Arte – Artesãos do Sertão – O talento salvando a caatinga

Entre o Rio São Francisco e o coração seco da caatinga, está a pequena Ilha do Ferro, no sertão de Alagoas. São cerca de 500 moradores, conhecidos por transformar a madeira e os recursos locais em verdadeiras obras de arte. A criatividade virou marca do lugar e, agora também, instrumento de preservação ambiental.

Foi com esse espírito que nasceu o Projeto Reflorilha, uma iniciativa apoiada pelo Sebrae que une reflorestamento, arte e sustentabilidade. O objetivo é claro: garantir o futuro da caatinga e fortalecer a economia criativa, que hoje sustenta boa parte das famílias da região.

Em 2023, os artesãos da comunidade se organizaram e fundaram a Associação de Artesanato em Madeira da Ilha do Ferro – Ilha das Artes. No mesmo ano, com o apoio da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), plantaram mil mudas de espécies nativas, ajudando a restaurar áreas degradadas do bioma.

“Desde o início do projeto já realizamos quatro ações: três de plantio e uma de produção de mudas”, conta Yang da Paz Farias, presidente da associação, que reúne 37 artesãos. “Nosso projeto quer inspirar outras comunidades. O cuidado com o meio ambiente tem que ser de todos”, reforça.

Yang da Paz Farias trabalha com madeira após observar os mais velhos
Yang da Paz Farias trabalha com madeira após observar os mais velhos
Artesãos da Associação Ilha das Artes
Artesãos da Associação Ilha das Artes

Além do plantio, o Reflorilha incentiva o turismo consciente, valorizando a cultura local e a beleza natural da caatinga. A ideia é que visitantes conheçam o artesanato e, ao mesmo tempo, entendam a importância de preservar o bioma.

Outro passo importante será a criação de um banco de sementes com as principais espécies nativas da região, inclusive aquelas mais raras e ameaçadas de extinção. Isso garantirá que a biodiversidade do sertão tenha futuro e que o conhecimento local continue florescendo.

Com o apoio de entidades como o Sebrae e a ONG Artesol, que atua na valorização do artesanato cultural brasileiro, a Ilha do Ferro mostra que empreender também é cuidar da terra. E que, no sertão, o talento e a natureza podem crescer juntos.

Caatinga Viva: por que reflorestar o sertão é tão importante?

Peças produzidas por Yang da Paz Farias inspiradas nas obras de seu pai, Mestre Petrônio (José Petrônio Farias dos Anjos) que aprendeu com o Mestre Fernando Rodrigues, já falecido
Peças produzidas por Yang da Paz Farias inspiradas nas obras
de seu pai, Mestre Petrônio (José Petrônio Farias dos Anjos)
que aprendeu com o Mestre Fernando Rodrigues, já falecido
Mestre Petrônio, José Petrônio Farias dos Anjos que já desde criança fabricava os próprios brinquedos, assim como os irmãos - Foto: Rede Artesol
Mestre Petrônio, José Petrônio Farias dos Anjos, que já desde
criança fabricava os próprios brinquedos, assim como os irmãos
Foto: Rede Artesol

Único bioma 100% brasileiro, a caatinga é muito mais rica do que parece à primeira vista. Ela abriga milhares de espécies de plantas e animais que só existem aqui e sustenta o modo de vida de quem vive no sertão.

Mas o desmatamento, a falta de chuva e o uso incorreto do solo vêm deixando marcas profundas. Quando a vegetação nativa some, o solo perde nutrientes, a erosão aumenta e a produção rural diminui. Por isso, reflorestar é investir no futuro da própria terra.

Plantar árvores da caatinga (como umbuzeiro, aroeira, jurema e mandacaru) ajuda a:

  • Melhorar o equilíbrio do solo e da água;
  • Reduzir o calor e proteger os rebanhos;
  • Atrair abelhas e outros polinizadores, essenciais para a lavoura;
  • Gerar renda com produtos sustentáveis, como frutas, mel e artesanato.

Cada muda plantada é uma forma de renovar a vida do sertão. E quando a comunidade se une, como em projetos como o Reflorilha, o resultado é ainda mais forte: floresta viva, solo fértil e economia rural de pé.

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