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Robalo

A carne é simplesmente saborosa. Na pesca é um peixe brigador como gostam os pescadores. Presente por toda a costa brasileira, o peixe tem possibilidade de ser produzido em açudes, lagos e represas, graças à boa adaptação a diferentes ambientes

O Brasil é um país privilegiado por muitos rios e banhado por uma extensão marítima de de cerca de 8 mil Km. Mais uma vantagem é ter um peixe de excelente qualidade e versatilidade de manejo, tanto em água água salgada, salobra ou doce, uma escolha certeira para se criar nos quatro cantos do território nacional. Pertencentes ao gênero Centropomus, os robalos são peixes de escamas, característicos de toda a costa brasileira, que pode ser produzido em açudes, lagos e represas, até vários quilômetros acima da foz dos rios, graças à tolerância e adaptação a variações de salinidade no ambiente aquático.

Robalo

Por ser resistente e suportar essas grandes variações de salinidade na água, o robalo consegue nadar adentro por estuários, rios, lagunas e lagoas de água salobra ou doce. O robalo gosta de nadar em águas calmas e sombreadas, permanecendo na parte mais funda do leito dos rios. No ambiente natural, vive em grandes cardumes quando jovem, mas torna-se solitário ao atingir a idade adulta, formando grupos apenas no período de reprodução. Tal capacidade, aliada ao hábito de viver em cardume na natureza e à boa taxa de conversão alimentar, permitiu o desenvolvimento de pesquisas e técnicas para a lida do peixe em cativeiro, surgindo para o empreendedor mais uma atividade de engorda comercial rentável na piscicultura. Pesquisas realizadas ao longo dos últimos anos abriram a possibilidade de criação de robalo em cativeiro. As técnicas de reprodução, larvicultura e engorda estão hoje dominadas e permitem incluir a espécie entre as opções da piscicultura comercial.

Com a combinação do sabor suave da carne de qualidade com o preço do quilo valorizado e boa demanda no mercado, sobretudo do filé, de fácil separação e alto rendimento, a criação do robalo apresenta potencial para aumentar o orçamento do piscicultor. É benéfica para a saúde do consumidor, dotada de ácidos graxos poli-insaturados ômega 3, baixo teor calórico e pouca espinha e gordura, sendo apreciada tanto crua (em versões de ceviche ou em receitas da culinária japonesa), quanto cozida, assada, grelhada ou na composição de pratos típicos, como moquecas e ensopados.

Robalo

O peixe também faz sucesso na pesca esportiva, devido à agressividade no ataque às presas, que incluem peixes pequenos, camarões, caranguejos, entre outros crustáceos, e também por apresentar um nado ágil, que é favorecido pelo seu corpo alongado.

A reprodução em cativeiro é uma fase que requer conhecimento especializado, pois a ovulação e a desova das fêmeas ocorrem somente por meio de indução hormonal, enquanto os machos liberam o sêmen quando têm o ventre pressionado manualmente.

Da fertilização, que necessita que os reprodutores permaneçam em um tanque de maturação e com alto nível de salinidade na água, até a eclosão, levam-se mais de 15 horas a uma temperatura específica, de acordo com a espécie manejada.

Além disso, outro processo delicado para a sobrevivência do robalo é o da larvicultura, que demora 60 dias até atingir o tamanho adequado para ser transferido para o berçário ou pré-engorda.

A criação pode ser realizada com duas espécies, sendo o robalo-peva ou camorim-corcunda (Centropomus parallelus) indicado para as regiões Sul e Sudeste e robalo, robalo branco ou robalo flecha (Centropomus undecimalis) para o Norte e Nordeste. O peva é a espécie sobre a qual há mais conhecimento à disposição para criação e produção de alevinos.

Características das espécies:

Robalo peva (Centropomus parallelus)

Centropomus parallelus camorim-corcunda ou robalo peva – ocorre em boa parte da costa oeste do Atlântico, principalmente do Golfo do México a Santa Catarina. Os exemplares adultos podem alcançar em torno de 70 cm e pesar até 5 Kg. Tem cabeça grande com focinho longo, abas e olhos grandes posicionados lateralmente. Dentes viliformes (pequenos e muito juntos). O corpo varia do castanho-amarelado a castanho-avermelhado. Tem um brilho prateado nos lados e na barriga e uma linha lateral escura. Corpo alongado, comprimido, com o dorso convexo acentuado, e suave concavidade abaixo dos olhos, boca grande. A maxila inferior ultrapassa a superior, o pré-opérculo tem a margem superior serrada e o opérculo é liso, com a margem posterior membranosa bem desenvolvida. As nadadeiras dorsais são separadas, com a anterior formada por 8 espinhos e a posterior com 1 espinho e de 8 a 11 raios. A nadadeira anal é curta e formada por três espinhos (o segundo maior) e de 5 a 8 raios. As nadadeiras pélvicas estão localizadas abaixo das nadadeiras peitorais. Sua linha lateral, com 65 a 70 escamas ou 79 a 89 escamas quando contadas logo abaixo da linha lateral (onde são contadas as escamas para identificação da espécie), prolonga-se até a extremidade dos raios médios da nadadeira caudal. O ramo inferior do primeiro arco branquial tem de 10 a 12 rastros excluindo-se os rudimentos. Por ser menor que o robalo flecha, apresenta desvantagem no valor comercial, já que o preço varia de acordo com o tamanho. Seu principal habitat são os estuários e os manguezais. Passa a maior parte da vida nos manguezais, principalmente em meio às raízes de mangue, onde se esconde de predadores maiores ou se embosca para caçar. Pode ser encontrado vários quilômetros adentro dos rios. Os adultos são solitários e os juvenis podem viver em cardumes. Migram para o oceano apenas em épocas de reprodução, pois os espermatozoides só se tornam ativos em águas com alta salinidade. Apresentam desova parcelada sincrônica, podendo desovar mais de uma vez ao ano. São hermafroditas protândricos, ou seja, todos os alevinos nascem macho e, alguns, a maioria, se transformam, com cerca de 3 anos de idade, em fêmeas. Defendem território, o que, muitas vezes, justifica o ataque a outros peixes. A dieta dos juvenis é composta principalmente de pequenos crustáceos, como camarão e corrupto. Já a dos adultos, principalmente por pequenos peixes, como lambari, manjuba e parati, além de camarão e siri.

Robalo flecha (Centropomus undecimalis)

Centropomus undecimalis robalo-flecha, robalo, robalo branco ou camurim açu – ocorre com mais frequência dos Estados Unidos ao estado do Rio de janeiro. É maior que o robalo peva, podendo o adulto chegar a 1,2 m de comprimento e 25 Kg de peso. Peixe de escamas com corpo de formato alongado de cor prata, boca ampla com mandíbula inferior saliente. Coloração do dorso acinzentada com reflexos esverdeados e o ventre esbranquiçado. Nadadeiras amareladas, principalmente a dorsal. A linha lateral é uma listra longitudinal negra que se estende ao longo do corpo até o final da nadadeira caudal. Habita as regiões costeiras e estuarinas de águas salgadas e salobras, em baías, estuários, manguezais, rios e lagoas. Nada em cardumes. Sobe os rios para desovar, geralmente no inverno. É uma espécie valorizada na pesca esportiva e sua carne é considerada de primeira com grande valor comercial. Sobe os rios para desovar. Gostam de águas calmas, barrentas e sombreadas, e ficam próximos ao fundo. Sua tolerância a alteração da salinidade está relacionada com o seu processo reprodutivo, uma vez que o robalo procura o deságüe de rios no mar para concluir o seu ciclo reprodutivo. Não gostam de água fria, e aproveitam o movimento das marés e correntes para atacar as suas presas, principalmente na vazante. Carnívoro voraz, alimentando-se de pequenos peixes e crustáceos, especialmente camarões e caranguejos.

Distinções entre o robalo-peva e o robalo-flecha:

  • altura – o peva é mais largo, o que justifica seu nome popular nos países de língua inglesa, fat snook;
  • distância das nadadeiras dorsais – no peva são bem próximas, ao contrário do flecha que são distanciadas;
  • coloração da nadadeira caudal – o peva apresenta coloração escura, enquanto o flecha, amarela;
  • estrutura da nadadeira anal – o peva apresenta o segundo raio maior que o terceiro, no flecha não existe essa característica;
  • tamanho em geral – o peva é menor que o flecha.
Diferenças entre o robalo flecha e o robalo peva

Estudos indicam, ainda, que o robalo flecha tolera maiores taxas de salinidade que o peva. Outros fatores diferenciam os pevas dos flechas, e também diferenciam esses dois das outras espécies do gênero. Somente no neurocrânio, os robalos possuem cerca de 15 ossos, e o formato de cada um desses ossos é diferente em cada espécie.

Detalhes para o sucesso da criação:

Ambiente – Calmo e gregário, são duas características do robalo que podem explicar a pouca exigência que o peixe tem em relação à quantidade de oxigênio na água. Mesmo assim, a água deve ser bem oxigenada, com aproximadamente 2 a 5 mg de oxigênio por litro. A espécie também é tolerante às oscilações de temperatura, inclusive em relação à grande amplitude entre 10ºC e 35ºC. Contudo, é bom ressaltar que o apetite e o crescimento do robalo são inibidos abaixo de 20ºC. A água deve ser limpa e de boa qualidade, sendo o pH 8 para a salgada e o de 7 a 9 para a doce.

Robalo no manguezal

Estrutura – A criação pode ser manejada em tanques escavados, açudes e represas. Ainda podem ser usados tanques de concreto, lona e fibra de vidro. Em locais com boa profundidade, uma opção são os tanques-redes, com pelo menos 3 m, e o tanque-berçário, com 1 m. É importante certificar-se de que o tamanho da malha não deixará o peixe preso, pois o robalo tem a cabeça em ponta, enroscando-se com facilidade na rede. Se a área for muito grande, é melhor manter os peixes concentrados em um cercado por um a três meses, fornecendo alimentação, para que se acostumem ao ambiente. Ao liberá-los, não deve haver predadores maiores que o robalo no local. Em relação a tanques retangulares, esses devem ter dimensões de 4 x 2 m, e circulares, com 3,2 m de diâmetro e 1,2 m de altura. Em ambas as opções deve ser mantido o fluxo contínuo ou o sistema de recirculação, com renovação de água entre 10% e 30% por dia. A densidade de estocagem varia entre 2 e 5 Kg/m3, enquanto para o robalo-flecha o limite superior é de 3 Kg/m3. No caso do flecha, a recomendação é utilizar tanques circulares maiores, com 4 m de diâmetro. O sistema de recirculação deve contar com filtros de areia e biológico, fracionador de espuma e lâmpadas ultravioletas. A renovação da água deve ser garantida entre 30% a 50% do volume por hora. Uma alternativa é o uso de canais de abastecimento.

Alimentação – O robalo é carnívoro e predador. Em criação extensiva gosta de comer outros peixes, como lambari em água doce e tainha e sardinha no mar, além de crustáceos. Camarão é um dos alimentos preferidos. Em criação intensiva, forneça rações comerciais formuladas para carnívoros, como truta ou beijupirá.

Ração comercial formulada para peixes carnívoros

Reprodução – Em cativeiro, o macho do peva está pronto para ser pai no segundo ano de vida. Já o do flecha, no primeiro ano, porém recomenda-se utilizá-lo como reprodutor somente após atingir 2 Kg de peso. Embora comece mais cedo, a maturidade sexual da fêmea do peva torna-se excelente a partir de 3 anos de idade, enquanto a da do flecha pode levar muitos anos. A desova ocorre exclusivamente no verão, em regiões mais frias, e durante quase todo o ano em locais mais quentes. Em laboratórios, onde se faz um rígido controle ambiental, é possível produzir juvenis na maior parte do ano. É recomendado realizar a fecundação artificial em laboratório por meio de indução hormonal. Em criações cujo objetivo é a engorda de alevinos, a dica é deixar a fase de reprodução aos cuidados de especialistas. O processo é complicado e exige experiência e habilidade profissional para lidar com a indução de hormônios nas matrizes.

Alevinos de robalo flecha (Centropomus undecimalis)
Alevinos de robalo flecha (Centropomus undecimalis)

Alguns números

  • Criação mínima: um milheiro de alevinos com 3 a 5 cm de comprimento
  • Custo: R$ 6 mil é o preço do milheiro
  • Retorno: as vendas podem ser iniciadas a partir de um ano a um ano e meio de criação, dependendo da região
  • Reprodução: na maior parte do ano, por indução hormonal em laboratório

Informações sobre a atividade e aquisição de alevinos

Procure adquirir alevinos de criadores idôneos, com referências e em laboratórios de piscicultura e centros de produção e propagação de organismos aquáticos. Frequente cursos e eventos sobre o assunto, visite universidades e criadores experientes e informe-se por publicações (livros, impressos, internet, etc.). Estude muito antes de iniciar o seu projeto e tenha o acompanhamento técnico de profissional habilitado.

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