Memorando com a estatal chinesa e MST prevê a integração da produção agrícola com alta tecnologia, incluindo fábricas de máquinas e plataformas digitais em áreas da reforma agrária
A agricultura familiar brasileira está prestes a dar um salto de modernização com uma nova parceria entre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a estatal chinesa Sinomach Digital Technology Corporation. Em uma iniciativa que aprofunda a cooperação estratégica entre Brasil e China no campo, o acordo vai viabilizar o envio de tratores, soluções tecnológicas e apoio técnico para comunidades ligadas à reforma agrária, com o apoio da Prefeitura de Maricá (RJ), da Unicrab (braço do MST) e da agrotecnológica brasileira OZ.Earth.
A parceria visa fortalecer a agricultura familiar com tecnologia de ponta, mecanização acessível e plataformas digitais voltadas à gestão agrícola nos assentamentos da reforma agrária. Com o resultado, o grupo mira na estruturação de uma rede de apoio à produção camponesa, focando em mecanização agrícola e no uso de ferramentas digitais adaptadas à realidade dos pequenos produtores. Também está prevista a criação de centros de pesquisa e treinamento, missões técnicas à China e intercâmbio de saberes entre trabalhadores do campo dos dois países. Além disso, as ações pretendem beneficiar comunidades que já praticam uma agricultura sustentável, com ênfase na produção de alimentos livres de agrotóxicos e com acesso limitado a recursos tecnológicos.
de entendimento em Brasília (DF), com a Prefeitura de Maricá (RJ) e a OZ.Earth
Foto: Vinicius Reis – Ascom/SGPR
A Sinomach, que já atua com projetos de modernização agrícola em países da África e da Ásia, comprometeu-se a fornecer máquinas agrícolas inteligentes, sistemas digitais de gestão agropecuária e apoio técnico para a instalação de fábricas locais no Brasil, focando na agricultura familiar. Em 2024, diversos equipamentos enviados pela China, como colheitadeiras, adubadeiras e plantadeiras, foram testados com sucesso na Fazenda Água Limpa (UnB) e em assentamentos organizados pelo MST, comprovando adaptação dos maquinários ao solo e às condições do país.
O município de Maricá, no estado do Rio de Janeiro, foi escolhido como um dos centros estratégicos da iniciativa, sendo um dos principais polos do projeto. Em resumo, está prevista a implantação de fábricas para a produção local de tratores e equipamentos inteligentes com tecnologia chinesa, voltados exclusivamente para o pequeno produtor rural da agricultura familiar. A parceria também abre portas para projetos de bioinsumos, energia renovável e ampliação da mecanização nos assentamentos, visando o avanço com soluções reais para as necessidades do campo e os membros do movimento veem que essa cooperação pode ser transformadora.
do MST, no Assentamento Cristina Alves – Foto: Eduardo Moura/BdF
A relação sino-brasileira no campo agrícola se fortalece ano após ano e essa iniciativa faz parte de um processo maior de aproximação entre os dois países. O projeto é resultado de um processo de articulação internacional que já dura alguns anos. Governos locais, movimentos sociais e empresas têm atuado juntos na construção de uma agenda comum para o desenvolvimento rural. Em 2022, o Consórcio Nordeste firmou um acordo com o Instituto Internacional de Inovação de Equipamentos Agrícolas da Universidade Agrícola da China, e, desde então, os dois países vêm colaborando tecnicamente com foco na inovação para a agricultura familiar.
A expectativa do MST é de que o projeto traga benefícios concretos para os assentamentos, impulsione a produção agroecológica e aproxime ainda mais as relações de cooperação tecnológica entre Brasil e China. Com o novo memorando assinado em Brasília, Brasil e China dão um passo estratégico para viabilizar a industrialização do campo com inclusão social, num momento em que a produção de alimentos saudáveis, a transição energética e o combate à pobreza rural estão no centro da pauta política.