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Sistema de pastagens de alta performance eleva produtividade de carne e bezerros

Pastagem de alta performance

Pesquisa da Embrapa revela aumento de 30% na produtividade por hectare, além de significativa redução nas emissões de gases de efeito estufa

Composto por tecnologias de baixo impacto, o Sistema Guaxupé permite intensificar a atividade pecuária, com menor investimento econômico e benefícios para o meio ambiente. Desenvolvido pela Embrapa, em parceria com pecuaristas do Acre, esse modelo de produção orienta estratégias para a obtenção de pastagens com alta produtividade de forragem de qualidade e de longa duração, o que eleva a rentabilidade de sistemas pecuários a pasto.

De acordo com a Embrapa, as pesquisas confirmaram aumento de 30% na produtividade de carne e de bezerros por hectare, além de redução nas emissões de gases de efeito estufa na atividade.

Quadro resumo do Sistema Guaxupé

Indicado para solos sem aptidão para a agricultura, devido à baixa capacidade de drenagem, o Sistema Guaxupé utiliza tecnologias e práticas gerenciais sustentáveis para a produção da pecuária intensiva a pasto. Sendo um resultado de 25 anos de pesquisa e recomendado para as condições ambientais específicas do Acre, o modelo se baseia no uso de diferentes forrageiras para diversificar e manter as pastagens produtivas:

  • consórcio de forrageiras com leguminosas capazes de fornecer nitrogênio para o solo;
  • controle preventivo de plantas daninhas, para reduzir gastos com reforma;
  • manejo adequado do pasto, para garantir a oferta contínua de forragem para o rebanho.
Pasto biodiverso na Fazenda Guaxupé (Rio Branco, AC) - Foto: Carlos Maurício Soares de Andrade
Pasto biodiverso na Fazenda Guaxupé (Rio Branco, AC)
Foto: Carlos Maurício Soares de Andrade

Segundo o pesquisador Carlos Mauricio de Andrade, coordenador dos estudos, todos os conceitos e tecnologias do sistema orientam a formação de pastagens permanentes de alta performance produtiva, que resultam em melhor capacidade de suporte e maior ganho de peso dos animais, com baixo investimento em insumos (rações e adubos).

Esse sistema de intensificação propõe uma nova forma de combinar alternativas tecnológicas já disponibilizadas pela pesquisa, para obter um modelo de produção rentável, que mantenha produtivo por muitos anos, com viabilidade econômica e reduzido impacto ambiental.

O Sistema Guaxupé foi lançado na quarta-feira passada, 21 de junho, em evento realizado na Fazenda Guaxupé, em Rio Branco (AC). Resultados de pesquisas e experiências de pecuaristas parceiros foram apresentados a produtores rurais, técnicos de instituições de apoio à produção pecuária, estudantes de graduação e gerentes de casas agropecuárias.

A capacidade gerencial de cada produtor é determinante no processo de adoção das tecnologias. Quando bem implantado, ao mesmo tempo em que melhora a produtividade e rentabilidade na atividade pecuária, o sistema assegura serviços ecossistêmicos fornecidos pelas pastagens consorciadas com leguminosas, como ciclagem de nutrientes e sequestro de carbono.

Animais em pasto biodiverso - Foto: Carlos Maurício Soares de Andrade
Animais em pasto biodiverso – Foto: Carlos Maurício Soares de Andrade

Sua adoção em larga escala é uma alternativa para tornar a pecuária a pasto mais sustentável na Amazônia e pode contribuir para a abertura de novos mercados nacionais e para inserir a carne produzida no Acre em mercados internacionais que buscam uma produção mais limpa.

Diversificação inteligente de forrageiras

Estudos confirmam que pastagens cultivadas podem se manter produtivas por muitas décadas. No entanto, para alcançar essa longevidade é necessário investir na diversificação inteligente de forrageiras. A escolha das cultivares deve ser criteriosa e priorizar espécies adaptadas às condições locais do solo e do clima da propriedade rural. Além disso, é necessário levar em consideração fatores como pragas e doenças existentes na região e características do rebanho que utilizará a pastagem. O Sistema Guaxupé recomenda utilizar diferentes opções de forrageiras indicadas pela pesquisa para a região, na formação das pastagens, e ocupar cada metro quadrado do solo.

Outra orientação é dar preferência para forrageiras estoloníferas, por apresentarem alta tolerância ao encharcamento ou alagamento do solo. Além disso, como essas forrageiras se reproduzem por meio de caules (estolões) que enraízam nos nós, conseguem se alastrar na pastagem e colonizar espaços descobertos no solo e competir com plantas daninhas, característica que assegura a sua persistência. O resultado são pastos biodiversos duradouros e sustentáveis, que não demandam investimentos periódicos em reforma, especialmente em solos mal drenados.

Pastagem recuperada - Foto: Judson Ferreira Valentim
Pastagem recuperada – Foto: Judson Ferreira Valentim

Estudos de zoneamento edafoclimáticos mostram que mais de 80% das áreas com pastagem no Acre apresentam solos pouco permeáveis e com baixa capacidade de drenagem. O encharcamento do solo causa deficiência de oxigênio nas raízes das plantas, que ficam sujeitas ao ataque de patógenos responsáveis pela Síndrome da Morte do Braquiarão (SMB), principal fator de degradação de pastagens na Amazônia.

Com isso, desde o surgimento dessa doença no Acre, em meados da década de 1990, a Embrapa investe em programas de melhoramento genético de forrageiras para selecionar e recomendar novas cultivares para o bioma, adaptadas ao encharcamento.

Já foram testadas e recomendadas dez cultivares de gramíneas e quatro espécies de leguminosas – incluindo duas cultivares de amendoim forrageiro (Arachis pintoi) – com excelente ou boa adaptação à Síndrome da Morte do Braquiarão. Os capins tangola, humidícula e a grama-estrela-roxa são os mais indicados para formação de pastagens em solos com alto risco de alagamento.

Pastagens autossuficientes em nitrogênio

A consorciação de gramíneas com leguminosas forrageiras, que fornecem nitrogênio para o solo, é uma estratégia eficiente para manter a produtividade e assegurar vida longa às pastagens. Pesquisas realizadas no Acre e em outras regiões do Brasil mostram que pastos formados somente com gramíneas precisam de reposição anual de nitrogênio, via adubação química, para se manter improdutivos.

O amendoim forrageiro é a leguminosa mais indicada para o consórcio de pastagens no trópico úmido brasileiro e o carro-chefe no processo de intensificação pecuária no Sistema Guaxupé.

A planta consegue capturar nitrogênio do ar e fixar no solo, por processo biológico, e pode ser consorciada com diferentes tipos de gramíneas. O consórcio com essa leguminosa garante ao pasto auto suficiência em nitrogênio, melhora a fertilidade do solo, aumenta a produção de forragem e contribui com o processo de descarbonização da pecuária brasileira.

Além de proporcionar um aporte natural desse nutriente essencial para o desenvolvimento das plantas, o amendoim forrageiro possui teores de proteína bruta entre 18% e 29% e alta digestibilidade, aspectos que elevam a qualidade nutricional da dieta do rebanho.

Cultivar de amendoim forrageiro melhorada BRS Oquira - Foto: Carlos Maurício Soares de Andrade
Cultivar de amendoim forrageiro melhorada BRS Oquira
Foto: Carlos Maurício Soares de Andrade

Modelos pecuários de produção intensiva que se baseiam na associação de gramíneas e leguminosas forrageiras bem adaptadas, produtivas e economicamente viáveis, fornecem aos animais os nutrientes necessários para a produção de carne e leite, reduzem custos com adubação nitrogenada, proporcionam economia para o produtor rural e ganhos em produtividade, e conferem maior competitividade à atividade pecuária.

O uso de gramíneas consorciadas com amendoim forrageiro possibilita suprir a necessidade de nitrogênio nas pastagens, a baixo custo, e favorece produtores de regiões mais distantes, especialmente do Norte do País, que compram fertilizantes nitrogenados a preços elevados e enfrentam dificuldades na logística para aquisição.

Pastagens consorciadas com amendoim forrageiro alcançam eficiência máxima quando a presença da leguminosa representa 20% a 40% da massa de forragem. Nessas condições, em pastos manejados de acordo com recomendações técnicas, a planta consegue incorporar até 150 Kg de nitrogênio na pastagem, o equivalente a 330 Kg de ureia por hectare/ano. Entretanto, para consolidar o consórcio com essa leguminosa são necessários em torno de quatro a cinco anos. É preciso que o produtor esteja ciente que a adoção desta e outras tecnologias que compõem o Sistema Guaxupé requer investimento, trabalho e paciência. Os resultados são de médio e longo prazos, porém, altamente compensadores.

Viveiro de BRS Oquira - Amendoim Forrageiro - Foto: Giselle Mariano Lessa de Assis
Viveiro de BRS Oquira – Amendoim Forrageiro
Foto: Giselle Mariano Lessa de Assis

Tolerância zero com plantas daninhas

Pecuaristas que adotam o Sistema Guaxupé utilizam uma estratégia proativa no manejo de plantas daninhas, que garante a manutenção de pastagens sempre “limpas”. Contudo, o trabalho inclui o monitoramento rotineiro das áreas, para controlar os focos iniciais de infestação e prevenção de proliferação. As medidas de controle envolvem aplicação localizada de herbicidas seletivos ou catação mecânica (enxada), para preservar as forrageiras. De forma complementar, os produtores realizam o replantio de falhas nas pastagens, com mudas de forrageiras estoloníferas.

Para manter o alto desempenho das pastagens biodiversas é essencial adotar tolerância zero com plantas daninhas, por meio de uma postura vigilante. A adoção de medidas preventivas resulta em pastagens mais produtivas e com custo de manutenção decrescente, já que essas áreas ficam cada vez menos propensas a reinfestações. Esses cuidados também beneficiam o meio ambiente, na medida em que reduzem o uso de herbicidas.

Pasto bem manejado e gado bem alimentado o ano todo

Além da diversificação de forrageiras, uso de leguminosas e manejo efetivo de plantas daninhas, o Sistema Guaxupé tem como pilar o manejo adequado das pastagens, por meio de técnicas que levam em consideração características da fazenda, do rebanho e dos pastos formados.

Para manejar bem as pastagens é necessário conhecer o seu funcionamento, em especial o impacto do pastejo na produtividade e estabilidade das forrageiras, no consumo de pasto e no desempenho produtivo do rebanho. Como a produção e a qualidade do pasto variam durante o ano, o sistema recomenda planejar os ajustes de lotação da pastagem.

Pastagem recuperada - Foto: Judson Ferreira Valentim
Pastagem recuperada – Foto: Judson Ferreira Valentim

O bom manejo também exige observar a altura e estrutura dos pastos para realizar as adequações necessárias em cada módulo de pastejo rotacionado, como tempo de pastejo e descanso, remanejamento de piquetes e outros cuidados que influenciam o consumo da forragem e a produtividade animal. Também é importante planejar estratégias de gerenciamento do rebanho, época da estação de monta e o descarte de animais no período mais propício para adequar a demanda de alimento do rebanho à oferta de forragem. Esses cuidados, aliados a estratégias de suplementação, ajudam a manter o rebanho bem alimentado durante os 365 dias do ano, com redução de custos e manutenção da produção.

Fazendas-referência

O produtor Luiz Augusto Ribeiro do Vale, proprietário de duas fazendas-referência no Sistema Guaxupé, em Rio Branco, conta que com a adoção gradativa das tecnologias foi aprendendo a fazer pecuária de maneira planejada. Durante muito tempo realizou o processo de formação de pastagens de forma aleatória e ouviu de muitos profissionais que o consórcio com leguminosas era inviável. Ele conta que a parceria com a Embrapa mostrou que a técnica é possível e rentável e proporciona alto rendimento e estabilidade à pastagem e aumento na produção de arrobas por hectare e no lucro da atividade.

“Começamos com puerária e depois incluímos o amendoim forrageiro. A planta se consolidou e hoje temos pastagens consorciadas com mais de vinte anos, que se mantém produtivas, com taxa de lotação de até três unidades animal (UA) por hectare, média considerada excelente para a região. Esse resultado é fruto dos cuidados com o manejo e manutenção das pastagens consorciadas, que possibilitam manter uma boa distribuição da oferta de forragem para o gado, aliados à adoção de estratégias de suplementação que ajudam a potencializar a qualidade da dieta bovina e o ganho de peso dos animais”, destaca.

Pastagem em uma das fazendas referência
Pastagem em uma das fazendas referência

Outro produtor parceiro, o pecuarista Francisco Sales, iniciou a adoção das tecnologias do Sistema Guaxupé quando percebeu a degradação das pastagens de sua fazenda, no município de Bujari, devido à morte do capim braquiarão, em 1998. Ele considera que, graças às orientações recebidas de pesquisadores da Embrapa, fez a escolha certa das gramíneas e leguminosas para substituir as pastagens acometidas pela Síndrome da Morte do Braquiarão.

“O amendoim forrageiro combina muito bem com gramíneas estoloníferas, formando pastagens com rendimento produtivo excepcional. Mantemos o rebanho bem alimentado e o ganho de peso animal supera em 30% o obtido em pastagens tradicionais, resultado que paga qualquer investimento. Além disso, com o consórcio temos uma melhoria contínua na qualidade dos solos da propriedade, devido ao aporte de nitrogênio disponibilizado pela leguminosa”, ressalta.

Potencial de uso do sistema

O Sistema Guaxupé foi idealizado para atender particularidades da bovinocultura de corte do Acre, quanto à predominância de solos mal drenados, e sem aptidão para a agricultura intensiva, e as relações de troca menos favoráveis da carne bovina com fertilizantes, rações e outros insumos da produção.

O estado tem cerca de 23 mil estabelecimentos rurais envolvidos nas diferentes etapas do processo de produção na pecuária de corte (cria, recria e engorda) e uma demanda crescente por tecnologias sustentáveis para melhoria da eficiência nessas atividades, fatores que também confirmam o potencial de uso do sistema.

O atual cenário da pecuária no Acre e outros estados brasileiros impõe a necessidade de inserção de sistemas ancorados na diversificação de pastagem, fixação biológica de nitrogênio e outras estratégias de produção sustentável.

O Brasil possui, aproximadamente 120 milhões de pastagens cultivadas, com baixa diversidade de espécies forrageiras. Mais da metade dessa área (60%) é plantada apenas com o capim brachiaria brizantha, cultivar Marandu, altamente susceptível à Síndrome da Morte do Braquiarão. Além disso, 90% da carne produzida no País ainda é oriunda de sistemas extensivos. Diversificar essas pastagens, combinando diferentes tipos de gramíneas e leguminosas, adaptadas a cada região, é uma forma de conferir maior sustentabilidade aos sistemas de produção, com conservação ambiental.

Pasto consorciado com amendoim forrageiro - Foto: Carlos Maurício Soares de Andrade
Pasto consorciado com amendoim forrageiro
Foto: Carlos Maurício Soares de Andrade

As fazendas parceiras no desenvolvimento do sistema funcionam como vitrine para demonstração das práticas e tecnologias sustentáveis desse modelo de produção. Nesses espaços de compartilhamento de saberes são realizados cursos, dias de campo, oficinas e outras atividades técnicas com diferentes públicos, incluindo produtores rurais, técnicos de empresas de assistência técnica pública e privada e pesquisadores do Acre, de outros estados e do exterior.

As experiências dos pecuaristas, especialmente com pastos consorciados com leguminosas, mostram que é possível produzir de forma sustentável. Para ampliar a adoção do Sistema Guaxupé será intensificada a agenda de capacitações, já em andamento, com abordagem individual para cada tecnologia. Esse trabalho conjunto com instituições de assistência técnica e gerencial, públicas e privadas, e programas de apoio e fortalecimento da produção pecuária do estado, busca formar multiplicadores desses conhecimentos.

Produção de baixo carbono

Entre os benefícios ambientais do Sistema Guaxupé está a redução das emissões de gases de efeito estufa proporcionada pela consorciação de pastagem com o amendoim forrageiro. Ao disponibilizar nitrogênio para o solo, a planta reduz o uso de adubação química nas pastagens e contribui para minimizar as emissões de carbono na produção industrial.

Pastagem numa das fazendas referencia

As pesquisas comprovam, ainda, que a leguminosa também ajuda a diminuir as emissões de metano, na medida em que acelera o ganho de peso do rebanho. Em sistemas convencionais de pecuária de corte, com abate do boi gordo com 18 arrobas, aos três anos, a emissão de metano por animal, nesse período, corresponde a, aproximadamente, 530 g/Kg de carne produzida. Em sistemas intensivos com pastagens consorciadas com a leguminosa, dependendo da genética do animal, essas emissões reduzem entre 17% e 33%, em função do potencial de ganho de peso de cada raça.

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