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Árvore
Você consegue imaginar todos os bens e serviços que uma árvore nos oferece e quanto isso custa? Descubra como é feito esse cálculo
 
Você sabia que existem 420 árvores para cada habitante do planeta? Um estudo publicado na revista Nature estimou a existência de três trilhões de árvores no mundo, quase oito vezes mais que resultados de estudos anteriores. Essa é a boa notícia, a má é que cada pessoa perde 1,4 dessas árvores por ano. É bem difícil imaginar quanto isso significa, certo? Então vamos tentar demonstrar os benefícios das árvores expressados em termos monetários.
 
A natureza disponibiliza o capital natural do planeta. As florestas, por exemplo, concedem diversos bens e serviços ecossistêmicos, como fornecimento de oxigênio, diminuição da poluição atmosférica, água de qualidade, solo fértil, matérias primas, entre outros.

As árvores urbanas e as árvores nativas de uma floresta têm funções diferentes. Os ecossistemas em que estão inseridos influenciam nos serviços realizados, portanto, o valor agregado é diferente. Então vamos imaginar dois cenários: no cenário 1, a árvore está localizada em uma região urbana; no cenário 2, ela se encontra em uma floresta nativa.

Cenário 1 – árvore urbana

Foi criado, nos Estados Unidos, o software chamado i-tree, uma ferramenta para analisar árvores individualmente ou até florestas nas cidades. Por meio de um banco de dados, o software apresenta os benefícios das árvores e calcula um valor para a sociedade. Um estudo conduzido em Londres, utilizando o i-tree, valorou as árvores urbanas da cidade.

Foram levados em conta o valor anual do sequestro de carbono, emissões de gás carbônico evitadas, economia de energia de residências, remoção de poluentes e diminuição do escoamento de águas pluviais. No total, foi estimado um ganho econômico de aproximadamente 15,7 libras ou US$ 24,1 (média do dólar em 2015) por árvore em um ano.

Essa valoração econômica não conta o gasto de substituição (custo de ter que substituir uma árvore por outra similar se esta sofresse algum dano), o valor de amenidade (apreciação das pessoas pela arborização de áreas, por exemplo parques e residências) e o valor de armazenamento de carbono pelas plantas (que valem bilhões). Também não entrou na conta que a área verde de Londres pode salvar de 16 a 22 vidas por dia em ondas de calor no verão.
 
Além do sequestro de carbono, as árvores no ambiente urbano colaboram com a saúde mental da população, reduzindo o risco de depressão. Um estudo indicou que árvores em áreas urbanas ao redor da casa estão associadas a um uso menor de medicamentos antidepressivos prescritos. Portanto, elas são amplamente benéficas, afinal, adicioná-las às ruas, também pode contribuir para a mitigação das mudanças climáticas e a conservação da biodiversidade.

Cenário 2 – mata nativa

As florestas estão interligadas com grande parte dos serviços ecossistêmicos e possuem uma grande importância nos ciclos naturais essenciais à vida. Devido à ampla funcionalidade das florestas, sua valoração ambiental é complexa e muitas vezes não inclui todos os benefícios prestados. Um estudo estima que o valor monetário de uma floresta tropical é de US$ 5.382 por hectare em um ano.

Este valor inclui os seguintes serviços ecossistêmicos: regulação do clima, regulação e fornecimento de água, controle de erosão, formação do solo, ciclagem dos nutrientes, tratamento de resíduos, produção de alimentos, matérias-primas, recursos genéticos, recreação e serviços culturais. Entretanto, não abrangeu os seguintes serviços: polinização, controle biológico, provisão de habitat/refúgio, controle de alagamentos, regulação da qualidade do ar e recursos medicinais.

Cada árvore ocupa um espaço de 6 m2, portanto, em um hectare pode haver densidade de 1667 árvores, ou seja, cada árvore de mata nativa representa um ganho de US$ 3,23/ano. A sua precificação na cidade é maior porque, primeiro, não há muitas delas nas ruas; segundo, analisando individualmente, nós usufruímos diretamente de mais serviços como os serviços culturais, valorização de imóveis e benefícios na saúde e bem-estar, entre outros.

O sequestro de carbono

Um dos grandes benefícios das árvores é sua capacidade de sequestrar dióxido de carbono (CO2) e armazenar carbono. O processo de sequestro de CO2 da atmosfera ocorre pela fotossíntese e parte é armazenada na biomassa da árvore (carbono acumulado ou estoque de carbono). O carbono sequestrado usado para o crescimento da árvore se acumula nos troncos, galhos e folhas e outra parte é transferido para as raízes e solo. Espécies distintas conseguem sequestrar diferentes quantidades de carbono, dependendo das suas características.

O Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC) possui uma metodologia para o cálculo de sequestro de carbono que não considera o crescimento da árvore linear, pois nos primeiros anos de vida seu crescimento é mais rápido e, teoricamente, a árvore captura mais carbono. Assim, o cálculo é dividido por período, para áreas vegetadas com até 20 anos de idade e depois para áreas com mais de 20 anos, o que torna os resultados mais precisos.

Essa metodologia oficial estima que em seus primeiros 20 anos de vida um hectare de floresta tropical da América do Sul pode captar quase 26 toneladas de CO2 por ano e, depois desse período, 7,3 toneladas de CO2 por ano. Portanto, uma árvore pode capturar cerca de 15,6 Kg de CO2 por ano nos primeiros 20 anos e 4,4 Kg após esse período. Estimando que a árvore tenha uma vida de 40 anos, ela conseguirá sequestrar 667 Kg durante sua vida.

Mas você tem ideia de quanto isso vale?

Vamos usar os meios de transporte como exemplo. Uma publicação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra a quantidade de CO2 emitida pelas principais fontes de transporte. Os valores de emissão abaixo (Kg de CO2) equivalem a um passageiro por Km rodado. Os valores em Km/ano correspondem à distância que você poderia percorrer com o CO2 capturado por uma árvore.

  • Automóvel flex: 0,127 Kg de CO2 = 123 Km/ano;
  • Motocicleta: 0,071 Kg de CO2 = 220 Km;
  • Metrô: 0,003 Kg de CO2 = 5200 Km;
  • Ônibus: 0,016 Kg de CO2 = 975 Km.

Para eletricidade, o consumo médio da população brasileira é de 51 Kg de CO2 por ano, ou seja, você precisaria de 3,2 árvores para consumir essa quantidade de energia sem culpa.

Em outro cenário temos a alimentação. Uma das maiores fontes de emissão de CO2 no Brasil provém da agropecuária, incluindo o desmatamento para pastagens e plantações. Um quilo de hambúrguer gera cerca de 45 Kg de CO2, ou seja, com o sequestro de uma árvore poderíamos comer apenas um terço de hambúrguer por ano.

A humanidade gera cerca de 1 Kg de CO2 por dia por meio da respiração, ou seja, precisaríamos de uma árvore inteira apenas para neutralizar as emissões do simples ato de respirar.

Limitações

Apesar da metodologia do IPCC não considerar o crescimento da árvore linear, o que torna os resultados mais confiáveis, ela considera que uma árvore após 20 anos tem um decaimento na captação de carbono. No entanto, um estudo mais recente afirma que quanto maior a árvore (portanto mais antiga), mais quilos de carbono ela absorve por ano.

Árvores de 100 cm de diâmetro adicionam cerca de 103 Kg de biomassa por ano, quase três vezes mais que uma árvore jovem (50 cm de diâmetro) da mesma espécie. É como se essas árvores antigas acrescentassem uma árvore nova por ano à floresta. Portanto, talvez a taxa de captura de carbono continue aumentando ao contrário do que diz a metodologia.

Resumo dos benefícios

  • Sequestro de carbono: 15,6 kg/ano;
  • Economia de energia (ar condicionado): 30%;
  • Aumento do valor imobiliário: 20%;
  • Diminuição da temperatura do ar: 2°C a 8°C;
  • Captação de água: 250 litros;
  • Erosão: de 40 a 250 vezes menor.

As árvores podem ser consideradas nossas grandes aliadas na neutralização da pegada de carbono e, consequentemente nos impactos ambientais gerados, por isso é tão importante conservar, restaurar e plantar. Nas cidades, é essencial incentivar a arborização pelo governo e mesmo pela população, e não esquecer da importância das árvores e suas florestas nativas.

Fonte: E-Cycle, por Manoela Imamura Herndandez, Elsevier, iDiv e iTPA
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