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Palmito juçara (Euterpe edulis) com sabiá una (Turdus flavipes) se alimentando de seus frutos
Com mais de 100 mil pés de juçara plantados desde 1998, a comunidade agora vende palmitos e mudas a turistas e moradores

A juçara (Euterpe edulis), árvore nativa da Mata Atlântica e que produz o palmito de mesmo nome, foi consumida no Brasil ao limite da extinção.
 
O resultado é que hoje os brasileiros consomem o palmito de palmeiras menos saborosas e mais fibrosas, como açaí (Euterpe oleracea) e pupunha (Bactris gasipaes), ambas nativas da Amazônia, ou palmeira-imperial, nativa do Caribe (Roystonea oleracea).

São espécies de crescimento rápido, geralmente prontas para serem cortadas após no máximo quatro anos — a juçara exige entre oito e doze anos para produzir um palmito de boa qualidade. Os poucos palmitos de juçara vendidos no mercado vêm de cultivos comerciais ou são extraídos ilegalmente (seu corte na natureza está proibido no Brasil desde 1998).


Antes que o turismo chegasse às praias da região, os Guarani tinham uma floresta inteira de juçaras ao seu redor. Quando o asfalto da Rodovia Rio-Santos rasgou a área nos anos 1970, condomínios e casas de veraneio começaram a devorar a floresta com o mesmo apetite que os recém-chegados tinham pelo palmito.
 
Consumidores tradicionais do palmito de juçara, os Guarani do litoral paulista decidiram reverter essa perda plantando milhares de palmeiras em sua reserva aos pés da Serra do Mar.
“Começamos o trabalho com a construção do viveiro”, diz o vice-cacique Mauro dos Santos da Terra Indígena Ribeirão Silveira, área de 9 mil hectares encaixada entre a praia de Boraceia e a Serra do Mar, nos municípios de Bertioga e São Sebastião/SP. Foi nele que, em 1998, os Guarani começaram a cultivar dezenas de mudas de juçara, que depois seriam plantadas em seus quintais, em meio à vegetação nativa da Mata Atlântica. É o que tecnicamente se conhece como agrossilvicultura, sistema que integra cultivos alimentares com a floresta para criar um ecossistema que sustente a biodiversidade, reduza a erosão do solo, retenha água e sequestre carbono da atmosfera.
Com mais de 100 mil pés de juçara plantados desde 1998, a comunidade agora vende palmitos e mudas a turistas e moradores. O próximo passo é extrair a polpa dos frutos — a resposta da Mata Atlântica ao açaí amazônico.
 
As plantações do parque também são benéficas para a vida selvagem: além dos pássaros que visitam frequentemente as agroflorestas, esses lotes são o lar de inúmeras espécies, incluindo algumas novas que acabaram de ser descritas pela ciência, como uma espécie de morcego.
Na reserva Guarani, as juçaras crescem em meio às árvores nativas segundo o sistema agroflorestal, método que combina cultivos agrícolas com a vegetação, mantendo a floresta em pé e sua biodiversidade.

Ainda é um negócio bastante informal, já que a comunidade indígena não possui uma empresa aberta para vender o produto. Na verdade, o acesso ao mercado formal ainda é o maior obstáculo na cadeia produtiva Guarani. E eles também precisariam de uma escala de produção muito maior para abastecer supermercados ou restaurantes. “A gente precisaria juntar várias aldeias para ter boa quantidade de palmito”, diz o cacique Adolfo.
Os Guarani já têm uma máquina de extração de polpa de juçara na aldeia principal, que trouxeram do Pará há cerca de 20 anos. Mas só agora, segundo Mauro, eles se sentem preparados para dar o pontapé inicial no projeto. “Estamos pensando em processar a juçara aqui na aldeia, com rótulo Guarani”, diz o vice-cacique.
 
Fonte: eCycle
 
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