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Negociando a colheita

A comercialização agrícola é uma das inúmeras etapas que o produtor rural precisa se planejar periodicamente para que o resultado produtivo esperado durante a safra seja eficiente e rentável. Do plantio à colheita, diversos planejamentos são executados para que, no momento da comercialização agrícola, todo o volume produzido consiga cumprir seu papel de chegar ao consumidor final, beneficiando toda a cadeia produtiva.

O produtor rural, muito além de produzir de maneira sustentável e responsável, precisa estudar seu mercado de atuação e compreender o funcionamento da cadeia produtiva. No atual cenário agropecuário, é necessário conhecer as oportunidades e fraquezas da comercialização para conseguir extrair o melhor resultado possível durante as safras.

A rotina no campo é intensa, sem pausas ou feriados, mas para a maioria dos produtores rurais brasileiros o grande desafio não está na produção, e sim na venda. É o tão conhecido problema que afeta indistintamente tanto a pequenos e médios produtores, quanto a grandes, ainda que em diferentes dimensões. O problema reside nas incertezas a que fica exposta a atividade agropecuária:

  • que envolvem os preços dos produtos nos mercados;
  • decorrentes das dificuldades de operar com produtos que são, naturalmente, perecíveis, estacionais, de baixo valor agregado, de difícil controle e que, obviamente, geram riscos econômicos de perda quantitativa e qualitativa efetivas;
  • incertezas de ganhos financeiros;
  • a incerteza de mercado resulta em pane da instabilidade natural dos preços agropecuários que flutuam ao sabor das variações, quase que contínuas, dos fatores que afetam a oferta e a procura.
Hora de comercializar os tomates recém colhidos
Hora de comercializar os tomates recém colhidos

Para que a demanda de produtos agropecuários seja suprida, a comercialização começa antes da produção. Dessa maneira, o termo “comercialização” não significa apenas a finalização do ciclo, mas todas as demais operações e ações que são realizadas desde a aquisição de produtos para a safra.

É durante a aquisição dos insumos e do planejamento da safra que o produtor rural estuda as possibilidades de venda do que será produzido. Esse estudo envolve muitos fatores para que o agricultor consiga uma melhor tomada de decisão na comercialização dos seus produtos. O sistema de comercialização envolve diversos agentes, como produtores rurais, cooperativas, empresas de transporte, distribuidores e varejistas. Cada um desses agentes desempenha um papel importante na cadeia de comercialização de produtos agrícolas, contribuindo para a eficiência e a rentabilidade do setor. Nesse sistema, é estabelecida uma relação entre o setor produtivo (oferta de produtos agrícolas) e o consumidor final (demanda de produtos agrícolas).

Etapas da cadeia produtiva - Fonte: SILVA (2005, p.1)
Etapas da cadeia produtiva – Fonte: SILVA (2005, p.1)

Todo esse processo fundamenta os compartimentos da cadeia produtiva dos produtos agropecuários até a chegada ao consumidor final. Apesar das dificuldades no processo de venda da produção, o produtor reconhece que é gratificante produzir, sobretudo quando os frutos do seu trabalho ganham valor de mercado e chegam à mesa do consumidor. O canal de comercialização agrícola é basicamente o caminho percorrido pela mercadoria desde o produtor até o consumidor final. Aqui estão os exemplos de alguns canais que realizam essa função com estratégias de comercialização agrícola:

  • Corretores;
  • Facilitadores;
  • Representantes de fabricantes;
  • Comerciantes;
  • Varejistas;
  • Agentes de vendas;
  • Força de vendas

E quem são os compradores na comercialização agrícola? Os produtos rurais possuem compradores de diferentes setores, entre eles:

  • Consumidores;
  • Outros agricultores;
  • Atacadistas e varejistas;
  • Restaurantes;
  • Tradings;
  • Agroindústrias e indústrias de alimentos;
  • Governos;
  • Cooperativas;
  • Empresas de insumos

Apesar da existência de diversas formas de organização da produção e das melhorias na comercialização (cooperativas, agroindustrialização, fixação e controle de preços, integração, mercados de futuro, opções agrícolas, etc.), os preços continuam variando nos quatro cantos do planeta, já que os mecanismos de fixação e proteção nem sempre conseguem superar as forças de mercado a que estão sujeitos e acabam gerando insatisfação nos vários segmentos da cadeia produtiva. Por outro lado, as dificuldades de realizar as atividades de comercialização ainda constituem um grande empecilho para a maioria dos produtores.

Tecnologia e inovação são essenciais para o controle da produção e tomada de decisões na propriedade rural
Tecnologia e inovação são essenciais para o controle da produção e tomada de decisões na propriedade rural

Além do que, nos últimos tempos, têm ocorrido nos mercados consumidores, várias panes no mundo, várias mudanças, que têm tornado os consumidores mais exigentes, dando origem a vários mercados segmentados, onde são requeridos produtos com características bastante personalizadas, formando os chamados “nichos” de mercado. Ao mesmo tempo, o conceito de comercialização tem evoluído bastante nos últimos anos em direção a uma visão mais mercadológica e industrial e têm fornecido aos produtores rurais instrumentos novos para operarem diretamente no mercado com muito mais chances de superar o “problema de comercialização”, tanto de preços instáveis, como de barreiras para colocar os produtos no mercado.

A comercialização da produção rural exige preparo, estratégia e visão de mercado. No entanto, muitos produtores ainda cometem erros que poderiam ser evitados com planejamento e orientação adequada. Esses deslizes têm impacto direto sobre o lucro e a saúde financeira da propriedade. Dentre os erros mais comuns cometidos na hora de comercializar a produção, podemos destacar:

  • Vender na hora errada (ou por necessidade);
  • Falta de planejamento de fluxo de caixa;
  • Não conhecer custos e margem mínima de venda;
  • Dependência excessiva de um único canal ou comprador

Profissionalizar a comercialização é garantir que todo o esforço da porteira para dentro se transforme em resultado da porteira para fora. E isso exige preparo. As estratégias de comercialização agropecuária são utilizadas para medir a viabilidade do sistema produtivo implantado na propriedade. O produtor rural deve acompanhar as notícias e o desenvolvimento do mercado no decorrer das safras e comumente planejar seus investimentos conforme os custos de produção por hectare. A técnica mais importante na comercialização agropecuária é a estruturação e o planejamento de como será feita a venda do produto após a colheita.

O produtor atualizado deve acompanhar as notícias e o desenvolvimento do mercado no decorrer das safras, planejando seus investimentos e negociações conforme os custos de produção por hectare
O produtor atualizado deve acompanhar as notícias e o
desenvolvimento do mercado no decorrer das safras, planejando seus
investimentos e negociações conforme os custos de produção por hectare

Um exemplo muito utilizado e que traz segurança ao produtor rural é a modalidade (NEG)Barter(NEG), que consiste na troca dos insumos utilizados para o cultivo pelo pagamento em produção. Já na modalidade (NEG)Hedge(NEG) fixa-se o preço da produção conforme a cotação da bolsa de valores no caso de commodities, possibilitando que o produtor rural tenha uma previsão sobre sua margem de lucro. Ainda existem outras modalidades de comercialização:

  • Comercialização pela Cooperativa: nessa modalidade a cooperativa é responsável por intermediar a venda, recebendo a produção, armazenando e realizando o escoamento da safra. As cooperativas oferecem suporte técnico, logística e condições comerciais padronizadas. São ótimas para pequenos e médios produtores.
  • Venda spot (à vista): ocorre no momento da colheita ou entrega do produto, com preço definido conforme o mercado do dia. É a forma mais tradicional, mas também a mais exposta à volatilidade. Normalmente é realizada com atravessadores (intermediários), que embora práticos, muitas vezes oferecem preços menores e maior vulnerabilidade jurídica.
  • Indústrias e frigoríficos: compram diretamente, geralmente exigindo padrão de qualidade, entrega programada e capacidade de volume.
  • Pré-Fixação e Pré-Pagamento (venda antecipada ou programada): nessa modalidade a negociação ocorre com um preço fixo. No pré-pagamento, o comprador antecipa o pagamento ao produtor rural que se compromete a entregá-lo após a colheita com o pagamento de juros.
  • Leilões e plataformas digitais: crescentes no setor, possibilitam negociação em ambientes competitivos e com maior acesso a diferentes compradores.
  • Tradings e Corretoras: existem empresas especializadas na comercialização de produtos agropecuários que são commodities, intermediando as negociações e facilitando a venda junto a compradores nacionais e internacionais, atuando normalmente com grandes volumes e contratos de longo prazo.
  • Mercado institucional: programas como PAA e PNAE, que compram diretamente da agricultura familiar.

Cada formato tem suas vantagens e riscos. Por isso, a análise do perfil da propriedade e da produção, do mercado e dos objetivos financeiros é essencial na hora de escolher.

Prefeitura adquire alimentos de agricultores familiares pelo PAA
Prefeitura adquire alimentos de agricultores familiares pelo PAA
Produtor negociando com a cooperativa
Produtor negociando com a cooperativa

Na era da tecnologia, hoje o produtor rural também pode utilizar ferramentas digitais para a comercialização de seus produtos. Atualmente, existem aplicativos especializados em cotação e intermediação para comercialização, conectando compradores com vendedores e facilitando esse processo para o produtor.

Segundo muitos produtores, o que vem ajudando muito é o selo de orgânico que traz mais reconhecimento e credibilidade ao trabalho realizado. O produto orgânico tem sido uma bênção para o agricultor no processo de comercialização. Além de agregar valor ao produto, passa a ser um produto mais confiável. Quando se possui o selo, a aceitação é 100% segundo os produtores. O apoio técnico das instituições de extensão rural como Emater, Senar e Sebrae, também tem sido fundamental para que a produção orgânica ganhe força e mercado, tendo enorme importância na conquista de selos de certificação orgânica e também na capacitação com os cursos que essas instituições oferecem. O conhecimento adquirido com os cursos amplia a visão sobre gestão, comercialização e posicionamento de mercado.

Com isso, o produtor rural tem base para projetar novos caminhos e resolver problemas na comercialização, como o estabelecimento de estruturas que facilitem o escoamento da produção, centrais de comercialização direta, ferramentas virtuais de comercialização dentre outras alternativas. Em resumo, a técnica mais importante na comercialização é a estruturação e o planejamento de como será feita a venda do produto após a colheita.

É necessário que os produtores desenvolvam uma mentalidade nova, mais comercial, que os capacite a participar diretamente dos mercados emergentes. Entender que a propriedade rural é uma empresa que precisa de uma gestão organizada e que as tomadas de decisão precisam ser baseadas conforme a realidade dentro da porteira, buscando especialistas para que o manejo da produção agrícola seja eficiente e consiga se sobressair mesmo em tempos difíceis. Na prática, as principais técnicas utilizadas pelos produtores rurais para vencer os desafios da comercialização agropecuária são o acompanhamento do mercado conforme as tendências e a sazonalidade dos produtos, influenciados pela oferta e demanda.

Preparando a colheita para comercialização
Preparando a colheita para comercialização

O produtor rural moderno tem de estar cada vez mais atento a essa etapa importante da cadeia produtiva. Com o aumento da concorrência, da profissionalização e das exigências do mercado, surgem novos comportamentos, como:

  • Busca por contratos mais seguros e menos expostos à oscilação de preços;
  • Interesse por plataformas digitais de negociação;
  • Formação em finanças e estratégias comerciais;
  • Uso de consultorias para apoio na tomada de decisão.

Esse movimento é fundamental para transformar a comercialização em uma alavanca estratégica de resultado, e não apenas uma necessidade operacional.

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