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Opinião – Pecuária – Aumento de produção com mais florestas

Rebanho nelore

A pecuária bovina é fundamental para a economia brasileira e para a o sistema de alimentação global. Mas é vista como um dos grandes vilões no quesito desmatamento e destruição de áreas de preservação natural.

No entanto, vários estudos apontam que a recuperação de áreas degradadas seria vantajosa para a expansão das atividades pecuárias sem aumentar a pressão sobre os recursos naturais.

Ou seja, na verdade, recuperar áreas degradadas é apenas uma estratégia, mas a melhor estratégia para expansão da atividade. As práticas de intensificação que já vêm sendo adotadas por parte dos produtores podem proporcionar ao país um incremento de aproximadamente uma vez e meia o rebanho bovino do Uruguai apenas nas áreas já destinadas a pastagens!

A pecuária bovina é altamente produtiva em muitas regiões do país, mas sistemas extensivos e de baixa tecnologia ainda fazem com que o setor não alcance todo o seu potencial de eficiência.

Para se ter uma ideia, a recuperação de pastagens degradadas reconhecidas e declaradas no Censo Agropecuário – que somam 12 milhões de hectares – poderia gerar uma capacidade suporte adicional de 17,7 milhões de cabeças de gado!

Além disso, as pastagens degradadas excedentes poderiam ser destinadas à recuperação para produção pecuária, tornando possível adicionar uma capacidade de mais 9 milhões de cabeças (ou 4,9% do rebanho bovino atual) e ainda garantir 12,7 milhões de hectares para restauração, o que seria mais do que suficiente para cobrir as metas brasileiras assumidas no Acordo de Paris.

Isso significa que estes resultados seriam alcançados sem grandes rupturas, mas apenas seguindo o padrão já aplicado em propriedades com pastagens de boa qualidade nas mesmas regiões onde estão os imóveis com pastos degradados. Técnicas como adoção de curvas de nível, terraceamento, adensamento de plantio de pastagem, calagem e adubação seriam alguns exemplos.

Vejam os números:

  • Na Amazônia, o estudo mostra que o padrão médio das pastagens classificadas como “nativas” é de 0,11 cabeça por hectare, enquanto produtores com pastagens plantadas chegam a 0,91.
  • No centro-sul do Cerrado, propriedades com pastagens plantadas de qualidade chegam a 1,08 cabeça por hectare, enquanto a média atual para pastagens “nativas” é de 0,45.

A produtividade da pecuária brasileira é pelo menos 20% menor do que a dos principais competidores!

Embora os produtores rurais reconheçam pelo Censo Agropecuário a degradação de apenas 12 milhões de hectares, o número usado na modelagem do estudo, imagens de satélite mostram que a quantidade de pastagens degradadas em nível moderado ou severo pode chegar a quase 70 milhões de hectares, segundo o Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig).

Usar de maneira mais eficiente esses recursos seria bom para os produtores e para conter o impacto ambiental causado pela conversão de florestas em pastagens.

É unânime que políticas públicas e financiamentos poderiam acelerar transformação do setor. Recursos para investimento na recuperação de pastagens estão disponíveis, mas em muitos casos não exigem e nem garantem a aplicação em boas práticas de manejo. Fortalecer o Plano ABC, que condiciona o financiamento à recuperação de áreas degradadas ou outras técnicas, é uma forma de impulsionar essa transformação.

Além disso, a aplicação desses recursos poderia ser focada em regiões com alto potencial produtivo mas alta concentração de pastagens degradadas e desmatamento.

Apesar desta percepção, a pecuária é uma das atividades do setor do agronegócio com menor atendimento de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER). Dados do Censo Agropecuário mostram que a presença de assistência técnica está correlacionada com o aumento da eficiência e da produtividade. É necessário expandir esse conhecimento para um grupo muito maior de produtores.

Adequar as práticas produtivas às exigências crescentes dos mercados doméstico e internacional de zerar o desmatamento, cumprir as leis ambientais, fiscais e trabalhistas, e não tolerar relaxamento nos cuidados com bem-estar animal, é um caminho sem volta.

Acelerar essa transformação no campo trará muitos benefícios econômicos para a atividade, além de contribuir para o país cumprir com os compromissos ambientais que geram benefícios para toda a sociedade.

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