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Fauna – Caranguejo uçá

Caranguejo uçá (Ucides cordatus)
Caranguejo uçá (Ucides cordatus)
Caranguejo uçá (Ucides cordatus)

CARANGUEJO UÇÁ (Ucides cordatus)

Características – crustáceo de grande porte, sendo um dos maiores caranguejos que habitam os manguezais do litoral brasileiro. Tem 10 pernas articuladas, ou seja, com juntas moles, de cor arroxeada providas de grandes cerdas rijas na face interna. O primeiro par de patas é bem desenvolvido e forte, terminando numa garra ou pinça (puã), servindo para alimentação, defesa e atração da fêmea. Com as patas distendidas, ele alcança 30 cm de envergadura. Como todo artrópode, realizam mudas (trocas de carapaça) para o crescimento do indivíduo. Apresenta carapaça calcária inflada lateralmente, com coloração que varia entre o azul, verde, amarelo e branco. Apresentam dimorfismo sexual: os machos possuem abdome em forma de “t” invertido e as fêmeas, abdome arredondado. Os machos desta espécie podem alcançar cerca de 70 e 89 mm de comprimento e largura da carapaça, respectivamente, e as fêmeas 54,5 e 65 mm. Como os outros artrópodos, realizam troca da carapaça (muda ou ecdise) para o crescimento do indivíduo.

Habitat – manguezais.

Ocorrência – todo o Atlântico Ocidental. No Brasil, do Pará à Santa Catarina.

Manguezal
Manguezal
Ocorrência geográfica
Ocorrência geográfica
Uçá na entrada de sua toca
Uçá na entrada de sua toca

Hábitos – vivem em substrato arenoso ou lodoso onde escavam tocas ou podem refugiar-se entre fendas. Suas tocas na lama são cobertas pela maré alta e ficam à mostra na maré baixa. Durante a maré alta refugiam-se em tocas e na maré baixa saem em busca de alimento. Escavam e mantém a limpeza de suas próprias tocas. Essas tocas têm de 0,5 a 1,8 m de profundidade a depender da região e da época do ano e são habitadas por um único animal, sendo pronunciado o territorialismo da espécie. Raramente o uçá entra em uma galeria que não a sua própria, e se isto ocorre, o invasor é imediatamente expulso. Assim como outros caranguejos do mangue, apresenta grande importância ecológica. A atividade escavadora proporciona oxigenação e drenagem do sedimento. Também são animais assustados, qualquer movimento nas proximidades os afugenta para suas galerias. Além da andada de reprodução, o Ucides cordatus realiza uma andada para muda (ecdise), entre setembro e novembro. Constantemente ouve-se falar que os caranguejos estão magros nos meses com “r” e gordos nos meses sem “r”. Isto se dá pelo fato dos meses com “r” coincidirem com o pico de alimentação e engorda e os meses sem “r”, com o período da muda, momentos em que os animais gastam muita energia e não se alimentam. Eles não se expõem, no período após a muda, quando seu exoesqueleto ainda não se encontra enrijecido, para enfrentar os predadores.

Alimentação – são onívoros, alimentando-se de tudo. Sua dieta é constituída principalmente por matéria vegetal (folhas em decomposição, frutos e sementes das árvores do mangue), contribuindo para a aceleração da reciclagem dos nutrientes, mas alimenta-se também de outros invertebrados, como crustáceos e moluscos. Podem comer também fungos que crescem nas folhas de mangue, após estas serem transportadas para o interior da toca.

Uçá com suas pinças arqueadas
Uçá com suas pinças arqueadas
Dimorfismo sexual
Dimorfismo sexual

Reprodução – quando chega o momento da reprodução, que se dá nos meses mais quentes do ano (de dezembro a abril, dependendo da região), os animais deixam suas tocas em busca de parceiro para a cópula e/ou realizar a desova e desta forma se tornam presas fáceis não só para os catadores, mas também para pessoas que usualmente não realizam a captura destes crustáceos. Este fenômeno, ainda muito pouco investigado cientificamente, é conhecido como “andada”, “carnaval” ou “corrida” do caranguejo. Nas andadas os machos e fêmeas saem de suas tocas e andam pelo manguezal para se acasalarem e as fêmeas liberarem os ovos. Os machos, que têm porte maior, lutam entre si e perseguem as fêmeas para a cópula. A fêmea do caranguejo, após a cópula, armazena os espermatozóides no receptáculo seminal, que libera seus óvulos, ocorrendo então a fecundação. Ela põe dezenas de milhares de ovos muito pequenos e coloração avermelhada. Os ovos são carregados, após a postura, nas patas do abdome, que tem formato arredondado e pode ser observado na região ventral (embaixo do corpo do animal – bolsa ovígera). As fêmeas ovadas migram em direção à água, onde ocorre o nascimento das larvas denominadas zoeas, que seguem para o mar e, após passarem por uma fase de crescimento rápido e metamorfose, retornam para o mangue, onde continuarão crescendo e atingirão a maturidade sexual em 10 a 12 meses. A mortalidade na fase larval é muito elevada.

Andada do caranguejo uçá
Andada do caranguejo uçá
Fêmea com ovas
Fêmea com ovas

Ameaças – é a espécie mais procurada para alimentação humana. Sua carne é muito apreciada e é comum observar o comércio desta espécie principalmente no litoral. É de grande importância sócio-econômica no Norte/Nordeste do Brasil pois, além de ser um recurso de subsistência, sua captura constitui a única fonte de renda de inúmeras famílias. A captura predatória, associada à falta de uma fiscalização efetiva, à degradação dos manguezais e ao desrespeito das leis ambientais, são fatores que têm sido responsáveis pela redução acentuada das populações do caranguejo-uçá nos últimos anos. Hoje, a espécie encontra-se ameaçada de extinção. Visando proteger o uçá durante seu período reprodutivo, foram instituídas normas para proteção da espécie com restrições de captura e estaberlecimento de períodos de defeso através de duas portarias: Portaria IBAMA N° 52, de 30 de setembro de 2003 e Portaria SAP/MAPA Nº 325, de 30 de dezembro de 2020 para os estados do Amapá, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, durante o período de andada de 2021 a 2024.

Caranguejos capturados
Caranguejos capturados
Caranguejos uçás capturados ilegalmente apreendidos por agentes do Ibama
Caranguejos uçás capturados ilegalmente apreendidos por agentes do Ibama

Estudos sobre o caranguejo-uçá, especialmente sobre sua reprodução, devem ser incentivados e acelerados, sobretudo no Norte e Nordeste do Brasil, onde o consumo em algumas capitais é elevado e o volume de informações sobre sua biologia é escasso. Os resultados destes estudos, somados ao conhecimento empírico dos catadores, serão fundamentais para a criação de leis protecionistas para o uçá nestas regiões. De um caranguejo, as partes com mais carne são as patas da frente, terminadas em pinça. O resto do bicho é quase todo descartado. Quando catavam caranguejos, os povos da floresta retiravam-lhes só a pinça. Como qualquer crustáceo, a pata regenera e o bicho não é sacrificado. Assim, nunca faltaria caranguejo no mangue. O problema é que o corte deve ser feito na articulação junto à base e, na maioria das vezes, o apêndice é retirado sem nenhum cuidado, danificando estruturas respiratórias ligadas à pinça e causando a morte do animal. Seria injusto dizer que somente a pesca indiscriminada é responsável pela diminuição dos estoques dos crustáceos. O aterro dos mangues, as indústrias que lançam o esgoto nos rios e o desmatamento contribuem para a quebra da cadeia alimentar, expulsando e eliminando espécies.

Caranguejo na redinha
Caranguejo na redinha
Caranguejos presos nas redinhas
Caranguejos presos nas redinhas

Outro problema que contribui para a queda da população de uçás e a técnica polêmica conhecida como “redinha”, que utiliza fibras de saco de rafia como armadilha para enredar os caranguejos na entrada das tocas. A redinha é uma armadilha mais produtiva e mais fácil de ser utilizada. Apesar de simples, a armadilha é implacável na captura de um dos frutos do mar mais populares e cobiçados. Nada escapa: caranguejo grande, pequeno, caranguejo-fêmea, caranguejo-fêmea-ovada. Quando a armadilha é posta, o crustáceo que tentar sair da galeria, fica, literalmente, enganchado nos fios de nylon, e não sai mais. Esse método, embora proibido, vem sendo utilizado com bastante freqüência, acarretando três tipos de problemas:

  1. não seleção das presas, capturando fêmeas ovadas e “caranguejos de leite” (quando realizam a muda), pois, quando o catador usa o braço ou o tampão, não retira da lama essas formas de caranguejo, enquanto a redinha não seleciona as presas;
  2. poluição provocada pelas redinhas não recolhidas, visto que os catadores chegam a espalhar por dia mais de 100 e, nem sempre, têm tempo de voltar a todas elas, e os caranguejos presos na armadilha acabam devorados pelos predadores naturais, lontras, guaxinins e gaviões, e os emaranhados de fios ficam no ambiente por muito tempo. Essas redinhas muitas vezes vão parar no estuário, onde podem ser comidas por tartarugas ou aves e assim são nocivas até fora do manguezal;
  3. a redinha, a forma de captura mais usada pelos não profissionais, também é uma fonte de impacto na vegetação pela quebra de ramos no manguezal para extrair gravetos que mantém a armadilha aberta e no momento de fixar a rede na entrada da toca.

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