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Plataforma de comércio eletrônico para o queijo mineiro

Queijo de Alagoa

Restam apenas algumas questões burocráticas a serem resolvidas para a plataforma de comércio começar a funcionar

Já reconhecido como iguaria pelo consumidor que frequenta os empórios de Minas, Rio de Janeiro e São Paulo, o queijo artesanal produzido em Alagoa (MG) chegou à era do marketplace. Graças ao apoio da pesquisa científica, o queijo e a região produtora foram caracterizados e, recentemente, receberam apoio técnico para ser vendido pela internet. Muitos queijeiros do município já vendem o produto dessa maneira, mas agora, como resultado do projeto “Queijo Artesanal de Alagoa, da tradição ao futuro – uma evolução mercadológica”, da Embrapa Gado de Leite, os queijeiros estão prestes a lançar a sua plataforma de e-commerce.

De acordo com a Associação dos Produtores de Queijo Artesanal de Alagoa (AproAlagoa), restam apenas algumas questões burocráticas a serem resolvidas para a plataforma começar a funcionar. Até lá, é possível conhecer os produtos no site da AproAlagoa, que também passou por uma remodelagem, outro resultado do projeto que a Embrapa coordenou.

Para a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), a expectativa é que a produção local venha a dobrar com a nova ferramenta de comércio. Dobrar a produção é algo que os produtores alagoenses já estão acostumados. Nos últimos cinco anos houve um aumento de 100% na fabricação de queijos da cidade. Isso se deve, em parte, à grande popularidade que o produto alcançou após conquistar prêmios nacionais e internacionais e se tornar pauta frequente de grandes veículos de comunicação.

As montanhas de Alagoa/MG
As montanhas de Alagoa/MG

Um dos desafios para atender ao aumento da procura é a topografia. As propriedades se localizam nas montanhas da Serra da Mantiqueira, com relevo desfavorável à mecanização. A solução tecnológica proposta pela Embrapa para enfrentar esse problema foi melhorar a qualidade da alimentação do rebanho. Para isso, foi introduzida na região a cultivar de capim-elefante BRS Capiaçu, já adotada em praticamente todas as fazendas do município. Com alta produtividade e qualidade nutricional, a forrageira apresenta elevado valor nutritivo, contribuindo para a manutenção da saúde e o aumento da produtividade das vacas.

Marketing digital para a agricultura familiar

O primeiro estudo realizado pela Embrapa Gado de Leite, voltado para a produção de queijo nas terras altas da Serra da Mantiqueira, foi a caracterização do ambiente (clima, relevo, água, solo etc.). Também foram identificados aspectos sociais e econômicos, levantando o perfil dos produtores, além da composição microbiológica associada à produção (água, leite, fermento, salmoura e queijo em diferentes estágios de maturação).

Esses estudos permitiram o reconhecimento e o estabelecimento dos regulamentos técnicos de Identidade e qualidade do queijo artesanal de Alagoa e da Mantiqueira de Minas. Como resultado, houve um substancial aumento da procura pelo queijo da região, demandando novas ações da Embrapa.

Queijos de Alagoa maturando
Queijos de Alagoa maturando

As ações relativas ao comércio eletrônico atenderam à demanda dos produtores associados da AproAlagoa. A Embrapa Gado de Leite elaborou um projeto propondo alternativas de comercialização do queijo utilizando plataformas digitais. Para tal, foi desenvolvido um site institucional e uma interface gráfica da plataforma e-commerce a serem administrados pela associação e disponibilizados aos produtores e consumidores.

Entre as atividades do projeto estava também reformulação do layout do site da associação e a elaboração de um plano de marketing digital para a venda do queijo, que exigiu a aplicação de questionários junto aos produtores para se conhecer os “compradores” do produto (varejistas, intermediários e consumidores finais), o volume de venda para cada segmento, o tempo de relação comercial com o canal de comercialização, as formas de pagamento acordadas etc. O objetivo final foi encurtar a cadeia de venda e possibilitar o aumento da renda dos produtores.

Produção familiar

O município mineiro de cerca de 3 mil habitantes, localizado nas terras altas da Serra da Mantiqueira, produz, em média, três toneladas de queijo por dia. A produção é toda familiar, oriunda de 138 queijeiros, trabalhando em pequenas fazendas de 20 hectares, em média. O negócio passa dos pais para os filhos e há um grande número de jovens queijeiros entrando na atividade. O preço do queijo melhorou muito e a expansão que a plataforma de e-commerce irá promover tem entusiasmado os produtores.

Queijo capa preta de Alagoa
Queijo capa preta de Alagoa

A nova geração de queijeiros está entusiasmada, apostando no crescimento da procura pelo produto e investindo em novas instalações de produção como estábulos free-stall (tecnologia para vacas em sistema de confinamento). Segundo os produtores, o segredo do sucesso é investir em tecnologia e citam com destaque as ações da Embrapa como uma das responsáveis pelo sucesso do queijo de Alagoa. Desde que os pesquisadores da instituição passaram a acompanhar e a sugerir melhorias na produção, o negócio foi melhorando bastante.

100 anos de história e inspirado no queijo de Parma

O queijo alagoense tem mais de um século de tradição. A fabricação de queijos surgiu na cidade por volta dos anos 20 do século passado, quando um italiano de nome Paschoal Poppa apareceu por lá e abriu o primeiro laticínio. Poppa viu no queijo curado, característico da região de Parma, na Itália, o produto ideal para aquela região no alto das montanhas, cujo clima lembrava o do seu país. Por ser um tipo de queijo menos perecível, o produto se adequava aos períodos de chuva, quando a cidade ficava isolada. O queijo era transportado no lombo de burros, em formas de bambu, e no período chuvoso ficava praticamente impossível descer pelas precárias estradas da região, levando a produção aos mercados urbanos.

Processo de fabricação do queijo Alagoa
Processo de fabricação do queijo Alagoa

Apesar das adversidades, o negócio foi prosperando. Poppa trouxe um queijeiro de fora do município para trabalhar no laticínio. Esse queijeiro acabou se casando com a filha de um “coronel” da região, de nome Porfírio Mendes Filho, que, por influência do genro, investiu na abertura de cinco laticínios. Os agricultores da região migraram para a pecuária de leite, atendendo à demanda das queijarias. Passado algum tempo, os grandes laticínios fecharam, mas os pecuaristas já haviam assimilado a cultura das queijarias, passando a produzir, eles mesmos, o próprio queijo. É nessa época que o fermento, o que dá o sabor diferenciado do queijo da região, segundo os alagoenses, foi compartilhado entre os produtores, tornando Alagoa conhecida como “a terra do queijo parmesão”.

Tal denominação, no entanto, é incorreta. Parmesão é um tipo de queijo italiano, com Denominação de Origem Protegida (DOP). Para ser considerado “parmesão”, o queijo tem que ser produzido nas regiões de Parma, Régio da Emília, Módena, Bolonha ou Mântua, tradicionais polos queijeiros italianos. Iniciando o seu segundo século na era do marketplace, o produto alagoense tem conquistado prêmios e o nome pelo qual será conhecido nos próximos séculos: “o queijo de Alagoa”.

Apoio da pesquisa e da extensão rural

A Embrapa Gado de Leite e a Emater-MG atuam em conjunto há cerca de uma década para que o queijo de Alagoa siga para além das montanhas da Serra da Mantiqueira. O primeiro passo foi caracterizar o sistema de produção dos queijos. Os pesquisadores da Embrapa selecionaram produtores, identificando-os do ponto de vista econômico e social. Foi traçado o perfil do produtor alagoense e resgatados os aspectos históricos e culturais da produção do queijo no município.

Fatias do queijo de Alagoa
Fatias do queijo de Alagoa

Também foram feitas diversas análises, que envolveram o solo e a água da região (aspectos físicos, químicos e microbiológicos), a alimentação das vacas e as características do leite e do queijo. Essas informações são exigências do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) para a regulamentação do queijo artesanal. O trabalho da Embrapa e da Emater-MG também foi útil para que a Prefeitura de Alagoa concedesse aos produtores o Selo de Inspeção Municipal (SIM). Atualmente, a Emater-MG e a Embrapa atuam para que o queijo alagoense obtenha a indicação de procedência, como ocorre com os queijos do Serro e Canastra. Isso dará uma identidade geográfica ao queijo, como ocorre com importantes produtos reconhecidos mundialmente, como o Champanhe, da região Champanhe na França; o vinho Bordeaux, na região francesa de mesmo nome e o presunto Parma, da mesma região italiana de onde vem o queijo parmesão.

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