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Cora Coralina
TODAS AS VIDAS
Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé
do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço…
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo…
Vive dentro de mim
a lavadeira
do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde
de São-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada,
sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
Enxerto de terra,
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha…
tão desprezada,
tão murmurada…
Fingindo ser alegre
seu triste fado.
Todas as vidas
dentro de mim:
Na minha vida –
a vida mera
das obscuras!

(Cora Coralina)

 

É esse poema que dá nome ao filme Cora Coralina — Todas as Vidas, documentário do diretor Renato Barbieri que cruza constantemente a fronteira entre fatos e ficção da vida da poetisa.

 
Inspirado livremente no livro “As Raízes de Aninha”, de Cora, Todas as Vidas é um retrato poético-documental da vida de uma das grandes escritoras da literatura brasileira
 
A porta de entrada do filme sobre a vida de Cora Coralina não poderia ser outra, senão a poesia. Mas o documentário valoriza, acima de tudo, a produção artística de Cora como um todo.

Entrevistas com estudiosos e conhecidos de Cora são intercalados com a declamação e interpretação de sua poesia. O resultado expressa a alma feminina de forma nua e crua.
 
Os poemas são declamados por diversas atrizes. Os poemas contam a vida da poeta em primeira pessoa, desde a infância até sua “idade mais madura”!

Cora Coralina representa as mulheres de forma exemplar e mesmo com todas as limitações impostos pela sociedade de seu tempo — ela nasceu em 1889 e faleceu em 1985.
Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, nome de batismo de Cora, publicou seu primeiro livro aos 75 anos e, hoje, é uma das maiores escritoras brasileiras.

O documentário se apresenta com uma linguagem simples e belas imagens do interior, bem ao estilo de Cora.

Um pouco da vida da escritora
 
Todas as Vidas mostra uma Cora Coralina desconhecida pela maioria dos brasileiros.
 
Muito antes de ser escritora ou do termo “empoderamento feminino” ser cunhado, Cora estava fugindo com seu amado montada em um cavalo para começar uma nova vida. Viúva, se negou a desistir da emancipação. Mudou profundamente cada lugar por onde passou, defendendo políticas ambientalistas e filantrópicas.
Quando o peso de seus encargos pareceu pesar sobre os ombros, lembrou-se daqueles que se encontravam em situação pior e prometeu “nunca mais dizer que está cansada”.
Cora foi uma mulher que viu o futuro dela…
ela quis alguém mais, montou numa garupa
de um cavalo e se foi. Isso para mim é uma vitória.
Essa ida de Cora é o despertar da mulher no dia de hoje!”
Antolinda Borges (Tia Tó) – amiga e diretora do 
Museu de Arte Sacra (Goiás)
Cora não é um exemplo apenas para mulheres, mas para qualquer um que tenha um sonho e sofra reveses na jornada da vida. E não há melhor forma de começar a corrigir isso do que conhecendo melhor Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, Cora Coralina, Aninha. 

Ficha:

Cora Coralina, Todas as Vidas, 2015 – Brasil
Direção: Renato Barbieri
Roteiro: Renato Barbieri & Regina Pessoa
Elenco: Camila de Queiroga Salles, Camila Márdila, Maju Souza, Tereza Seiblitz, Walderez de Barros, Beth Goulart, Zezé Motta & João Antônio
Fotografia: Waldir de Pina
Trilha Sonora: Luiz Olivieri & Eduardo Canavezes
Montagem: Neto Borges
Design de Produção: Henrique Dantas
 
Assista o documentário
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