O trabalho surgiu a partir de necessidades dos agricultores identificadas por um processo de escuta e participação com lideranças do segmento
A Embrapa acaba de lançar um ambiente digital dedicado à cadeia de produção orgânica, de acesso gratuito. O Pró-Orgânico apresenta uma Organoteca, onde o usuário pode buscar tecnologias aplicáveis ao segmento e materiais de apoio como cartilhas e produtos audiovisuais.O ambiente também disponibiliza duas listas de insumos permitidos na produção orgânica e uma planilha de custos para gestão financeira.
O trabalho surgiu a partir de necessidades dos agricultores identificadas pela Comissão de Produção Orgânica de São Paulo – CPOrg/SP. Por meio de um processo de escuta e participação com lideranças do segmento, foram priorizadas demandas e chegou-se ao protótipo de uma ferramenta digital para facilitar o acesso à informação e o processo de certificação. As soluções do projeto foram desenvolvidas de forma participativa, com a equipe da Embrapa e de parceiros.
A construção da Organoteca foi baseada nas necessidades apontadas por agricultores, durante oficinas realizadas em Ribeirão Preto, SP, e municípios do Sul de Minas Gerais. A partir de uma lista de palavras-chaves relacionadas ao segmento, foram feitas buscas entre as tecnologias e publicações técnicas da empresa de pesquisa. Com esse trabalho, foram selecionados não só conteúdos direcionados especificamente para a produção orgânica, mas também tecnologias originalmente desenvolvidas para a produção convencional, mas que podem ser aplicadas a esse segmento, atendendo as normativas.
Atualmente, a Organoteca reúne 187 tecnologias e 1.100 publicações e materiais de apoio. As buscas podem ser feitas por tema e refinadas com mais duas subcategorias, além de serem filtradas pela unidade da federação do usuário. A ideia é que o repositório cresça, incorporando à Organoteca materiais de outras instituições.
Planilhas
A planilha de custos para gestão financeira disponível no Pró-Orgânico considera as despesas efetivamente desembolsadas pelo produtor, a depreciação de máquinas e benfeitorias e o custo estimado da mão de obra familiar. Ela é acompanhada de um manual e um exemplo de como preenchê-la. Consegue indicar, ao final, o lucro da produção. O ambiente digital também disponibiliza duas listas de insumos que podem ser utilizados na produção orgânica, elaboradas pelo Grupo de Trabalho de Insumos Comerciais da CPOrg/SP, com base na Portaria MAPA nº 52/2021. Elas relacionam marca, finalidade de uso e outras informações, para fertilizantes, corretivo, substratos, remineralizadores de solo e fitossanitários.
Pelo mesmo projeto, está sendo desenvolvida uma solução digital para o processo de certificação (avaliação da conformidade) de alimentos orgânicos para uso por produtores em sistemas participativos de garantia, organizações de controle social ou certificadoras. Em fase de conclusão, ela ficará disponível, inicialmente, para as duas organizações de produtores parceiras do projeto: a Orgânicos Sul de Minas e a Comuna da Terra. A proposta é, depois dos testes, ampliar a disponibilização para mais organizações. A ideia é que a solução digital substitua os formulários em papel, armazenando informação para agilizar o trabalho do agricultor no encaminhamento periódico de documentação. Além disso, deve gerar um banco de dados, para subsidiar o Ministério da Agricultura e Pecuária – Superintendência de São Paulo em trabalhos com o segmento.
No evento de lançamento do Pró-Orgânico foi apresentado um histórico da agricultura alternativa à revolução verde e do surgimento da agroecologia como ciência e movimento social. No Brasil, a agricultura orgânica foi regulamentada em 2003 e, em 2012, foi criada a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO) pelo Decreto Nº 7.794 de 20 de agosto de 2012, que já se desdobrou em dois planos. Existe, hoje, a expectativa de revisão da PNAPO e da construção de políticas estaduais para esse segmento produtivo.
O Pró-Orgânico é fruto de um projeto coordenado pela Embrapa Territorial (Campinas, SP), com participação da Embrapa Agrobiologia (Seropédica, RJ), Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora, MG) e Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP). Também integram a iniciativa a Central das Associações de Produtores de Orgânicos Sul de Minas (Orgânicos Sul de Minas), a Cooperativa Orgânica Agroflorestal Comuna da Terra, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais e o Ministério da Agricultura e Pecuária – Superintendência de São Paulo. O trabalho está alinhado aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).