Produtores investem em uvas orgânicas que está ajudando a recuperar um tipo de plantação que faz parte da paisagem do município e a desenvolver o enoturismo
Para superar o desafio de manter-se atrativa aos mais de 1 milhão de turistas que recebe por ano na Rota dos Vinhos (e informalmente das alcachofras também), a cidade de São Roque, no interior de São Paulo, abraçou a ideia de atender a um desejo bem específico do público: a produção de vinhos ecológicos, a partir de uvas cultivadas na região.
Do projeto que desde 2018 uniu cerca de 20 produtores de uva da região, Sindicato da Indústria de Vinho de São Roque (Sindusvinho), Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) Regional de São Roque e Instituto Federal de São Paulo (IFSP), nasceram rótulos de vinhos tinto, branco, claret e espumante, que já estão nas prateleiras. Mas entre os pedidos e a bebida na taça foi necessária muita pesquisa.
A produção dos novos rótulos foi possível após avaliação de quatro cultivares de uva para produção orgânica. Nos últimos seis anos foram avaliadas as variedades IAC 157 (desenvolvida pelo Instituto Agronômico de Campinas), Bordô, Isabel Precoce e BRS Lorena. Dessas, apenas a BRS Lorena não mostrou resultados positivos, e foi substituída peça IAC Ribas, desenvolvida especificamente na cidade.
Desde então, foram produzidos vinho tinto e suco da uva a partir da variedade bordô; um vinho claret (espécie de rosé com coloração mais intensa), desenvolvido pelo Instituto Federal a partir da variedade Isabel precoce; vinho branco e espumante a partir da IAC Ribas. A novidade fica por conta de vinho reserva produzido a partir da safra 2023, elaborado a partir do contato com chips de carvalho, sendo uma bebida licorosa, com aroma amadeirado, que resgata a tradição dos vinhos de São Roque. O cultivo da uva é feito sem agrotóxicos e está ajudando a recuperar um tipo de plantação que faz parte da paisagem do município. Nos últimos 40 anos, a cidade perdeu 90% dos vinhedos e a meta é mudar esse cenário.
Os produtores estão otimistas, pois estão conscientes de que a busca por alimentos agroecológicos é uma tendência que vem movimentando o mercado de alimentos e bebidas no mundo todo. Em São Roque não seria diferente. Essa atualização foi fundamental e as descobertas conquistadas já se mostraram bastante positivas. A cerca de 60 km da capital paulista, a cidade é a preferida por 13% dos paulistanos que são amantes do vinho, superando destinos internacionais como o Chile, com 11% de preferência. Com seu clima ameno e paisagens encantadoras, São Roque oferece uma variedade de experiências para os visitantes interessados em vinhos de qualidade e na atmosfera acolhedora do inverno.
Oferecendo uma infraestrutura completa para turistas, com visitas guiadas, degustações e restaurantes que servem pratos harmonizados com os vinhos locais, a região é famosa pelo seu clima ameno e suas paisagens pitorescas. Durante a estação mais fria do ano, São Roque se transforma em um verdadeiro refúgio para turistas em busca de tranquilidade, cultura e gastronomia refinada.
A BellaQuinta já produz dois rótulos de vinho tinto a partir das uvas agroecológicas. A produção anual varia entre 600 e 800 garrafas/ano e é elaborada com envelhecimento em ânforas de barro e barris de carvalho. Além da utilização das uvas oriundas de produção ecológicas, a empresa prioriza métodos de produção de vinhos com mínima intervenção humana, utilizando a fermentação a partir do uso de leveduras selvagens do próprio vinhedo. O objetivo é destacar ainda mais as características particulares das uvas.
A Vinícola XV de Novembro, fundada há mais de 60 anos, numa propriedade familiar de 12 alqueires, produz uvas e alcachofras. Investir no cultivo ecológico fez parte das estratégias de atualização nos negócios da vinícola. A vinícola produz um rótulo de espumante a partir da variedade IAC Ribas, com o método de fermentação Champenoise. A IAC Ribas é uma variedade de uva híbrida, fruto do cruzamento das variedades Syrah e Seibel, que tem o frescor de uva fina. Hoje são produzidas aproximadamente duas mil garrafas ao ano, mas já se preparando para aumentar a produção, com inserção de novo rótulo de IAC Ribas ainda este ano.
Os esforços para desenvolvimento de cultivares genéticos adaptados aos climas do Brasil e ao cultivo agroecológico estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). A proposta da iniciativa é promover a modernização dos pequenos e médios agricultores, a partir do desenvolvimento sustentável, que oriente sobre biodiversidade, conservação do solo e redução do uso de agroquímicos. Há também a conscientização e capacitação sobre gestão de energia, água e resíduos.
O sistema de plantio escolhido para produção das uvas agroecológicas em São Roque foi o espaldeira, com as mudas cultivadas em linha. Em algumas propriedades foram realizadas coberturas plásticas em arco, que protegem as folhas e frutas da umidade e do sol. Já para a proteção de pragas, a solução encontrada foi a homeopatia e uso do fungo Trichoderma, como forma de controle biológico. No espaçamento entre as parreiras, as plantas daninhas ajudam naturalmente a afastar os inimigos. Além dos resultados no controle de pragas, após tratamento com homeopatia, as uvas IAC Ribas tiveram produção de 1,1% a mais de álcool do que as testemunhas.
A Rota do Vinho de São Roque é formada pela Estrada do Vinho, Estrada dos Venâncios e Rodovia Quintino de Lima e está localizada a cerca de 60 km da cidade de São Paulo, acessível por duas rodovias: a Raposo Tavares e a Castelo Branco. Mais de 50 estabelecimentos fazem parte da Rota, entre vinícolas, pousadas e restaurantes. Além dos roteiros de enoturismo, os restaurantes investem também no cardápio com outra iguaria da cidade, a alcachofra.