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Sustentabilidade – Muvuca: a ”bagunça” que contribui para sustentabilidade, renda e fortalecimento de comunidades tradicionais

Sementes coletadas para muvuca

Muvuca: bagunça, confusão, tumulto.

Mas o significado da Muvuca encontrado em dicionários vai muito além. Para o meio ambiente, muvuca significa restauração.

A ‘Muvuca’ é uma mistura de sementes de diversas espécies arbóreas com adubação verde para recuperar áreas degradadas. Foi batizada assim porque é uma mistura de tudo. E a eficácia é incontestável.

A técnica vem sendo testada em fazendas e os frutos alcançados são evidentes num prazo bem menor do que outras técnicas já implementadas. Além de acelerar a restauração da vegetação, a Muvuca permite gerar renda para as comunidades que têm papel fundamental na coleta das sementes, resultados esses totalmente alinhados com os compromissos socioambientais de um empreendimento.

Segundo Lara Aranha da Costa, técnica em restauração ecológica do Instituto Socioambiental (ISA), por meio da Muvuca são plantados entre 60 kg e 70 kg de sementes por hectare. Mas isso depende da área: se estiver muito degradada, a quantidade aumenta.

Sementes sendo preparadas (Fonte - Andre Dib)
Sementes sendo preparadas (Fonte – Andre Dib)
Sementes sendo preparadas para a muvuca

A palavra muvuca é de origem indígena que significa mistura. A técnica recebe o nome por causa da diversidade que tem por trás de toda essa cadeia, tanto de quem coleta quanto das sementes utilizadas no plantio.

Muvuca: impacto social e diversidade

Além do impacto ambiental, a Muvuca é uma ferramenta poderosa de geração de renda para povos originários e comunidades tradicionais. Somente a Rede de Sementes do Xingu, associação de base comunitária que organiza os grupos coletores e fornece sementes para projetos de restauração, tem aproximadamente 600 coletores. Isso inclui indígenas de seis povos, sendo cinco do Xingu e o povo Xavante de dois territórios. E 80% são mulheres.

Milene Alves, 24 anos, é um exemplo de melhoria de vida proporcionada pela coleta de sementes. O maior incentivo veio de casa: a mãe, Vera Alves da Silva Oliveira, 52 anos, também é coletora.

Indígenas coletores de sementes
Indígenas coletores de sementes

Depois de muitos anos trabalhando como empregada doméstica, Vera mudou de profissão e com os ganhos obtidos no trabalho com a coleta e venda das sementes conseguiu ter uma casa própria, um carro, uma moto.

“E tudo com dinheiro da semente”, destaca Milene, que começou na Muvuca inicialmente por curiosidade e para ter uma renda extra. Ao longo do tempo, o envolvimento trouxe novas perspectivas.

Comecei a aprender e a entender o valor de uma árvore, consegui ver o que era uma árvore. Nunca tinha parado para observar uma flor, um fruto, se iria vingar ou não. Com o trabalho da Rede de Sementes, decidi fazer biologia na Unemat”.

E Milene não parou na graduação. Ela também entrou no mestrado, com uma pesquisa que estuda os efeitos das mudanças climáticas nas sementes da Rede.

“A gente quer que as nossas árvores estejam aqui no futuro”, diz a jovem, que é casada com um coletor e mãe de uma menina de 2 anos.

O caminho da semente

O trabalho da Rede de Sementes do Xingu é sob demanda e consiste na coleta de sementes nativas de 120 espécies, em territórios urbano e rural, a fim de restaurar áreas do Cerrado e da Amazônia. Ou seja, quando o coletor vai a campo, a semente já está encomendada: ele só coleta para uma venda já garantida.

Depois de coletada, a semente passa por beneficiamento e é distribuída nas chamadas Casas de Sementes. Ao todo, são três centrais em Canarana, Porto Alegre do Norte e Nova Xavantina. Nesses espaços, ficam armazenadas sob temperatura entre 18ºC e 20º e umidade de 25% a 50%, condições ideais para que se mantenham conservadas.

Plantio direto mecanizado (Fonte - Fernando Tatagiba/ICMBIO)
Semeadura direta mecanizada (Fonte – Fernando Tatagiba/ICMBIO)

Etiquetadas e separadas, as sementes ficam, em média, seis meses na Casa de Sementes, de onde vão para as áreas de plantio. Cada cliente tem uma lista de plantio específica, baseada num estudo técnico que diz quais espécies serão restauradas.

O trabalho conta ainda com parceria da Unemat (Universidade do Estado de Mato Grosso). No campus de Nova Xavantina funciona um dos laboratórios da instituição, que produz os laudos para comercialização.

“A gente analisa aspectos fisiológicos, sanitários e genéticos. E compartilhamos os resultados com os coletores para que eles possam coletar e entregar sementes de melhor qualidade. No laboratório também são feitas as análises de pureza, testes de germinação e testes de emergência”, resume Rodrigo Esperon Reis, doutor em Agronomia-Fitotecnia.

Situação inicial: exemplo de área degradada com alta predominância de capim exótico superdominante (Fonte Embrapa)
Situação inicial: exemplo de área degradada com alta predominância de capim exótico superdominante (Fonte Embrapa)
Situação da área na implantação: semeadura direta de semente de nativas (manual, mecanizada ou ambas) e proteção das áreas com cercamento (Fonte Embrapa)
Situação da área na implantação: semeadura direta de semente de nativas
(manual, mecanizada ou ambas) e proteção das áreas com cercamento (Fonte Embrapa)
Resultados esperados em 2 anos: a estrutura da vegetação florestal deverá
ser de muitos troncos finos (varetal). Alguns indivíduos de árvores de crescimento
lento poderão ficar bem pequenos, enquanto espera-se que os indivíduos das espécies de cobertura possam apresentar copa intensa e fechada (Fonte Embrapa)
Resultados esperados em 2 anos: a estrutura da vegetação florestal deverá
ser de muitos troncos finos (varetal). Alguns indivíduos de árvores de crescimento
lento poderão ficar bem pequenos, enquanto espera-se que os indivíduos das espécies
de cobertura possam apresentar copa intensa e fechada (Fonte Embrapa)
Resultados esperados em 10 anos: a vegetação já apresenta características
de vegetação secundária e não necessita de manejo para seguir seu rumo em
sentido à vegetação madura.Regenerantes originados da chuva de sementes do
próprio plantio e de áreas próximas surgem. Estes regenerantes garantirão
a dinâmica da evolução da comunidade (Fonte Embrapa)
Resultados esperados em 10 anos: a vegetação já apresenta características
de vegetação secundária e não necessita de manejo para seguir seu rumo em
sentido à vegetação madura.Regenerantes originados da chuva de sementes do
próprio plantio e de áreas próximas surgem. Estes regenerantes garantirão
a dinâmica da evolução da comunidade (Fonte Embrapa)

A Rede atua numa região que abrande as bacias hidrográficas do Xingu, Araguaia e Teles Pires. Juntas, somam 319 mil km2, uma área maior que o estado do Rio Grande do Sul. Já foram alcançados 7,4 mil hectares de recuperação desde 2007.

São precisos 2,3 mil quilos de sementes para recuperar 30 hectares. Imagine ter todo esse volume? Não é uma semente que um produtor produz, é uma floresta que produz. Então, a gente precisa de alguém para coletar. A Rede de Sementes viabilizou para que pudéssemos recuperar essas áreas em larga escala”, diz a bióloga Artemizia.

E, com a flora recuperada, a fauna volta a aparecer. Animais como onças, tamanduás, capivaras, jacarés e antas passam a marcar presença na mata.

“A anta é conhecida como a ‘jardineira da floresta’. Ver uma anta significa que aquela área de recuperação já está tendo frutos, estabelecida. É um ótimo sinal”, celebra Artemizia.

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