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Sustentabilidade – Neonicotinóides podem extinguir 200 espécies de abelhas

Abelha coletando néctar

Os produtos estão dizimando as populações deste inseto polinizador, que é peça-chave para a segurança alimentar

Três dos inseticidas neonicotinoides mais usados estão colocando mais de 200 espécies ameaçadas de extinção em risco de extinção, de acordo com uma nova análise divulgada pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA).

A análise da EPA mostra que clotianidina, tiametoxam e imidaclopride estão exacerbando os riscos de extinção de uma série de espécies ameaçadas, incluindo peixes, pássaros e invertebrados ameaçados de extinção, bem como insetos polinizadores e as plantas que eles polinizam. Os inseticidas neonicotinóides colocam em risco espécies icônicas e/ou seus habitats, incluindo o grou-coque, o morcego de Indiana, a tartaruga Plymouth redbelly, a borboleta azul de Karner, a espora amarela e muitas outras.

O anúncio da EPA baseia-se em suas avaliações emitidas há mais de um ano, concluindo que esses inseticidas neonicotinóides estão causando danos significativos à maioria das espécies ameaçadas de extinção de nossa nação. “Hoje a EPA confirmou o que alertamos há anos – esses inseticidas neonicotinóides representam uma ameaça existencial para muitas espécies ameaçadas e prejudicam seriamente a biodiversidade”, disse Sylvia Wu, advogada sênior do Centro de Segurança Alimentar.

Abelha coletando pólen

Bill Freese, diretor de ciência do Centro de Segurança Alimentar, disse: “Embora recebamos as ações atrasadas da EPA sobre esse assunto, estamos examinando de perto a análise da agência para determinar se ainda mais espécies são ameaçadas por esses inseticidas incrivelmente potentes e onipresentes”. Freese acrescentou: “Até agora, a EPA deu passe livre para os neonicotinoides revestidos de sementes de milho e outras culturas – que representam de longe seu maior uso – que tornam as mudas tóxicas para polinizadores e outros insetos benéficos. Também devemos lembrar que nossas agências especializadas em vida selvagem – o US Fish and Wildlife Service e o National Marine Fisheries Service – têm a palavra final sobre este assunto e podem descobrir que os neonicotinoides colocam ainda mais espécies em risco de extinção”.

No Brasil

Os neonicotinoides são uma classe de inseticidas derivados da nicotina e foram usados pela primeira vez comercialmente na agricultura na década de 1990. São aplicados contra uma grande variedade de pragas como os pulgões, besouros e cupins, além de agir em diferentes tipos de larvas que se alimentam das raízes das plantas.

No Brasil, os ingredientes ativos da classe dos neonicotinoides registrados para uso agrícola são: o Acetamiprido, a Clotianidina, o Imidacloprido, o Tiacloprido e o Tiametoxam.

Pulverização aérea

Atualmente, o uso de neonicotinóides está autorizado no Brasil em mais de 40 culturas para o controle de pragas, sendo utilizado em cultivos economicamente importantes como o algodão, arroz, cana-de-açúcar, citros, feijão, fumo, milho, soja e trigo. O produto pulverizado por avião ou trator mata tudo quanto é inseto, não só as pragas específicas que atacam as lavouras. O produto acaba se espalhando pelo ar e se depositando nas flores, onde as abelhas coletam o néctar. Parte delas morre na porta da colmeia, o restante não dá conta nem de chegar à colmeia.

Entre 2008 e 2010, Osmar Malaspina, do Centro de Estudos de Insetos Sociais da UNESP em Rio Claro, pesquisou a perda de 10 mil colmeias de Apis mellifera (abelhas africanizadas, com ferrão), mortas por inseticidas na região de Rio Claro. Seus resultados mostraram que em cerca de mil havia vestígios de neonicotinoides. Na região, os fazendeiros lutam contra o “greening”, doença dos laranjais cujo vetor é um pequeno inseto controlado com pulverizações aéreas ou feitas diretamente na planta. Outro agravante foi a proibição da queimada nas plantações de cana. O fogo, que antes afastava qualquer tipo de praga, foi substituído por agrotóxicos.

Abelhas mortas

Se a contaminação é por pulverização aérea, geralmente as abelhas morrem imediatamente. Em doses menores, elas não sucumbem de imediato, mas têm problemas para se orientar espacialmente. Além disso, podem tornar-se mais vulneráveis a vírus que arrasam as colmeias. O mel também pode acabar contaminado.

A suspeita de que os neonicotinoides podem causar mortandade em abelhas em curto ou longo prazo é antiga. A dificuldade maior é comprovar a causa da morte, uma vez que os apicultores não sabem como encaminhar as amostras para os laboratórios. Os pesquisadores sugerem que seja feita uma documentação fotográfica das colmeias e que os apicultores registrem boletim de ocorrência caso queiram entrar na justiça, quando acreditarem que a causa pode ser a aplicação de inseticida.

Lembramos que as abelhas são responsáveis por pelo menos 70% da polinização
das culturas que servem à alimentação humana. Seu desaparecimento
levaria a perdas de mais de 200 bilhões de dólares por ano.

A perda dos insetos se agrava no país com a derrubada das florestas e as queimadas, que afetam o desenvolvimento das colônias de abe­lhas nativas, muitas delas ainda desco­nhecidas e não adaptadas ao manejo. A extinção dessas abelhas pode causar um problema ecológico de grandes propor­ções, uma vez que são responsáveis pela polinização de parte das plantas nativas de diferentes biomas.

Mamangava com pólen no corpo

Para entender melhor o fenômeno e a importância dos insetos polinizadores para a agricultura no Brasil acesse o e.book “Guia ilustrado de abelhas polinizadoras no Brasil” CLICANDO AQUI. A publicação é o primeiro documento em português que aborda o conhecimento sobre polinizadores tanto em áreas naturais como em agroecossistemas.

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