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O microrganismo Beauveria bassiana está entre as espécies de fungos entomopatogênicos mais estudadas e comercializadas na agricultura, visto o seu potencial para o controle biológico de pragas

Uma descoberta científica resultante da colaboração entre pesquisadores brasileiros e norte-americanos pode aprimorar o cultivo de fungos com potencial para controlar insetos que atuam como pragas na agricultura, também chamados de entomopatogênicos. Os cientistas descobriram que o ajuste da pressão osmótica pode diminuir a diluição do líquido no qual esses microrganismos são criados, aumentando a eficiência da sua produção e, consequentemente, de produtos biológicos (micopesticidas) para controlar pragas e doenças agrícolas, com mais economia e sustentabilidade.

Segundo o analista da Embrapa Meio Ambiente (SP) Gabriel Mascarin, esse resultado pode aumentar significativamente a eficácia e a eficiência dos biopesticidas à base de fungos, com a possibilidade de superar os produtos fúngicos tradicionais disponíveis no mercado brasileiro. Segundo o pesquisador que é um dos autores do estudo, os dados obtidos com a pesquisa indicam um caminho promissor para o desenvolvimento de micopesticidas mais efetivos e econômicos.

Colônia do fungo Beauveria bassiana - Foto: Adilson Lopes Lima
Colônia do fungo Beauveria bassiana – Foto: Adilson Lopes Lima
Inseto praga colonizado pelo fungo Beauveria bassiana - Foto: Surendra Dara
Inseto praga colonizado pelo fungo Beauveria bassiana – Foto: Surendra Dara

A pesquisa focou no impacto da pressão osmótica durante o cultivo líquido de Beauveria bassiana, um fungo capaz de infectar mais de mil espécies de artrópodes. O Beauveria bassiana é uma espécie de fungo entomopatogênico que é utilizado principalmente para o controle biológico de diversos insetos-praga na agricultura. Finalidade esta que advém do próprio ciclo biológico desse microrganismo, uma vez que ele é considerado um parasita facultativo de mais de 700 espécies de insetos. Descoberto pelo entomologista italiano Agostino Bassi, em 1835, o fungo Beauveria bassiana é uma espécie com ampla distribuição geográfica e que ocorre naturalmente no solo em muitas regiões do Brasil.

O pesquisador explica que ajustar a pressão osmótica no cultivo pode ser uma estratégia viável para acelerar e incrementar a produção desse e de outros fungos com potencial para controle de pragas, contribuindo para o avanço de micopesticidas baseados em blastoporos, inovadores e de baixo custo. Os blastosporos são células fúngicas preferenciais que, devido à sua produção simplificada por fermentação líquida submersa, enfrentam desafios de baixa produtividade e sensibilidade à dessecação.

Contudo, a pesquisa desenvolveu uma tecnologia de fermentação que não apenas melhorou a produção de B. bassiana, como também aumentou a resistência dessas células à dessecação, permitindo sua estabilidade e eficácia prolongadas, mesmo em condições de armazenamento não refrigerado, conforme descrito em patente internacional.

O processo que ajusta pressão osmótica no cultivo dos blastosporos do fungo Beauveria bassiana - Foto: Gabriel Mascarin
O processo que ajusta pressão osmótica no cultivo dos blastosporos do fungo Beauveria bassiana – Foto: Gabriel Mascarin

Além da resistência acondicionada, os blastosporos demonstraram ser tão ou mais letais que os esporos tradicionais, com potencial para infectar insetos-praga de maneira mais eficiente, sugerindo uma nova alternativa de ingrediente ativo nos futuros micopesticidas.

A pesquisa destaca a importância da pressão osmótica e do suprimento de oxigênio na alteração do metabolismo, crescimento e morfologia dos fungos, elementos cruciais para a otimização da fermentação industrial. A manipulação do ambiente de cultivo, incluindo aspectos nutricionais e físicos, abre novas possibilidades para a produção de blastosporos com aplicação em biopesticidas e bioestimulantes fúngicos, marcando um avanço significativo na agricultura sustentável e no controle biológico de pragas.

O estudo foi publicado na revista científica Applied Microbiology and Biotechnology. Além de Mascarain, participam como autores: Jeffrey Coleman (Auburn University, EUA) e Nilce Kobori e Mark Alan Jackson (USDA/ARS, EUA).

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