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Soja no sistema de plantio direto

Regulagem das máquinas, a entrada em umidade de solo adequada e a velocidade de execução do processo de semeadura são cuidados fundamentais para garantir melhores condições de estabelecimento do estande

Um dos principais processos da produção agrícola é a semeadura de uma lavoura, sendo fundamental uma semeadura bem sucedida para um bom estabelecimento do estande de plantas. Dentre os cuidados necessários para uma boa semeadura, a regulagem das máquinas, a entrada em umidade de solo adequada e a velocidade de execução do processo de semeadura são fundamentais para garantir melhores condições para o estabelecimento desse estande.

Mas como a velocidade de semeadura pode interferir na qualidade do plantio da minha lavoura?

Atualmente, várias são as opções de mecanismos de funcionamento de semeadoras e distribuição de sementes, contudo, normalmente esses mecanismos são projetados para desempenhar uma semeadura eficiente em uma faixa de velocidade específica.

Plantadeira com sementes de soja

Segundo COSTA et al. (2018), a semeadura em velocidades inadequadas pode resultar em uma redução de espaçamentos aceitáveis entre sementes, além de proporcionar aumento dos espaçamentos duplos e falhos implicando em maior desuniformidade de distribuição de sementes. Conforme destacado pelos autores, as porcentagens de espaçamentos aceitáveis, duplos e falhas determinam o índice de eficiência de plantio.

JASPER et al. (2011) destacam que a má distribuição das sementes implica em inadequado aproveitamento de recursos como água, radiação solar e nutrientes por parte das plantas.

Avaliando a influência da velocidade de semeadura da soja, JASPER et al.(2011), observaram o comportamento de dois diferentes mecanismos dosadores de sementes, um de discos alveolados horizontais e outro pneumáticos, ambos submetidos a diferentes velocidades de semeadura 4, 6, 8, 10 e 12 Km.h-1. Para ambos os mecanismos dosadores de sementes, os autores encontraram resultados que demonstram o aumento das porcentagens de espaçamentos duplos (múltiplos) e uma redução dos espaçamentos aceitáveis com o aumento da velocidade de semeadura (figuras 1 e 2).

Figura 1 - Relação entre porcentagem de espaçamentos m´ltiplos e a velocidade de semeadura para mecanismos dosadores de sementes de discos alveolados (perfurados) horizontais e pneumáticos
Figura 1 – Relação entre porcentagem de espaçamentos múltiplos e a velocidade de semeadura para mecanismos dosadores de sementes de discos alveolados (perfurados) horizontais e pneumáticos
Figura 2. Relação entre a porcentagem de espaçamentos aceitáveis e a velocidade de semeadura para mecanismos dosadores de sementes perfurados horizontais e pneumáticos.
Figura 2. Relação entre a porcentagem de espaçamentos aceitáveis e a velocidade de semeadura para mecanismos dosadores de sementes perfurados horizontais e pneumáticos – Fonte: JASPER et al. (2011).
Plantadeira de soja em operação

Um acentuado incremento nas porcentagens de espaçamentos duplos e redução na porcentagem de espaçamentos aceitáveis decorrentes do aumento da velocidade de semeadura também foi observado por COSTA et al. (2018) onde o autor avaliou a influência da velocidade de semeadura, só que para a cultura do milho. Os resultados obtidos pelos autores para a cultura do milho são ainda mais expressivos do que os resultados encontrados por JASPER et al. (2011) para a cultura da soja, enfatizando a importância da adequada velocidade de semeadura para uma boa distribuição de sementes.

Figura 3. Relação entre a porcentagem de espaçamentos duplos e a velocidade de semeadura para a cultura do milho semeada utilizando um mecanismo de distribuição de sementes mecânico de discos perfurados horizontais.
Figura 3. Relação entre a porcentagem de espaçamentos duplos e a velocidade de semeadura para a cultura do milho semeada utilizando um mecanismo de distribuição de sementes mecânico de discos perfurados horizontais – Fonte: COSTA et al. (2018).

Além da interferência na distribuição de sementes, a velocidade de semeadura pode interferir em componentes de produtividade de soja e consequentemente na produtividade da cultura. Avaliando a influência da velocidade de semeadura em diferentes sistemas de manejo, CHAVES (2015) observou que para ambos os sistemas de cultivo avaliados, sendo eles plantio direto (PD), plantio direto escarificado (PDE) e plantio direto escarificado cruzado (PDEC), maiores valores de número de vagens por planta foram observados quando a semeadura ocorreu na velocidade de 5,5 Km.h-1, assim como para maiores valores de produtividade.

Figura 4. Número de vagens por planta em função de diferentes velocidades de semeadura da soja.
Figura 4. Número de vagens por planta em função de diferentes velocidades de semeadura da soja – Adaptado: CHAVES (2015)

Para ambos os sistemas de cultivo avaliados por CHAVES (2015), velocidades de semeadura superiores a 6 Km.h-1 representaram diminuição do componente de produtividade no número de vagens por planta e com isso consequentemente a produtividade da cultura.

Figura 5. Produtividade de soja em função de diferentes velocidades de semeadura.
Figura 5. Produtividade de soja em função de diferentes velocidades de semeadura – Fonte: CHAVES (2015)

Redução em outro componente de produtividade em função da velocidade de semeadura também foi observado por TIESEN et al. (2016), desta vez o componente afetado foi a massa de mil grãos (figura 5), consequentemente impactando negativamente a produtividade de soja.

Figura 6. Massa de mil grãos de soja (g) em função da velocidade de semeadura (Km.h-1).
Figura 6. Massa de mil grãos de soja (g) em função da velocidade de semeadura (Km.h-1) – Fonte: TIESEN et al. (2016).
Lavoura de soja com vista para o horizonte ao fundo

Além da interferência nos componentes de produtividade e consequentemente na produtividade da soja, GAZEL et al. (2017) avaliando a influência de velocidade de semeadura em soja encontraram resultados que demonstram uma maior mobilização de solo quando utilizadas velocidades de semeadura superiores a 6 Km.h-1, fato que diminui a eficiência de cobertura do sulco de semeadura e consequentemente interferem na germinação e uniformidade do estande de plantas.

Referências:

CHAVES, R. G. SISTEMAS DE MANEJO DO SOLO E VELOCIDADE DE SEMEADURA DA SOJA. UFGD, Tese de Doutorado, 2015.
COSTA, R. D. et al. INFLUÊNCIA DA VELOCIDADE DE SEMEADURA NO COEFICIENTE DE VARIAÇÃO E NO ESTABELECIMENTO DO MILHO. Anuário Pesquisa e Extensão UNOESC, São Miguel do Oeste, 2018.
GAZEL, K, L. et al. REGULARIDADE DE DISTRIBUIÇÃO EM DIFERENTES VELOCIDADES DE SEMEADURA DE SOJA EM SISTEMA PLANTIO DIRETO.
Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia, ago. 2017.
JASPER, R. et al. VELOCIDADE DE SEMEADURA DA SOJA. Eng. Agríc., Jaboticabal, v.31, n.1, p.102-110, 2011.
TIESEN, C. M. A. et al. INFLUÊNCIA DA VELOCIDADE DE SEMEADURA NO CULTIVO DE SOJA. Scientific Eletronic Archives, nov. 2016.

Fonte: Senar-SC

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