A natureza adversa imprimiu nestes animais algumas de suas características mais marcantes, como a rusticidade e a resistência
O cavalo crioulo tem sua origem na população equina da península ibérica, mais precisamente nos territórios de Portugal e Espanha do século XV.
Naquela época, várias raças eram criadas na região, porém, acredita-se que o cavalo crioulo é originário das raças espanholas Andaluz e Jacas (também conhecida por Rocines).
A raça jacas é uma antiga raça de cavalos nativos espanhóis das regiões da Galícia, Navarras e Andaluzia. Eram conhecidos pela valentia e resistência.
A partir da chegada de Colombo na América, em 1492, várias foram as expedições espanholas que trouxeram estes cavalos para o novo continente.
Os andaluzes e os jacas teriam sido escolhidos para cruzar o oceano por serem os mais resistentes e aptos para afrontar as dificuldades no novo continente e pelo fato dos portos de embarque das expedições estarem localizados nas regiões onde estes cavalos eram criados.
Introdução na América
A primeira vez que os cavalos descendentes dos Crioulos tocaram o solo americano foi em 1493, quando Cristovão Colombo desembarcou na Ilha de São Domingos na sua segunda expedição ao novo continente.
Desde então, estes cavalos espalharam-se pela América, durante todo a século XVI, a partir de três pontos de entrada, sendo eles:
Ilha de Santo Domingo
Foi o primeiro local de chegada. Em seguida passaram para o continente, entrando pelo Panamá e Colômbia. Pizarro os introduziu no Peru, tornando-se, a região de Charcas, um grande centro de criação de equinos.
Daí o cavalo foi levado ao Chile, por Valdívia, e, em 1548 entrou em território argentino, na região de Tucuman. Em 1573 chegou nas províncias argentinas de Córdoba e Santa Fé e, finalmente, em Buenos Aires e ao pampa;
Rio da Prata
Pedro de Mendonza desembarcou no Rio da Prata, em 1535, para fundar Buenos Aires. Em sua expedição havia 72 equinos que viriam a ser considerados de extrema importância para a formação do cavalo crioulo argentino.
Costa Brasileira
O desbravador Cabeza de Vaca chegou a Santa Catarina, em 1541, com 46 dos 50 cavalos que partiram da Espanha. Com eles, atravessou o território brasileiro até a cidade de Assunção, no Paraguai. Em seguida, foram introduzidos no chaco argentino para depois atingirem o Rio da Prata.
O século XVI foi marcado pelo desbravamento e assentamento no novo território. Estes cavalos, disseminados ao longo deste século na América, foram de fundamental importância para o sucesso destas empreitadas.
Nasce a Raça Crioula
A partir do século XVII, muitos cavalos foram perdidos ou abandonados ao acaso. Passaram a ser criados livres, formando inúmeras manadas selagens distribuídas pela imensidão da América, com suas cordilheiras e pampas.
Durante o período de formação da raça, as inúmeras manadas, espalhadas pelo novo continente, tiveram diferentes destinos.
Nos Estados Unidos e México, as prolongadas guerras e o cruzamento com outras raças fizeram desaparecer os cavalos descendentes dos crioulos.
Na Colômbia e Venezuela, as altas temperaturas, a alimentação e a geografia local alteraram em muito a aparência e a estatura dos cavalos.
Os crioulos, da forma como hoje são conhecidos, ficaram concentrados, principalmente, no sul da América, onde hoje está a Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai e o sul do Brasil.
Durante cerca de quatro séculos, a raça crioula foi forjada através da seleção natural. Os cavalos foram perseguidos por homens e predadores, passaram sede, fome e precisaram aguentar temperaturas extremas, desde as fortes geadas do inverno até o rigoroso sol do verão.
A raça crioula foi moldada desta forma, em um ambiente hostil onde somente os mais fortes sobreviviam e conseguiam passar para gerações futuras seus genes.
Essas adversidades imprimiram nestes animais algumas de suas características mais marcantes, como a rusticidade e a resistência.
Em meados do século XIX, após este período evolutivo, os fazendeiros do sul da América começaram a tomar consciência da importância e da qualidade dos cavalos crioulos que vagavam por suas terras.
Esta nova raça, bem definida e com características próprias, passou a ser preservada desde então, vindo a ganhar notoriedade mundial a partir do século XX, quando várias associações foram criadas e, através delas que implementaram seleção técnica rigorosa, exaltou-se e comprovou-se o valor e as virtudes do Cavalo Crioulo.
A Associação
No Brasil, em Bagé/RS, no ano de 1932, foi então fundada a Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC), com a missão de preservar e difundir a raça no país.
Somente em 1935 que houve o registro genealógico sul riograndense e a cidade de Pelotas foi escolhida como sede da ABCCC.
Em 1944, associações crioulistas de países como Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai e Brasil, se uniram e fundaram a Fundação Interamericana de Criadores de Cavalos Crioulos – FICCC, e em 1959 foi estabelecido o padrão da raça.
Atualmente, a raça possui mais de 400 mil animais distribuídos em território brasileiro. Aliado a isso, a transmissão televisiva da prova ampliou a sua visibilidade, atraindo novos entusiastas através dos meios de comunicação vinculados ao Crioulo, cujo universo movimenta anualmente R$ 1,28 bilhão.
Provas Regulamentadas
Muito conhecido por ter longevidade e ser rústico, o cavalo crioulo além de ser utilizado para trabalhar pesado no campo, também compete em várias provas equestres, chegando a participar da “copa do mundo dos esportes equestres, jogos equestres mundiais – world equestrian games”, evento que é realizado a cada quatro anos pela Federação Equestre Internacional (FEI).
Atualmente a ABCCC tem quatorze provas regulamentadas para raça crioula, que são:
- Campereada;
- Team Penning;
- Crioulaço;
- Enduro;
- Freio Jovem;
- Freio do Proprietário;
- Freio de Ouro;
- Inclusão de Ouro;
- Marcha de Resistência;
- Morfologia;
- Movimiento a La Rienda;
- Paleteada;
- Ranch Sorting;
- Rédeas.
O Freio de Ouro
Em 1982 foi criado a prova máxima da raça, O Freio de Ouro. Mais de meio século depois da fundação da ABCCC, a prova transformou-se em uma importante ferramenta de seleção, motivando a otimização morfológica e funcional da raça.
Essa prova visa avaliar a beleza e a funcionalidade da raça em duas etapas que são a Morfologia e a Prova Funcional, por isso o título de campeão Freio de Ouro é considerado a maior conquista da Raça Crioula.
A primeira etapa é a morfologia, que avalia o padrão da raça, equilíbrio e temperamento dos animais.
Na segunda etapa, que é composta de prova funcional, são avaliados o desempenho no campo, como força e coragem, nos seguintes requisitos:
Andadura – são avaliados o tranco, trote e o galope.
Figura – o equino precisa realizar um percurso pré-determinado, demarcado com fardos de feno (ou marcadores infláveis), no menor tempo possível. Durante o percurso o cavalo não pode perder a velocidade e o equilíbrio.
Volta sobre patas e esbarrada – consiste na execução de três movimentos distintos: dois giros para cada lado do animal sobre ele mesmo, esbarrada e recuada em linha reta, sem perder a velocidade e o giro.
Mangueira – em uma mangueira de 16 x 9 m com dois bois, o ginete precisa manter apartado um novilho durante 45 segundos. Em seguida, realiza duas pechadas em um novilho.
Paleteada – é a prova principal do Freio de Ouro onde dois cavaleiros devem seguir lado a lado com um novilho na pista e ao atingir 80 m, o caminho deve ser fechado conduzindo o novilho ao retorno no brete.
Bayard-Sarmento – consiste na realização de um percurso pré-determinado, em linha reta, onde deverão ser executadas esbarradas, atropeladas, voltas sobre pata e recuada. Esta prova é realizada na última fase do Freio de Ouro junto a repetição das provas de mangueira e campo que acabam sendo decisivas na escolha do grande campeão.
Essa prova funcional leva o nome de dois importantes personagens da história do cavalo crioulo e de sua associação: Bayard Bretanha Jacques e Manuel Rossell Sarmento.
Juntos, nos anos 1980, os dois criaram a prova que hoje é uma das mais exigentes do circuito do Freio de Ouro, e que carrega para sempre o nome de seus criadores: a etapa Bayard-Sarmento. Vamos conhecer um pouco mais esses dois importantes personagens:
Bayard Bretanha Jacques
Proprietário da Cabanha Os Tuco Tuco, em Jaguarão/RS, é uma das mentes responsáveis pela criação do Freio de Ouro, maior prova de seleção da raça, sendo também por muito tempo o responsável por orientar os criadores que iniciavam na modalidade na região da fronteira. Por ter servido muito tempo no exército, é conhecido como o “Coronel Bayard”, compõe a lista de jurados eméritos da ABCCC e já participou, em diversas ocasiões, a diretoria do Núcleo de Criadores Eudóxio Correa, de Jaguarão.
Manuel Rossell Sarmento (ou Lito Sarmento, como é conhecido)
É o patriarca atual da Estância São Francisco, criatório localizado em Bagé/RS, com mais de 80 anos de história na criação da raça. É filho de Belisário Sarmento, um dos 22 fundadores da ABCCC e responsável por inserir a raça Crioula no país. A Estância São Francisco foi o criatório a receber o primeiro exemplar Crioulo registrado no Brasil, um cavalo importado do Uruguai. Lito também faz parte da lista de jurados eméritos da ABCCC.
O padrão da raça
Aspecto geral
O crioulo é um cavalo dócil, inteligente, versátil, com vida longa e, embora seja rústico, possui uma facilidade muito grande de adaptação e resistência, o que é uma das características mais marcantes.
É um animal de coragem, ativo, bondoso, inteligente, longevo, e hoje comprovadamente versátil, pois se destaca em todas as exigências que lhe são impostas.
Apresenta silhueta harmônica e equilíbrio perfeito. O peso varia entre 400 e 450 Kg, sendo considerado um cavalo de pequeno porte.
Altura mínima permitida
Fêmea 1,38 m
Macho 1,40 m
Altura máxima permitida
Fêmea 1,48 m
Macho 1,50 m
Pelagens
Seu padrão racial admite praticamente todos os tipos de pelagens, exceto pintada e albina total. Confira abaixo as variações mais comuns destas.
Características Morfológicas de um Campeão da Raça Crioula
Ângulos articulares – a correção dos mesmos além de proporcionar equilíbrio é fundamental na progressão dos andares.
Cabeça exteriorizando tipicidade racial, proporcionalidade e perfeita união ao pescoço.
Características gerais – silhueta ligeiramente retangular, equilibrada e de alto enquadramento no padrão racial.
Cascos preferencialmente pretos, proporcionais à estrutura morfológica, com correta angulação de suas paredes.
Cernelha e dorso razoavelmente delineados, com bom revestimento muscular, permitindo harmonia na continuidade da linha superior através de sua união com o lombo.
Cola deve estar inserida, representando continuidade na linha superior. O posicionamento da cola é extremamente importante pois é um detalhe de caracterização racial, assim como o seu volume.
Encontros e paletas amplos, fortes e musculosos com paletas inclinadas proporcionando amplitude nos movimentos.
Estrutura óssea forte e consistente, com correção de aprumos, proporcionando longevidade de utilização.
Flancos cheios, mostrando a sua capacidade de conversão, o que está diretamente ligado a sua resistência e poder de recuperação.
Garupa (anca) forte e musculosa de mediana inclinação, proporcionando boa descida muscular aos posteriores.
Lombo firme com correta união a garupa, proporcionando firmeza e resistência à linha superior.
Pescoço leve com correta distribuição muscular, convexo no bordo superior, retilíneo no bordo inferior, apoiado sobre o peito, caracterizando uma frente leve.
Tórax com bom perímetro, razoável arqueamento de costelas, possibilitando bom rendimento à atividade cardíaca e respiratória, fundamentais à resistência.
Patrimônio Cultural
Em 27 de agosto de 2002, o Cavalo Crioulo tornou-se animal-símbolo do Rio Grande do Sul, recebendo o reconhecimento juntamente com o quero-quero (Vanellus chilensis), o título de Patrimônio Cultural do Estado. Uma das justificativas é que o Rio Grande do Sul na época possuía 86,41% dos equinos da raça crioula do País.
Como vimos a Raça Crioula é realmente fantástica e surpreendente, talvez por isso ganhe tantos admiradores
Fontes:
ABCCC – Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Crioulo
Criando Criollos – Roberto C. Dowdall – Editorial Hemisfério Sur – Segunda Reimpresión, 1985
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