconiza-se o uso de práticas agronômicas integradas que viabilizam técnica e economicamente o contínuo semear ou plantar sem preparo prévio do solo, safra após safra, por tempo indeterminado.

Princípios do Sistema Plantio Direto

Fundamenta-se no preparo do solo apenas na linha ou cova de semeadura ou de plantio, na cobertura vegetal permanente do terreno e na diversificação de espécies, via rotação e/ou consorciação de culturas, com mínimo intervalo de tempo entre colheita e semeadura ou plantio. Sistemas de produção conduzidos em SPD propiciam menor uso de infraestrutura e força de trabalho humano, consomem menos energia fóssil, reduzem a erosão, exigem menores doses de corretivos e fertilizantes e favorecem o manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas.

Sistema de integração lavoura-pecuária e lavoura-pecuária-floresta

Integração lavoura pecuária floresta

Os sistemas de integração lavoura-pecuária e lavoura-pecuária-floresta são práticas que consistem em integrar diferentes atividades agrícolas-pecuárias em uma mesma área, visando promover a sustentabilidade do sistema agrícola e melhorar a saúde do solo. No sistema de integração lavoura-pecuária, culturas agrícolas são alternadas com pastagens para gado. No sistema de integração lavoura-pecuária-floresta, são adicionadas áreas de floresta, que promovem a cobertura vegetal e a proteção do solo, além de servirem como fonte de madeira, proteção da biodiversidade e áreas de sombra para os animais (bem-estar animal).

Biofertilização

Quando se pensa em produtos para a adubação relacionados à saúde do solo os biofertilizantes são a opção mais adequada. Os biofertilizantes são adubos produzidos de diversas maneiras e que utilizam ingredientes disponíveis na propriedade (como esterco, leite, caldo de cana, cinzas etc.) que podem ser enriquecidos com pó de rocha, microrganismos eficazes, entre outros. Existem soluções preparadas inovadoras de fertilizantes minerais para nutrição das plantas ao mesmo tempo que beneficia a saúde do solo na mesma aplicação.

Dois terços de todas as espécies vivas vivem no solo. O solo é a base da vida. Uma parte viva da crosta terrestre, o solo filtra a água da chuva para criar água potável nova e limpa. Não são as florestas, mas o solo que serve como o maior estoque de carbono do planeta depois dos oceanos. Sem o poder do solo, não haveria comida. Mais de 95% da nossa comida é produzida no solo. Toda cenoura, pão, bife, ovo e até leite contém nutrientes do solo. O solo é o maior patrimônio de um país. A Agenda 2030 da ONU para o Desenvolvimento Sustentável, adotada pela comunidade internacional em 2015, identifica a conservação do solo como um dos seus principais objetivos. É importantíssimo investir cada vez mais em técnicas que preservem a saúde do solo ao mesmo tempo em que garantam produtividade. Segundo a FAO, o manejo sustentável do solo pode levar a um aumento de até 58% na produção de alimentos contribuindo efetivamente para a segurança alimentar da humanidade.

Texto baseado em artigo de José Vitor Pizol – Zootecnista pela Universidade de São Paulo – USP e Mestre em Zootecnia pela Universidade de Lisboa – Portugal

O papel da matéria orgânica na saúde do solo - Livro "Saúde do Solo - Múltiplas perspectivas e percepções" - Maurício Roberto Cherubin & Bruna Emanuele Schiebelbein
Ilustração do Livro “Saúde do Solo – Múltiplas perspectivas e percepções”
Maurício Roberto Cherubin & Bruna Emanuele Schiebelbein

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