O futuro do leite por um fio

O setor leiteiro brasileiro enfrenta uma crise profunda e longa, marcada por preços baixíssimos pagos aos produtores, que não cobrem os custos, agravada pela concorrência desleal de leite em pó importado, especialmente do Mercosul, e pela queda do poder de compra do consumidor. Produtores, principalmente pequenos e médios, estão paralisando e pedindo medidas urgentes como suspensão de importações, tarifas antidumping e preço mínimo, para evitar o colapso do setor, que já ameaça a autossuficiência nacional.

O presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul, (Gadolando) Marcos Tang, fez um balanço do ano de 2025 para o setor leiteiro, bem como perspectivas para o ano que vem. Se, por um lado, Tang reconheceu que os produtores de leite trabalharam com muito esforço e dedicação com a parceria e assistência da associação, 2025 termina como um ano bastante ruim devido, principalmente, à baixa remuneração paga pelo litro de leite.

Tang enfatizou que trabalhar com um preço muito baixo inviabiliza a sobrevivência da atividade. “Nós amamos as nossas vacas, nós amamos a raça holandesa, nós amamos o setor leiteiro, mas nós não podemos viver só de paixão e amor. Nós precisamos de renda, nós precisamos ter lucro para a própria subsistência”, alertou o presidente destacando que a atividade leiteira é uma das principais atividades econômicas, um trabalho que segura o homem, a mulher, o jovem no campo, e que precisa ser adequadamente reconhecida e melhor remunerada. Para ele, o produtor precisa parar de entregar o leite e sim vender o leite.

Tang observa que em 2025 as importações de leite dispararam depois de agosto, causando um problema ainda maior em um cenário onde já houve um aumento da produção local e isso vem culminar para um desfecho de ano bastante difícil. Assim, o presidente da Gadolando se posiciona fortemente no sentido de reivindicar medidas urgentes como reduzir as importações de leite e derivados, impondo regras antidumping, uma pauta defendida em parceria com a Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Também defende que haja trabalhos conjuntos com produtores, indústria, varejo e autoridades no sentido de esclarecer os benefícios do consumo do leite. A posição da associação é a de que o país não seja importador de leite, pois tem um produto de qualidade e pode, inclusive, ser exportador.

Mesmo com tecnologia, crise ameaça o setor leiteiro
Mesmo com tecnologia, crise ameaça o setor leiteiro

Para 2026, Tang adianta que a ideia é que haja uma regulamentação urgente das importações, se valorize mais o produtor nacional e local e que o setor possa abrir novos mercados externos. Para ele, o setor precisa dar andamento, amadurecer a cadeia e virar um país exportador, mas neste momento, como urgência, clama para que as autoridades políticas e administrativas tomem alguma medida no sentido de regulamentar as importações para salvar os produtores locais.

Por fim, o presidente da Gadolando reitera, mesmo num quadro difícil, que o produtor possa continuar registrando seus animais, fazendo controle leiteiro e classificação morfológica. Destacou que mesmo com a crise, o produtor tem feito trabalhos maravilhosos, como pode-se constatar nos destaques de fim de ano como a evolução genética que o produtor está fazendo. Isso realmente muito honra o setor e mostra que o produtor, especialmente o sócio da Gadolando, é um maestro nessa atividade de produzir leite e de criar vacas holandesas desde o seu nascimento até a sua maturidade com excelência e com bem-estar animal.

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