Manejadores da Reserva de Mamirauá terão sistema de rastreabilidade do pirarucu para impulsionar a comercialização do pescado
Uma das principais fontes de renda das populações tradicionais da região do Médio Solimões, o manejo do pirarucu (Arapaima gigas), peixe denominado de gigante da amazônia, nativo da região, terá um protocolo próprio de rastreabilidade visando aumentar o valor recebido pelos extrativistas, através do projeto “Sistema de rastreabilidade: inovação e inteligência de mercado na cadeia produtiva do pirarucu da RDS Mamirauá”.
O projeto surge a partir da necessidade de melhorar a renda dos pescadores. Anualmente, os manejadores têm validação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que permite o início das atividades de manejo sustentável do pirarucu. O manejo acontece por meio de monitoramento dos lagos (vigilância), atividade de inventário pesqueiro, despesca, além do beneficiamento até a etapa de comercialização. A venda é realizada tanto a compradores locais como para os frigoríficos da região.
Segundo estudo realizado pela Universidade de Notre Dame em 2019, apenas 15% dos lucros com a venda do pirarucu beneficiam diretamente os manejadores locais, enquanto 30% ficam com atravessadores e 50% com frigoríficos da região. Essa concentração desigual de ganhos na cadeia produtiva do pirarucu realça a necessidade de intervenções positivas que promovam uma distribuição mais justa dos benefícios econômicos. O objetivo do projeto é elaborar e aplicar tecnologias direcionadas aos processos de rastreabilidade de origem do produto, visando aprimoramento, inovação na gestão do negócio e plano de comercialização para inteligência de mercado.
Liderado pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), o projeto beneficiará 55 manejadores das comunidades Mangueira, Catiti e Jussara, todas situadas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, responsável por mais de 70% da produção de pirarucu no estado do Amazonas.
Dentre as etapas do protocolo de rastreabilidade estão a vigilância e proteção territorial do habitat do pirarucu e a contagem de indivíduos nos meses que antecedem sua captura para posterior identificação numérica de cada peixe capturado. Os lacres usados para identificar os animais precisarão ser produzidos por empresa licenciada pelo Ibama, órgão que autoriza a pesca de apenas 30% da população de peixes previamente contabilizada pelos ribeirinhos. Os cortes já beneficiados enviados para comercialização, receberão um QR Code com as informações de procedência do produto. A venda é realizada tanto a compradores locais como para os frigoríficos da região.
Com execução de 18 meses, o projeto recebeu R$ 3,5 milhões da Positivo Tecnologia via Programa Prioritário de Bioeconomia (PPbio), política pública coordenada pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam). Além da rastreabilidade, também estão previstas ações de treinamento em boas práticas de manejo junto à comunidade para a contagem, monitoramento e pré-beneficiamento dos peixes. Essa capacitação vai garantir a sistematização da retirada dos peixes dos lagos e sua distribuição para a salgadeira, apoiando a digitalização do rastreio dos peixes ainda nos lagos e proporcionando digitalização dos dados e, dessa forma, contribuir para o aumento de renda de 45 famílias ribeirinhas.
Além disso, o projeto inovador pretende beneficiar também a unidade produtiva de beneficiamento da Salgadeira Cabocla do Pirarucu, situada no município de Fonte Boa (distante a 864,3 Km de Manaus). A salgadeira é a unidade de beneficiamento onde acontecem os processos de salga, secagem natural, defumação e aproveitamento de subprodutos como pele e carcaça. Com o sistema de rastreabilidade, por meio da tecnologia blockchain, que permite que dados e transações sejam registrados, verificados e compartilhados de maneira segura e transparente, será possível acompanhar toda a trajetória do pescado, desde a origem até a chegada aos restaurantes e hotéis, buscando aumentar a confiabilidade de origem, segurança sanitária e proporcionar benefícios econômicos mais justos.
Cadeia produtiva
O manejo do pirarucu possibilita diferentes formas de aproveitamento. Além da comercialização da carne, seus subprodutos podem alcançar valores elevados, a partir da venda da pele do pescado, por exemplo, que resulta em couro para tecidos, sapatos, bolsas e acessórios. Dessa forma, os manejadores conseguem alcançar renda por meio de canais de comercialização. Além de promover a geração de empregos diretos e indiretos, fortalecendo ainda mais a competitividade da região no mercado de produtos derivados do pirarucu.
A rastreabilidade confere aos manejadores do pirarucu o empoderamento, por meio da tecnologia, pois permite conferir segurança e confiabilidade da origem para quem compra e melhor retorno financeiro para quem comercializa o pescado.