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Guia de serpentes amazônicas será lançado no Instituto Butantan

Jararaca verde (Bothrops bilineatus)

Se for andar pela floresta amazônica, a cautela manda usar botas, perneiras por cima das calças e não pôr a mão em nenhum lugar sem antes olhar se é seguro. O cuidado se justifica, já que um acidente com animal peçonhento – sobretudo serpentes – pode significar uma operação complexa de socorro, se for um local distante de atendimento médico.

A Amazônia abriga a maior diversidade de serpentes do Brasil, mas chega com alguma surpresa a informação de que a maior parte das espécies não oferece risco a seres humanos. É apenas um entre os fatos apresentados no guia ilustrado Serpentes da Amazônia, da Editora Ponto A escrito pelo quarteto de pesquisadores entendidos nesse grupo animal: Otavio Marques, do Instituto Butantan, André Eterovic, da Universidade Federal do ABC (UFABC), Marcio Martins, da Universidade de São Paulo (USP) e Ivan Sazima, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Caninana vermelha(Spilotes sulphureus) - Foto: Laurie Vitt/Sam Noble Museum
Caninana vermelha(Spilotes sulphureus) – Foto: Laurie Vitt/Sam Noble Museum
Azulão-boia (Leptophis ahaetulla) - Foto: Otavio Marques/Butantan
Azulão-boia (Leptophis ahaetulla) – Foto: Otavio Marques/Butantan

Além de pesquisadores, Marcio Matins e Ivan Sazima são excelentes fotógrafos, mas mesmo assim, após a revisão bibliográfica que definiu as espécies conhecidas as quais deveriam compor o livro, foi necessário sair em busca de registros fotográficos das mais discretas e das habitantes de outros estados amazônicos. Por falta de imagem, 16 delas precisaram ficar de fora.

Depois de informações gerais sobre a Amazônia e sobre serpentes, o guia traz, em cada página, a fotografia com nome científico e popular, a família e ícones que revelam detalhes ecológicos e biológicos. As mais perigosas com relação ao potencial de acidentes são marcadas com uma caveira e ossos cruzados em cor vermelha, para não deixar dúvidas. Ao fim, há mapas de distribuição para as 160 espécies incluídas – cerca de 98% do total conhecido para o bioma.

Jovem periquitamboia (Corallus caninus) - Foto: Ivan Sazima/Unicamp
Jovem periquitamboia (Corallus caninus) – Foto: Ivan Sazima/Unicamp
Coral-falsa (Anilius scytale) - Foto: Ivan Sazima/Unicamp
Coral-falsa (Anilius scytale) – Foto: Ivan Sazima/Unicamp

Muitas das espécies só existem na Amazônia, mas têm uma distribuição ampla nessa floresta – o que faz o risco de extinção não ser um problema recorrente, como é o caso na Mata Atlântica, onde a ocorrência muitas vezes é restrita a locais que podem facilmente ser destruídos. Mesmo assim, há um caso marcante: a coral-falsa (Anilius scytale), única espécie da família Aniilidae, só existe nessa região (embora em todos os estados amazônicos). Se ela desaparecesse, toda uma família deixaria de existir. Além dessa singularidade taxonômica, o animal, com bandas pretas e vermelhas alternadas, ainda detém o trunfo de ser o mais parecido com o ancestral de todas as serpentes.

Conseguir as informações para os ícones não é sempre tarefa fácil, mesmo com extensa busca em artigos científicos. Contaram com a experiência dos autores e com relatos de outras pessoas. Eles incluem, por isso, informações inéditas, que não estão publicadas em outros lugares.

Marques, que já é coautor de guias semelhantes para a Mata Atlântica, o Pantanal, o Cerrado e a Caatinga, afirma que o volume mais recente já sai desatualizado por espécies descritas depois de concluído o guia. O da Mata Atlântica, aliás, foi publicado em 2001 e mais recentemente, em 2019, ganhou edição atualizada e ampliada. Fica faltando cobrir as serpentes dos campos sulinos, menos diversas.

Cobra d'água (Helicops apiaka)
Cobra d’água (Helicops apiaka)
Papa-lesma (Dipsas catesbyi)
Papa-lesma (Dipsas catesbyi)

Os guias podem ser usados por qualquer pessoa interessada em reconhecer serpentes e aprender mais sobre elas. O físico Ricardo Galvão, da USP e atualmente presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), conta no prefácio ao guia amazônico como aprendeu com o avô, aos 7 anos, a importância ecológica das serpentes e também a necessidade de enviá-las vivas ao Instituto Butantan para produção de soro antiofídico. Por isso, em seu sítio no interior paulista ele mantém uma caixa e um laço de captura especializado, para essa operação. Tem também, junto à mesa de trabalho, o guia Serpentes da Mata Atlântica. “[…] sempre que tenho oportunidade, mostro ao trabalhador que está prestando serviço as fotos e explicações sobre as serpentes de maior ocorrência na área, procurando incentivá-lo a capturá-las ao invés de matá-las”, escreve, confessando sucesso relativo.

O livro será lançado no Butantan em 7/12, a partir das 18h, em uma programação que envolve apresentação por Marcio Martins, sessão de autógrafos, coquetel, tour pelo acervo e serpentário, com possibilidade de tocar em uma cobra em carne e osso.

Fonte: Revista Fapesp

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