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Dia da Consciência Negra
Dia de reflexão e celebração
 
Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais … inda mais… não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí… Que quadro d’amarguras!
É canto funeral! … Que tétricas figuras! …
Que cena infame e vil… Meu Deus! Meu Deus! Que horror!
 
13 de maio de 1888 marca um dos fatos mais importantes da história do Brasil e do mundo. Deveria ser o fim de uma era em que o lado mais sombrio do ser humano se manifestava por meio da escravidão!
O mundo está repleto de exemplos desta pecha maligna que marca a alma humana. As Cruzadas Cristãs, com milhares e milhares de mortes e escravização das “bestas (os sem alma, como também eram vistos os negros); o colonialismo sangrento e assassino dos europeus que exploravam, pilhavam, escravizavam e cometiam genocídios em nome do desbravamento e das suas realezas; o Holocausto, que matou mais de 6 milhões de judeus; o Apartheid, política de segregação que até hoje, em pleno 2020, deixa o solo sul-africano manchado de sangue; o genocídio cometido pelo ditador cambojano Pol Pot que acabou com 20% da população do próprio país; os mais de 1,5 milhões de Alemães que morreram ao serem expulsos por Stalin dos territórios conquistados por seu exército; o massacre cometido pelo mongol Tamerlão, que pretendia resgatar a glória do império de Gengis Khan, e sozinho exterminou 5% da população mundial da época… Meu Deus! Quanta atrocidade.
 
Era um sonho dantesco… o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros… estalar de açoite…
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar…

Maria Auxiliadora da Silva – Plantação 
Maria Auxiliadora da Silva – Refeição
 
E o pior é que essa história ainda se repete em cidades americanas, um dos países considerados mais avançados do mundo, com a polícia americana que deveria “servir e proteger”, como diz o seu orgulhoso lema, matando negros indefesos com tiros pelas costas! Em diversos lugares do mundo, o assassinato e perseguição de judeus ainda perdura. E no Brasil, com a situação ainda precária e submissa a que os negros são submetidos. São vários exemplos de atrocidades que ainda continuam a acontecer. 
 
Voltando ao primeiro parágrafo, onde dissemos “deveria ser o fim de uma era”, é justamente por isso. Pelas condições subumanas em que vivem negros pelo mundo e no Brasil.
 
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!

Rosana Paulino – Musa Paradisíaca, 2018
 
Os negros libertados não tiveram nada além de uma lei que afirmava isto! Mas na realidade, eles continuaram vivendo em condições de miséria e total abandono.
 
E á assim até hoje! Vivemos em uma sociedade que não gosta de preto, de nordestino e de pobre! Uma sociedade racista e elitista que preza mais por seus benefícios e privilégios do que pela igualdade e justiça!
 
Mas como é Dia da Consciência Negra, vamos nos ater àqueles que ajudaram a construir este país, a oitava maior economia do mundo (era pelo menos há alguns dias… Já há notícias de que passamos a ser a 12ª – triste realidade!!!), com as costas lanhadas, sangrando, graças aos desmandos dos senhores de engenho, os coronéis e os escravagistas – gente da pior espécie!
 
Desde a assinatura da Lei Áurea, o povo negro tem de lutar para conquistar reconhecimento e igualdade. Cento e trinta e dois anos depois, os movimentos negros continuam sua batalha contra o racismo do dia a dia e a desigualdade na sociedade brasileira.
 
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!

Rosana Paulino – Obra da série “Bastidores”, 1997
 
As poucas, populistas e falsas – já que aqui é o país das leis que “não pegam” – políticas de reparação nunca restituíram a dignidade humana para grande parte da população brasileira (poderíamos inserir as mulheres, os gays…).

Negros são os que mais morrem por armas de fogo.
 
Negros são os que mais sofrem com o desemprego.
 
Negros são os que menos têm acesso à educação.
 
Negros são os que menos têm acesso à saúde de qualidade.
 
Atos criminosos de desprezo contra sua raça, suas crenças, sua religiosidade, sua cultura, sua arte, sua estética, sua dignidade e sua desumanização são normais em nosso cotidiano.
 
Mas a resistência continua. Há vitórias nesta guerra inglória!
 
A população negra conseguiu maior acesso à universidade – o percentual de alunos quase dobrou entre 2005 e 2015 (governos do PT), negros conquistam espaços em posições de destaque em empresas, na mídia (jornalística e de entretenimento), na política, na cultura e, hoje, os negros representam maioria no setor empreendedor – entre 2002 e 2012, 50% dos micro e pequenos empresários se autodeclararam negros ou pardos, 49% se autoafirmaram brancos.
Renata Felinto – da série Afro Retratos
 
Ontem plena liberdade,
A vontade por poder…
Hoje… cúm’lo de maldade,
Nem são livres p’ra morrer. 
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute… Irrisão!… 

 
Especialmente na política, o número de deputados negros cresceu quase 5% na eleição de 2018 na comparação com 2014. Dos 513 deputados eleitos, 385 se autodeclaram brancos (75%); 104 se reconhecem como pardos (20,27%); 21 se declaram pretos (4,09%); 2 amarelos (0,389%); e 1 indígena (0,19%).
 
A verdade é que a dívida que o Brasil tem com os negros é muito maior do que as ações que determinaram marcos jurídicos importantes como a lei que criminaliza o racismo, a injúria racial, além da igualdade racial e a lei das domésticas.

 

E precisamos pagar o mais rapidamente possível esta dívida!

Vivemos um momento importante. Em que, não apenas no Brasil, mas no mundo, a direita ultraconservadora se arvora pelos quatro cantos do poder e sinaliza retrocessos humanitários preocupantes.

Maxwell Alexandre — Underdog Collection
 
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! …
Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares! 
 

É preciso que os homens bons se atentem para isso. E que sejam tão resistentes e persistentes quanto os de má índole!

É preciso dar um fim à intolerância, à discriminação, à banalização da agressão diária e ao desbragado tratamento de cidadão de segunda classe que é conferido aos pretos (pobres, mulheres, gays, trans, indígenas, nordestinos… nossa é tanta gente esquecida e humilhada neste país!) de forma natural, intencional (o que e pior!) na maioria dos espaços públicos e privados, todos os dias!

A lembrança, o respeito e o dever da homenagem a todos estes cidadãos submetidos a condições de subvida são o combustível e a energia que nos movem, nos orientam e nos convocam nesse Dia Nacional da Consciência Negra.
 
Como canta Elza Soares, na música A Carne, composição de Ulisses Cappelletti, Jorge Mario Da Silva (Seu Jorge) e Marcelo Yuka, “a carne mais barata do mercado é a minha carne negra!” E isso tem que acabar. E cabe a nós acabar com isso! Os homens de bem que ainda andam soltos pelos cantos do país, desunidos e paralisados pela desesperança que os horizontes nos mostram.
 
Elza Soares – A Carne (Ao Vivo no Auditório Ibirapuera – Autoria –
Marcelo Yuka; Seu Jorge; Ulisses Cappelletti)
 

A carne mais barata do mercado é a minha carne negra
Que vai de graça pro presídio
E para debaixo do plástico
Que vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos
A carne mais barata do mercado é a minha carne negra
Que fez e faz história
Segurando esse país no braço
O cabra aqui não se sente revoltado
Porque o revólver já está engatilhado
E o vingador é lento
Mas muito bem intencionado
E esse país
Vai deixando todo mundo preto
E o cabelo esticado
Mas mesmo assim
Ainda guardo o direito
De algum antepassado da cor
Brigar sutilmente por respeito
Brigar bravamente por respeito
Brigar por justiça e por respeito
De algum antepassado da cor
A minha carne negra já está cansada de ser presa
De viver debaixo do papel preto de lixo
Tudo o que acontece é minha carne negra
Tudo o que acontece é minha carne negra
Vamos dar um basta, está na hora de acabar com a violência
A violência a violência
Nós vivemos hoje num país de guerra e não tomamos conta
Estamos esperando o quê?
Esperando o que mulheres do meu país
As matriarcas
Vamos à luta, vamos à luta
Precisamos de liberdade, paz, paz
Vamos à luta
Arrebentar as correntes
Tirar as grades de nossas portas
A liberdade
O direito de ir e vir
Saber que seu filho volta pra casa
A liberdade a liberdade
A minha carne negra
Negra negra negra negra
A minha carne negra
Negra negra justiça negra negra
Chega de ter meninas com treze anos levando tiro
Negra

(Em verde – Trechos do poema Navio Negreiro de Castro Alves)

Consciência Negra – Documentário (TV Justiça)
 
 
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