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Irrigação – Tecnologia simples e de baixo custo é alternativa para agricultura familiar

Pesquizadora Dra. Lucieta Martorano da Embrapa Amazônia Oriental demonstrando o sistema irrigapote
Há séculos, potes de argila vêm auxiliando os campesinos a sobreviver diante das agruras do clima
 
Os potes de barro são uma tradição na vida rural brasileira. Não existe uma única casa no campo que não tenha familiaridade com pote ou filtro de barro como fonte de armazenamento de água para consumo diário. Em muitos locais, ainda hoje, faz parte da cultura na Amazônia como identidade da vida rural. Há séculos, esses potes vêm auxiliando os campesinos a sobreviver diante das agruras do clima e, muitas vezes pelo abandono do poder público ao homem do campo.

Bioeconomia

Então, nada mais prático do que desenvolver um projeto usando os potes de argila para fortalecer a bioeconomia na região dando oportunidade aos artesãos que fabricam os potes como estratégia de armazenamento de água para suprir as necessidades em cultivos agrícolas. Os potes de barro foram deixados de lado com a ampliação da política nacional “Luz para Todos”, dando lugar às geladeiras nas propriedades rurais. Os potinhos, então, ganharam nova destinação.

Potes de argila em produção – detalhes do sistema já no campo
A Embrapa Amazônia Oriental e a Universidade de Makelle da Etiópia, na África, desenvolveram um projeto com o objetivo de testar soluções de baixo custo, sustentáveis e de fácil adoção pelos agricultores, como agrotecnologia de irrigação no campo. Em períodos de falta de água, as plantas possuem estratégias de sobrevivência como fechamento das aberturas nas folhas (fechamento de estômatos) para evitar perdas evapotranspiratórias e passam a emitir raízes finas em busca de água no solo. Com base nesses fundamentos agrometeorológicos o projeto, denominado pela parceria brasileira de IrrigaPote, os idealizadores do projeto pensaram em uma alternativa viável e de fácil assimilação por parte dos produtores rurais, explica a Dra. Lucieta Martorano, líder do projeto.

Assim, nasceu o IrrigaPote!

“É uma tecnologia simples, de fácil implantação, que aproveita a água da chuva e garante a colheita para as famílias”, diz Lucieta. “É uma alternativa de irrigação de baixo custo”, explica.

A tecnologia permite a oferta de água no solo em períodos de estiagem prolongada, tendo como foco a agricultura familiar.

As bases do sistema

O sistema utiliza-se de princípios da agrometeorologia, semelhante as outras técnicas de irrigação. Mas, como uma estratégia bioeconômica, o projeto pode estimular diversas atividades: o artesão pode ganhar escala de produção em polos ceramistas na Amazônia; ampliam-se as oportunidades de venda de produtos o ano inteiro pelo produtor familiar de base agroecológica; reduz-se a pegada hídrica na agricultura com o reuso de água da chuva; não utiliza energia elétrica da propriedade rural; libera o tempo do produtor para desenvolver outras atividades e agrega valor ao ambiente com a prestação de serviços ambientais nas áreas com o IrrigaPote.

Algumas publicações foram desenvolvidas e auxiliam na compreensão do funcionamento do IrrigaPote na prática (instalação, manutenção e utilização), mas esta distribuição ainda necessita de maior divulgação junto aos agricultores.

Os “dias de campo”, aulas práticas e visitas técnicas ajudam na disseminação do conhecimento, São repassadas informações sobre como instalar o equipamento, quais os formatos indicados de potes (de acordo com o local e a cultura), e sobre os instrumentos que serão utilizados (tubos, boias, conectores, higrômetros – para medição da umidade do solo –, calhas e reservatórios de água).

Como funciona

O processo aplicado é simples e como a agrotecnologias já bastante conhecidas pelos produtores. Envolve:

– Captação de água da chuva
– Armazenamento em reservatórios
– Distribuição desta água armazenada para potes enterrados e distribuídos ao longo da plantação
 
“Para aperfeiçoar a técnica, foi necessário descobrir que tipo ou formato de pote seria o mais adequado a cada cultura, medir a sua eficiência e criar um sistema automatizado para a água chegar aos potes”, diz a pesquisadora.
Os potes, que são alimentados pelo reservatório de água, são enterrados próximos às plantas que serão irrigadas. Nos potes, a presença de boias, iguais às utilizadas nas descargas sanitárias, permite que não haja desperdício de água e garante a manutenção dos potes sempre cheios.
 
Com o decorrer do tempo, as raízes das plantas envolvem os potes, sugando exatamente a água necessária e somente no período da estiagem. Quando a oferta hídrica está disponível no solo, a água do pote permanece intacta.
 
Quando o solo seca, a água armazenada condensa na superfície do pote, visto que o barro é uma substância porosa, e a raiz que envolve o recipiente passa a captar esta água condensada na superfície.
 
“O IrrigaPote aproveita a água da chuva e seu sistema não utiliza energia elétrica, resultando em economia para o agricultor que não precisa arcar com a despesa extra da conta de luz. Também ganha o meio ambiente no uso eficiente do recurso hídrico e no serviço ambiental como provisão de água”, ressalta Lucieta.
 
Esta tecnologia simples, de fácil implantação e de baixo custo garante as colheitas às famílias, gerando renda e segurança alimentar.

Dados e resultados

Em trabalhos de teses de doutorado, as pesquisas avaliaram a utilização dos potes com outras formas de irrigação de baixo custo, a exemplo do gotejamento. O resultado demonstrou, entre outros aspectos, maior eficiência dos potes por evitar a evaporação e preservar água, além de apresentar menor custo.

De acordo com Lucieta, a tecnologia é relativamente simples. A inovação do Projeto IrrigaPote refere-se as escalas de aplicação. O projeto estabeleceu protocolos, testes e pesquisas e montou unidade de referência da tecnologia (URT) na comunidade de Lavras, em Santarém, no oeste do Pará.

O que diz o produtor?

Com apoio da Emater do Pará, a pesquisadora instalou o projeto IrrigaPote na propriedade de dona Cinira e Luiz Rocha. O sítio do casal está em processo de transição agroecológica e comercializa frutas e hortaliças em uma feira semanal de produção orgânica em Santarém.

Sistema IrrigaPote no campo, na comunidade de Lavras, Santarém/PA

Dona Cinira contou que trabalha como agricultora há mais de 30 anos e que nos últimos anos vinha perdendo dinheiro e produção com a seca. “O IrrigaPote trouxe uma nova oportunidade para produzir muitas culturas em um pequeno espaço na propriedade, o ano todo”, comentou a agricultora.

A situação vem mudando desde a instalação do IrrigaPote, como festejou a agricultora. “Para nós está sendo uma experiência muito boa. Minhas plantas estavam morrendo e eu não tinha solução. Os pés de acerola, que estavam morrendo, retornaram e já deram uma boa produção desde a instalação do IrrigaPote. As outras plantas também estão renovadas e tenho certeza que só vão melhorar”, fala a produtora rural, muito feliz com o êxito do projeto.

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