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Cateto (Tayassu tajacu)

O cateto, espécie que era declarada extinta no município do Rio de Janeiro, teve sua presença registrada na região. O acontecimento indica a necessidade de preservação da floresta da Serra do Mendanha

A espécie Tayassu tajacu, conhecida como cateto, não era registrada há mais um século dentro dos limites do município do Rio de Janeiro, sendo considerada extinta localmente. Suas populações também estão em declínio no estado do Rio de Janeiro. Um estudo em desenvolvimento na Serra do Mendanha, dentro de uma Reserva Particular de Patrimônio Natural, utilizando busca ativa e armadilhas fotográficas, obteve a primeira nova ocorrência de um pequeno bando de catetos para o município do Rio de Janeiro. O estudo obteve registros de suas atividades na localidade, indicando a necessidade de preservação da floresta da Serra do Mendanha.

O cateto (Tayassu tajacu) (família Tayassuidae) possui uma distribuição geográfica que vai do sul dos Estados Unidos ao sul do Brasil, por todos os biomas brasileiros, e formando bandos com tamanhos variáveis. Ao longo de sua distribuição no território brasileiro sofrem diferentes impactos e estão sob diferentes graus de ameaça. A situação de sobrevivência da espécie internacionalmente é considerada pouco preocupante, enquanto que nacionalmente não está inclusa em lista de espécie ameaçada. Entretanto, no estado do Rio de Janeiro a espécie é considerada ameaçada como vulnerável – VU  e no município do Rio de Janeiro é dada como extinta – EX. Estas duas últimas listas já possuem cerca de 20 anos sem revisão, podendo a espécie estar em uma situação atual ainda mais crítica que a avaliada para o estado do Rio de Janeiro.

Cateto (Tayassu tajacu)
Cateto (Tayassu tajacu)

A Mata Atlântica foi fragmentada e reduzida ao longo do litoral brasileiro, pelos séculos de exploração para a agricultura, retirada de madeira, caça e pelo crescimento de áreas urbanas, ficando reduzida a grandes blocos e pequenos fragmentos isolados no estado do Rio de Janeiro, reduzindo as populações de mamíferos silvestres. Esta forma de exploração levou ao desaparecimento do cateto em diversas regiões do estado, estando associada principalmente à perda de hábitat e à caça ilegal. No estado do Rio de Janeiro são conhecidas populações para a região do Itatiaia, Serra dos Órgãos e Tinguá.

Imagens foram capturadas por armadilhas fotográficas em um estudo de mastofauna dentro de uma área protegida particular, como o primeiro registro da espécie para o município do Rio de Janeiro depois de quase um século sem informações científicas e apenas com antigos relatos populares de sua ocorrência dentro de uma região urbanizada e impactada.

O maciço do Gericinó-Mendanha possui relevo com altitudes que variam de 20 a mais de 900 m, com uma declividade variando entre 25° a 45°. O clima predominante é o tropical de inverno seco e verão chuvoso (Aw) e ocorrem também pequenas variações microclimáticas associadas ao relevo local. A temperatura média anual oscila em torno de 18° a 24°C, com precipitação média anual de 1.200 a 2.000 mm. Neste maciço está inserida a Reserva Particular do Patrimônio Natural Bicho Preguiça (RPPNBP) que possui 1,73 ha (22°46′00″, 22°51′00″S e 43°36′′00″, 43°26′00″W, SAD 69).

Mapa de localização do Maciço Gericinó-Mendanha
Mapa de localização do Maciço Gericinó-Mendanha
Mapa de localização da Reserva Particular do Patrimônio Natural Bicho Preguiça, município do Rio de Janeiro, RJ
Localização do maciço do Gericinó-Mendanha, com destaque para a Reserva
Particular do Patrimônio Natural Bicho Preguiça, município do Rio de Janeiro, RJ, onde
foi confirmada a presença do cateto (Tayassu tajacu)

Os registros da mastofauna terrestre da RPPNBP e em seus arredores estão sendo realizados nas trilhas existentes, durante um inventário utilizando como método a busca ativa de indivíduos e de seus rastros, também com a utilização de quatro armadilhas fotográficas sem utilização de iscas atrativas.

Foram registradas as primeiras novas ocorrências do cateto através de fotos de pegadas e indícios de forrageio de um bando na área da propriedade desde 03 de maio de 2017 e fezes foram encontradas em 21 de junho de 2017. A primeira foto da espécie foi realizada em agosto de 2018, enquanto que a segunda foi em dezembro de 2018, ambas com o uso de armadilhas fotográficas, que confirmaram a ocorrência da espécie na região. O estudo confirma a existência de uma população de cateto, no maciço do Gericinó-Mendanha.

Fotos que comprovam a presença do cateto na área
Registros da presença do cateto (Tayassu tajacu) no maciço do Gericinó-Mendanha: (A) Pegada encontrada; (B) Fezes encontradas; (C e D) Indivíduos de um bando em atividade de forrageamento. Reserva Particular do Patrimônio Natural Bicho Preguiça, município do Rio de Janeiro, RJ – Fotos: Rafael Andrada

A espécie foi dada como extinta no município do Rio de Janeiro, apesar de o maciço ser considerado um dos mais importantes fragmentos florestais para a conservação da fauna e em bom estado de conservação na Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro. A população registrada está pelo menos a 15 Km do maciço do Tinguá, local onde se encontra outra população mais próxima, sendo as regiões separadas por uma matriz urbana de altíssima densidade populacional.

Entretanto, os pesquisadores acreditam que a falta de registro desta espécie por cerca de 80 anos foi devido à reduzida quantidade de estudos específicos para a mastofauna no maciço do Gericinó-Mendanha, contando apenas com relatos de caçadores e naturalistas que incursionaram pela região. Não descartam também que a redução de atividades cinegéticas na região, bem como a implantação de unidades de conservação e o aumento de estudos na região e da fiscalização tenham contribuído para a sobrevivência desta população.

Cateto (Tayassu tajacu)

Os taiassuídeos são importantes no equilíbrio de ecossistemas, disseminando sementes, predando pequenos animais, revirando e fertilizando o solo e a existência do cateto, de grande importância para o ambiente natural, deve ser mantida por esforços conservacionistas. Nesse sentido, em 2013 foi criada a maior Unidade de Conservação (UC) de proteção integral da região, o Parque Estadual do Mendanha (Estado do Rio de Janeiro, 2013) que foi um marco importante, embora ainda não possua plano de manejo. Desse modo, os pesquisadores recomendam fortemente, como estratégia de conservação, que o futuro plano de manejo contenha programas e projetos específicos para a manutenção desta espécie e de outras recém-descobertas na Serra do Mendanha(https://pt.wikipedia.org/wiki/Serra_do_Mendanha), garantindo assim que futuras políticas públicas contemplem diretamente essa fauna.

Artigo baseado na publicação científica no Boletim da Sociedade Brasileira de Mastozoologia, dos pesquisadores Rafael Andrada de Araújo Martins1 e Jorge Antônio Lourenço Pontes2

1Laboratório de Zoologia de Vertebrados, Centro Universitário São José, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2 Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências, Ambiente e Sociedade – Faculdade de Formação de Professores, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, UERJ. São Gonçalo, RJ, Brasil.

Catetos (Tayassu tajacu)

CATETO (Tayassu tajacu)

Características – também chamados de caititus ou catitus. Selvagem e resistente. Em geral, um adulto chega a ter 50 cm de altura e 1,0 m de comprimento, podendo pesar 35 Kg. A pelagem é grossa e acinzentada. Na linha do pescoço, os pelos brancos e longos formam um colar, característico da espécie. As patas são pretas e curtas, sendo que as dianteiras têm 4 dedos e as traseiras, apenas 3. Os dentes caninos são protuberantes e ficam para fora da boca. Embora seja um suídeo, o cateto tem um estômago compartimentado, semelhante ao dos ruminantes. Isso faz com que o animal seja pouco exigente em alimentos ricos em proteína e se adapte bem com forragens.

Habitat – florestas úmidas, mas sobrevive até em áreas devastadas

Ocorrência – do Sudoeste dos Estados Unidos (Texas, Novo México, Arizona) até os países das Américas Central e Latina.

Ocorrência

Hábitos – são animais gregários. Vivem em pequenos grupos de 5 a 20 indivíduos de ambos os sexos. Geralmente são liderados por um macho, e tanto os pais quanto os outros adultos do bando protegem as crias. Para se identificar, esfregam uns nos outros uma glândula localizada no dorso que excreta um odor forte. O cheiro também serve para reconhecer o território. Sempre lutam juntos contra os inimigos, fazendo um barulho com os dentes e o queixo. Quando fogem, no entanto, cada animal vai para um lado, o que facilita a ação de predadores. É por isso que existe um provérbio mineiro que diz que “cateto fora da manada cai no papo da onça”. Embora sejam agressivos, são facilmente domesticáveis. Apesar de não serem semi-aquáticos, como a capivara, conseguem nadar.

Catetos (Tayassu tajacu)

Alimentação – frutas, raízes, talos e pequenos animais.

Reprodução – uma fêmea é capaz de dar à luz duas vezes por ano. Em um plantel, um macho pode fecundar 5 matrizes, sendo que cada uma tem 2 filhotes. Como um período de gestação dura em torno de 4 meses, é possível ter 20 filhotes em um ano.

Predadores naturais – onça quando encontra algum animal desgarrado do grupo.

Caça ilegal
Caça ilegal

Ameaças e utilização – animal muito caçado pela carne apreciada. É facilmente domesticado e pode ser uma fonte de alimentação rica em proteínas. Além da carne, que tem sabor parecido com a de porco, mas é menos gordurosa, o couro é exportado para o Japão, que o utiliza na fabricação de luvas de beisebol. Para criar cateto em cativeiro é necessário, em primeiro lugar, obter autorização do Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, que estabelece uma série de exigências como, por exemplo, o número inicial de matrizes e reprodutores, um esboço do local de instalação desses animais, o tipo de alimentação oferecida aos animais e o parecer de um técnico responsável pelo criatório. Embora sejam selvagens, os catetos se reproduzem bem em cativeiro, podendo dobrar o plantel por ano. O manejo é relativamente fácil e, se for bem feito, pode fazer com que os animais se tornem mais dóceis.

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