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Exportação de grãos da Amaggi

Baixa transparência nos dados de grandes empresas do agronegócio sobre resultados de suas ações é um dos problemas detectados

Dados da organização Global Canopy compilados anualmente no projeto Forest 500 revelam que boa parte dos principais produtores e tradings do mundo de commodities agrícolas consideradas “críticas” para o desmatamento já tem alguma meta para acabar com o problema em suas cadeias, mas, até o fim do ano passado, muitas ainda estavam distantes de parâmetros internacionais, e a maioria ainda pecava pela falta de transparência sobre o cumprimento dos objetivos.

No final de 2020 apenas 13% das 76 empresas que lideram a produção ou comércio de carne bovina, palma e soja no mundo divulgavam a implementação de ações que representam ao menos metade das medidas estabelecidas por parâmetros internacionais. Além disso, 34% das empresas sequer possuíam compromissos ligados ao combate ao desmatamento.

Rebanho bovino

Dentre outras cadeias produtivas do setor, as cadeias de carne, palma e soja foram as três maiores responsáveis pelo desmatamento global entre 2001 e 2015, segundo o World Resources Institute (WRI).

Essa análise do Forest 500 considera as empresas que representam a maior parte do comércio de commodities agrícolas e se baseia em parâmetros internacionais como o Accountability Framework, um “guia” para a adoção de compromisso ambientais corporativos. As empresas recebem notas conforme seus compromissos, o grau de divulgação e implementação de medidas e aspectos sociais.

Na avaliação sobre a força dos compromissos ambientais, 27 das 76 empresas dessas cadeias ficaram com pontuação acima de 50% e 23 apareceram abaixo desse patamar. Outras 26 empresas não pontuaram, o que significa que elas não tinham meta alguma para acabar com o desmate em suas cadeias.

Produção de óleo de palma

Em relação à transparência, 29 empresas não pontuaram, 37 tiveram pontuação abaixo de 50% e apenas dez delas (ou 13% do total) ficaram acima de 50%. Das que tiveram melhor desempenho, nove são da cadeia de óleo de palma e respondem por cerca de 10% da produção global do óleo. A outra integrante do grupo é a brasileira Amaggi, que produz e vende em torno de 10 milhões de toneladas de soja ao ano. A empresa teve nota 67%, a maior entre as 76 analisadas.

Por serem de 2020, os dados ainda não refletem metas anunciadas neste ano, como as de empresas de carne bovina. A tendência é de melhora, mas o avanço não está ocorrendo rápido o suficiente segundo os analistas da área de desempenho corporativo da Global Canopy. Mesmo entre as empresas que têm metas e divulgam informações, ainda existem lacunas. Geralmente o relatório existe, mas não quantificável, faltando transparência, com dados e volumes.

Outro problema é o direcionamento das ações a alguns biomas, e não a todos os ecossistemas impactados. A implementação das medidas e as datas de corte (aceitáveis para a ocorrência de desmatamento) podem depender do bioma, mas ainda segundo os analistas, é preciso haver compromisso em todo o fornecimento.

Colheita de algodão em área da Amaggi

A definição de uma data de corte até a qual o desmatamento legal é “aceitável” na cadeia é uma das principais polêmicas nas discussões com as empresas. O guia recomenda que as empresas adotem uma data de corte equivalente ao ano de elaboração da política. Porém, as empresas vêm estabelecendo datas futuras.

Outro ponto crítico nas políticas corporativas são os compromissos com recuperação ambiental. Os anúncios de investimentos em regeneração feitos até o momento ainda são pequenos para o tamanho do problema e precisam ganhar escala.

Para a WWF-Brasil, as empresas já passaram por uma primeira fase, a de assumir compromissos globais, e estão atravessando uma segunda, de determinar e trabalhar para que as metas sejam implementadas, assim não têm mais desculpa para dizerem que não dá para fazer. Há desafios, mas existe uma curva de aprendizagem que já foi superada.

As empresas precisam entrar agora em um terceiro momento, o de entregar ao mercado produtos sem desmatamento. Para isso, é necessário os “acordos verdes” com as empresas do varejo e garantias de compras sustentáveis. Isso já pode existir, mas não está documentado nem quantificado.

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