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Cerâmica tradicional de Ipu conquista indicação geográfica

Rosas em argila perfeitas para decorações. A técnica local de produção das peças de cerâmica é remanescente da tradição indígena Tabajara

A comunidade rural de Ipu, região da Ibiapaba, localizada a quase 300 quilômetros de Fortaleza, no Ceará, celebra uma grande conquista. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) concedeu à Cerâmica da Alegria o selo de Indicação Geográfica (IG), na modalidade de Indicação de Procedência (IP). É a segunda conquista de indicação geográfica da região.

Considerada uma das regiões mais ricas em belezas naturais e pontuada por manifestações culturais que remontam à convivência com franceses e holandeses, antes mesmo da chegada dos primeiros portugueses à região, a região de Ibiapaba é um mundo à parte dentro do Ceará. O primeiro reconhecimento de indicação geográfica ocorreu no ano passado com a cachaça de Viçosa, premiada internacionalmente. A região é conhecida como a “terra da cachaça boa”. Agora foi a vez da Cerâmica da Alegria. A novidade reforça a tradição artesanal local e coloca os artesãos da região em destaque no cenário nacional.

O selo da indicação de procedência da Cerâmica da Alegria
O selo da indicação de procedência
da Cerâmica da Alegria

Com essa última certificação, o Brasil soma agora 142 IGs reconhecidas, sendo 103 IPs (todas nacionais) e 39 Denominações de Origem – DOs (29 nacionais e 10 estrangeiras). O selo é considerado um marco para os produtores de Ipu, que preservam técnicas ancestrais de trabalho com o barro. A comunidade recebeu a notícia com muito entusiasmo, muita alegria. Agora são reconhecidos no Brasil todo e já começam a pensar em mais parcerias e mais clientes. A Associação dos Artesãos da Alegria (ADADA) está muito grata ao Sebrae-CE pelo apoio e a todos que se engajaram na conquista.

O suporte do Sebrae-CE foi fundamental para a

conquista dessas duas indicações. O selo fortalece a reputação da produção artesanal, promove a história local e abre novos mercados para os ceramistas. A IG terá um papel fundamental de dar continuidade à história desses produtos, além de fortalecer a reputação da produção e promover a abertura de novos mercados. Esse reconhecimento incentiva a preservação de saberes tradicionais e potencializa o crescimento econômico da comunidade, promovendo o artesanato como fonte de renda sustentável.

A técnica usada para moldar as peças é uma herança deixada pelos indígenas Tabajara, antigos habitantes da região. Eles trabalhavam o barro para confeccionar urnas funerárias, com o objetivo de conservar as cinzas dos familiares. Com o passar dos séculos, a cerâmica adquiriu novas funções, passando a ser utilizada para armazenar água, além de servir como utensílios domésticos. Atualmente, essa tradição permanece viva. Enquanto as mulheres moldam as peças manualmente, os homens extraem o barro e realizam a queima nos fornos.

Uma das artesãs da comunidade de Alegria, zona rural do município de Ipu (CE), trabalhando a cerâmica
Uma das artesãs da comunidade de Alegria, zona rural do
município de Ipu (CE), trabalhando a cerâmica
O INPI concedeu à Cerâmica da Alegria o selo de Indicação
Geográfica na espécie de Indicação de Procedência – Foto: ASN

A produção, por sua vez, é bastante variada e atende a pedidos personalizados. Entre os itens produzidos estão panelas, bandejas, jarras e peças de decoração, apenas para citar alguns exemplos. As artesãs acreditam que, com a Indicação Geográfica, as peças serão muito mais valorizadas, tanto por serem resistentes quanto pela possibilidade de agregar ainda mais valor. Desde 2020, o Sebrae/CE atua no mapeamento de produtos típicos com potencial para Indicação Geográfica, com o objetivo de preservar práticas tradicionais e apoiar o desenvolvimento sustentável nas comunidades locais.

A Cerâmica da Alegria representa o reconhecimento do compromisso dos artesãos com a qualidade, a preservação do meio ambiente e a cultura regional. Para os produtores de Ipu, a conquista da IG é apenas o começo de uma nova fase. A certificação promete não apenas reconhecimento cultural, mas também maiores oportunidades econômicas, turismo e fortalecimento da identidade local.

No Ipu, na região norte cearense, artesãs mantém tradição de confeccionar peças as de cerâmica
A IG terá um papel fundamental de dar continuidade à história desses produtos, além
de fortalecer a reputação da produção e promover a abertura de novos mercados

As peças, com o passar do tempo, foram sendo trabalhadas com detalhes mais inovadores, renovadas nas pinturas, no bordar das peças e na variedade de artefatos realizados. Mas, apesar da introdução de novas técnicas e inovações decorativas, a maioria das atuais ceramistas, conhecidas como oleiras, aprenderam a arte de moldar a cerâmica com as artesãs de geração anterior. Elas se esmeram para construir peças e artefatos belos, resistentes a altas temperaturas, e que preservem características dos descendentes dos povos originários do Brasil, potencializando sobre essas obras um valor não apenas econômico, mas de toda uma tradição que remonta aos séculos XVII e XVIII. O trabalho realizado coletivamente pelas ceramistas levou à fundação da sua associação no ano de 1997, envolvidas no beneficiamento do barro e na produção e comercialização das peças de cerâmica da Alegria.

A conquista é fruto de uma construção coletiva que envolveu diversas instituições e agentes locais. Estiveram à frente do processo o Sebrae/CE, o próprio INPI, a Global Consultoria, a Prefeitura Municipal de Ipu e a Associação das Artesãs da Comunidade da Alegria, protagonistas fundamentais nessa jornada.

A Cerâmica da Alegria agora se une à já reconhecida Cachaça da Ibiapaba, fortalecendo ainda mais o território como símbolo de tradição, autenticidade e desenvolvimento regional. Uma vitória para o Ceará, para a região de Ibiapaba e, especialmente, para o município de Ipu.

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