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Jumento – Fim do abate para evitar a extinção

Jumento, um patrimônio do nordeste

Segundo o IBGE, houve uma queda populacional de 38% desses animais entre 2011 e 2017 e a proibição do abate de jumentos não causará prejuízos nem afetará a economia brasileira de forma significativa

Existe hoje no Brasil um movimento que luta pela proibição do abate de jumentos (Equus asinus). Participantes de audiência pública na Câmara dos Deputados em Brasília defenderam a proibição do abate desses animais a fim de se evitar a extinção da espécie e a perda de parte da cultura nacional. A medida está prevista no Projeto de Lei 1973/22, que foi discutido no evento promovido recentemente pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados.

Em 2021, o Ministério da Agricultura divulgou que, em média, 6 mil jumentos eram abatidos por mês no Brasil. De acordo com o órgão, o principal motivo para o abatimento do animal é a produção de ejiao, uma espécie de gelatina fabricada com o couro do jumento para ser utilizada na medicina tradicional chinesa.

Ejiao, o colágeno do couro do jumento
Ejiao, o colágeno do couro do jumento
Jumento (Equus asinus)
Jumento (Equus asinus)

Jumento, asno e jegue são nomes regionais diferentes dados para exatamente o mesmo animal: o Equus asinus, uma espécie de “parente” do cavalo, famoso por sua grande resistência física.

A aceleração do processo de extinção dos jumentos prejudica a biodiversidade brasileira. O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, através da Secretaria Nacional de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais está trabalhando em parceria com o governo baiano para estabelecer um acordo e, a partir dele, produzir soluções para acabar com o abate desses animais.

A ideia é que se desenvolvam pesquisas na área de zootecnia celular, para se produzir um estoque de ejiao, o colágeno do jumento, que é a parte valorizada, sem a necessidade do abate. Hoje existe uma demanda anual de 4,8 milhões de peles de jumento. Isso equivale a um custo de 4 mil dólares cada pele.

Pilha de peles de jumento
Pilha de peles de jumento

Representantes da ONG The Donkey Sanctuary ressaltaram que a preservação dos jumentos ajuda a manter o equilíbrio biológico da fauna brasileira e, por isso, é preciso ter atenção com a falta de rastreabilidade desses animais.

Não é correto afirmar que o jumento nordestino causa um impacto negativo em ecossistemas nativos, pois existem estudos , inclusive em outros países, mostrando o contrário. Esses animais ocupam nichos ecológicos de espécies que foram extintas no final de uma outra era geológica, que é o pleistoceno. Os jumentos constituem novas teias ecológicas e preenchem esses nichos dentro da cadeia alimentar. Eles servem de alimento para animais e isso ajuda, inclusive, a reequilibrar ecossistemas que estão fragilizados.

De acordo com o IBGE, houve uma queda populacional de 38% entre esses animais entre 2011 e 2017.

Jumentos

Autor do pedido de realização do debate, o 2º vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente, deputado Célio Studart (PSD-CE), afirmou que a extração da pele dos jumentos para a produção de eijao não faz mais sentido, além de desrespeitar normas sanitárias.

Segundo ele, a humanidade está matando animais para algo que os dermatologistas já estão dizendo que não serve mais. As pessoas passaram muito tempo tomando colágeno para agora descobrir que funciona muito pouco.

Ainda segundo o parlamentar, o abate submete os jumentos a maus-tratos. Os animais são privados de água, alimento, abrigo e cuidados veterinários enquanto esperam pela morte.

A proibição do abate de jumentos, sustentou o deputado, não causará prejuízos ao erário nem afetará a economia brasileira de forma significativa.

Jumentos esperando a hora do abate
Jumentos esperando a hora do abate

De acordo com os especialistas ouvidos na reunião, os maus-tratos que os animais sofrem principalmente no transporte entre os estados brasileiros podem provocar uma série de doenças para as quais ainda não há vacinas.

Entre elas estão o mormo, uma enfermidade grave e contagiosa causada por bactéria e que atinge os equídeos, como cavalos, mulas, burros e jumentos. Outra moléstia comum a esses animais é a anemia infecciosa equina, provocada por um vírus, que não tem cura e é de fácil contaminação.

Essa contaminação pode acontecer por uma série de instrumentos (como agulha, arreio, freio e espora), não só por meio da picada de insetos. Os jumentos já vivem em condições precárias e ficam mais vulneráveis a infecções enquanto aguardam o abate.

Jumento carregando lenha
Jumento carregando lenha
Jumentos carregando toneis de água
Jumentos carregando tonéis de água

No Nordeste, os jumentos são tratados como animais domésticos. Eles ajudam a gerar renda para as famílias, como no transporte de cargas como capim e palma, e também na própria sobrevivência das pessoas, levando água.

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