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Trigo pronto para colheita

Um dos desafios da extensão rural é mostrar ao produtor rural os benefícios de investir nessa cultura atualmente. Muita coisa mudou nos últimos dez anos, com pesados investimentos em pesquisa

Paraná e Rio Grande do Sul concentram a maior parte da produção de trigo brasileira. Juntos os estados são responsáveis pela colheita de 86% de tudo que é produzido. Oeste e Sudeste são duas das regiões que mais produzem trigo no Paraná, segundo maior produtor da cultura no Brasil. Mas essas regiões têm potencial para muito mais, melhorando a renda das propriedades rurais e agregando soma considerável de recursos ao seu Produto Interno Bruto (PIB).

As duas regiões destinam, atualmente, 434,4 mil hectares ao trigo, desse montante, 205 mil no Oeste e 229 mil no Sudoeste. Entretanto, elas têm potencial para mais que dobrar essa área, grande parte disso nos municípios do Sudoeste. São 447,6 mil hectares que, nos meses de baixas temperaturas, são destinados em parte à aveia e a outras culturas de inverno. Fatia considerável desse total fica em pousio – sem nenhum cultivo. A média de produtividade nessa região é de 3,8 mil quilos por hectare, superior à do Paraná, de 3,2 mil, e à do Brasil, de 2,9 mil.

A produção anual de trigo no Oeste e Sudoeste do Paraná é de 1,41 milhão de toneladas. Considerando o valor da saca de 60 quilos a R$ 70, a cifra conseguida com a cultura, nessas regiões, chega a R$ 1,64 bilhão. Com a possibilidade de mais que dobrar a área plantada com o grão, então o valor adicionado ao PIB das duas seria de R$ 1,65 bilhão. Somadas, a atual e a área potencial para cultivo de trigo, chegaria a 882 mil hectares, com resultado, considerando os valores de hoje, de R$ 3,29 bilhões.

Agricultor com um punhado de grãos de trigo nas mãos

Um dos desafios da extensão rural é mostrar ao produtor rural os benefícios de investir nessa cultura atualmente. Muita coisa mudou nos últimos dez anos, com pesados investimentos das empresas de pesquisa principalmente em variedades de maior produtividade e mais adaptadas ao clima de cada região. Cerca de 20 variedades de trigo estão a disposição dos produtores do sul do país e pelo menos dez delas têm potencial de produtividade na casa de 6 mil quilos por hectare, mais que o dobro da média nacional. No oeste paranaense por exemplo, a média já chega a 4 mil quilos por hectare, semelhante à de grandes produtores do grão no mundo. Com os cuidados certos e com a escolha correta da variedade é possível alcançar números bastante interessantes, fazendo do trigo uma ótima oportunidade de rentabilidade à propriedade rural.

As novas tecnologias têm mudado as perspectivas do trigo no Brasil. Até quatro, cinco anos atrás, praticamente a metade do que o país consumia era importado. Com a safra atual devendo chegar a 10 milhões de toneladas e consumo estimado em 12,5 milhões, ainda será necessário trazer de fora 2,5 milhões de toneladas.

Nova fronteira

Os produtores de trigo do bioma Cerrado, onde predominam culturas como o milho e a soja, podem dar uma contribuição decisiva e ajudar o país a aumentar a oferta interna do cereal, reduzindo essa dependência de importações. Segundo Embrapa , as perspectivas para os produtores de trigo no Centro-Oeste do Brasil estão melhorando rapidamente, pois agora eles podem cultivar e lucrar com variedades adaptadas ao clima seco e quente da região.

Tradicionalmente, o Brasil planta trigo no Sul do país, onde é mais úmido e frio. A Embrapa vê potencial para mais que dobrar a área total de trigo do Brasil por meio de expansões no Centro-Oeste, no Cerrado. Segundo pesquisadores da Embrapa Cerrados, a produtividade média de trigo na região é de seis toneladas por hectare, já representando o dobro da média nacional.

BRS 264 Características agronômicas
BRS 264 Recomendações de plantio
BRS 264 Regiões de adaptação

No entanto, uma variedade de trigo desenvolvida pela Embrapa chamada BRS 264 (CLIQUE AQUI para fazer o download do Documento Técnico Embrapa sobre a variedade) já produziu 9,6 toneladas por hectare em uma lavoura comercial, e isso pode ser melhorado. Acredita-se que é possível chegar a 12 ou 13 toneladas por hectare, em um ciclo de produção de 130 dias(NEG), mantendo a qualidade industrial da farinha para a produção de pão. A variedade é indicada tanto para o sistema de produção irrigado, quanto para o sequeiro (nesse caso, mais para o sul de Minas Gerais), sendo super precoce, que pode ser colhida cerca de sete dias antes que as demais disponíveis no mercado. A cultivar deve ser plantada cedo, pois não tolera chuva na colheita. É a cultivar mais utilizada na região.

-Mais cultivares disponíveis para produção de trigo na região:

  • MGS Brilhante (Epamig) – cultivar de porte alto, mas com boa resistência ao acamamento. Com indicação para os estados de GO, DF e MG em cultivos de sequeiro. Rendimentos médios de 2.300 kg/ha.
  • BRS 404 (Embrapa) – alternativa para o cultivo de sequeiro nos estados de GO, MG e DF. Ciclo precoce, com 120 dias de até a maturação. Classe comercial pão, com estabilidade na produção de farinha. Primeira cultivar a apresentar maior tolerância à brusone com indicação de moderamente suscetível à doença.
  • BRS 254 (Embrapa) – Cultivar para sistema irrigado que se destaca pela qualidade industrial. Da classe melhorador, apresenta grãos mais duros e, por isso, tem mais tolerância às precipitações. Rendimentos de 6 mil kg/ha.
  • BRS 394 (Embrapa) – Indicada para cultivo irrigado nos estados de GO, MG e DF. Ciclo precoce, classe comercial melhorador e boa resistência à debulha. Rendimento médio de 7,5 toneladas por hectare.
Colheita do trigo

Novos mercados

Além dos moinhos, os produtores encontram alternativas quando o trigo não atinge o nível de qualidade para ser utilizado na indústria de panificação, como é o caso do mercado de ração. Com o preço do milho elevado, há valorização de produtos que podem ser utilizados como substitutos para a alimentação animal.

Outra possibilidade é utilizar o trigo como insumo na produção de biocombustíveis. O etanol é produzido no Brasil basicamente com cana-de-açúcar e milho, mas o uso de cereais de inverno pode ser uma alternativa para a produção do etanol.

O milho é a principal matéria-prima para a nutrição do gado leiteiro, representante de quase dois terços do volume da ração. No entanto, a constante alta do grão no mercado internacional tem feito os produtores procurarem opções para segurar a elevação dos custos de produção, e plantar trigo tem sido uma alternativa para os pecuaristas da Região Sul.

O trigo não pode substituir integralmente o milho na nutrição do gado leiteiro, mas é uma alternativa viável para complementar a alimentação dos animais. A utilização, ainda que parcial, pode contribuir para a redução nos custos de produção de leite, uma vez que a nutrição representa metade dos gastos do produtor.

Volume de leite pode aumentar com a substituição de 10% do milho por trigo na ração de gado leiteiro
Volume de leite pode aumentar com a substituição de 10% do milho por trigo na ração de gado leiteiro

Um estudo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) apontou que não houve mudança na produção de leite quando o trigo substituiu em até 45% o volume do milho utilizado na ração das vacas. Acima desse percentual, o volume produzido sofreu redução.

Outra alternativa é uma cultivar de trigo para pastejo direto tem proporcionado ganhos interessantes entre produtores que utilizam o sistema de integração lavoura pecuária. A cultivar Lenox, da Biotrigo Genética, está entre as novidades apresentadas para alimentação animal. A pastagem de trigo é uma boa opção para o pecuarista. Proporciona maior aproveitamento na área de inverno e, por suas características nutricionais, potencializa a engorda de gado e aumenta a produção de leite. Outras características da cultivar são a alta palatabilidade, excelente sanidade foliar, elevada produção de biomassa e a alta capacidade de rebrota.

A capacidade de rebrota da cultivar Lenox proporciona novos pastejos entre 20 a 25 dias. Possui forte perfilhamento e enraizamento muito agressivo e com bom manejo pós-pastejo é capaz de superar 6 cortes com alta carga animal em sistemas de pastejo rotacionado ou contínuo. Produz muita matéria em pouco tempo com teores de proteína passando de 30%. De uma forma bem manejada, essa cultivar pode expressar um grande potencial e suprir em quantidade e qualidade a produção de pasto no inverno.

Vacas pastando em piquete com o trigo de pastejo direto Lenox
Vacas pastando em piquete com o trigo de pastejo direto Lenox

Com o seu crescimento semi prostrado, o trigo também tem potencial de chegar a uma taxa de acúmulo diário de até 100 kg de matéria seca por hectare. É uma cultivar de ciclo super tardio e a época de semeadura indicada é a partir de março e durante todo o inverno. A recomendação é fazer uma adubação de base e sempre a cada entrada para pastejo o produtor faça uma adubação nitrogenada após a saída dos animais. Este manejo acelera o rebrote e mantém a vida útil da pastagem.

Com incentivos à cultura em pouco tempo o Brasil chegará à autossuficiência e em poucos anos terá condições de se tornar exportador, fazendo com que o trigo também some em favor da balança comercial brasileira.

Procure a orientação profissional para a escolha da variedade
ideal para sua região e as recomendações de cultivo

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