Trabalhador rural resgatado bebia água contaminada por agrotóxicos

Mais um caso vergonhoso de trabalho escravo no estado de maior PIB do país

Um trabalhador rural foi resgatado de condições análogas à escravidão no município de Santo Antônio da Alegria, interior de São Paulo. O cidadão vivia há cerca de 10 anos em situação irregular e consumia água contaminada por agrotóxicos. A ação foi realizada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) – Campinas após denúncia anônima. O trabalhador não tinha registro em carteira de trabalho e não tinha acesso a direitos trabalhistas básicos, como férias ou remuneração em caso de ausência por motivos de saúde.

Segundo o órgão, o trabalhador residia em um casebre localizado dentro de uma propriedade de cultivo de café. A moradia apresentava condições precárias de higiene e segurança: não havia forro no teto, a fiação elétrica era exposta e o botijão de gás estava instalado no interior do imóvel, o que contraria normas de segurança. Além disso, ele consumia água de uma mina localizada próxima ao descarte de agrotóxicos, relatando gosto amargo ao beber o líquido.

Trabalhador "salvo" de escravidão moderna bebia água envenenada - Foto: Ministério Público do Trabalho (MPT) - Campinas
Trabalhador “salvo” de escravidão moderna bebia água envenenada
Foto: Ministério Público do Trabalho (MPT) – Campinas
A ação do Ministério Público do Trabalho revelou condições degradantes, como alojamento precário e água contaminada - Foto: Ministério Público do Trabalho (MPT)
A ação do Ministério Público do Trabalho revelou condições
degradantes, como alojamento precário e água contaminada
Foto: Ministério Público do Trabalho (MPT) – Campinas
Casebre onde vivia o trabalhador resgatado em Santo Antônio da Alegria, na "Califórnia brasileira" - Foto: Ministério Público do Trabalho (MPT) - Campinas
Casebre onde vivia o trabalhador resgatado em Santo Antônio da Alegria, na “Califórnia brasileira”
Foto: Ministério Público do Trabalho (MPT) – Campinas

Durante uma década, o trabalhador nunca gozou de período de férias. Trata-se de caso flagrante de redução à condição análoga à escravidão, em que lhe foram subtraídos os direitos humanos e trabalhistas mais básicos. O trabalhador recebia por diária e afirmou que, em determinada ocasião, ficou sem receber pagamento após sofrer uma lesão no joelho e precisou do apoio de familiares para se alimentar.

O procurador responsável, Gustavo Rizzo Ricardo, representante da CONAETE (Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas), firmou um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o empregador, que se comprometeu a pagar R$ 50 mil em verbas rescisórias e R$ 10 mil a título de indenização por danos morais individuais, de forma parcelada. Após o resgate, o MPT – Campinas acompanhou o trabalhador até Altinópolis, onde foi feita a regularização de sua situação bancária para permitir o recebimento dos valores acordados. Em seguida, ele embarcou em um ônibus com destino à cidade de São Paulo, onde ficará temporariamente hospedado na casa de um irmão. A prática do trabalho escravo contemporâneo ainda persiste no estado mais rico da Federação, que registra o maior PIB do país, a “califórnia brasileira”. Imaginem o que acontece nesses rincões por esse país. Seria importante as autoridades darem nome aos bois, aos criminosos. Chega de protegê-los.

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