Trabalho apresentara avanços importantes no combate ao carrapato, um dos maiores desafios sanitários que gera perdas bilionárias e compromete o desempenho animal
A Embrapa Pecuária Sul desenvolveu linhagens de bovinos mais resistentes ao parasita, reduzindo perdas econômicas e diminuindo a necessidade de produtos químicos. O estudo tem como base a raça brangus, escolhida por demonstrar tolerância natural ao problema. A pesquisa teve início em 2009 com o objetivo de encontrar alternativas de baixo custo e alta efetividade para criadores de todo o país. Desde então, os animais selecionados vêm apresentando resultados consistentes em campo, com redução significativa de infestações e na dependência de produtos químicos, além de maior produtividade em sistemas de cria, recria e engorda. O avanço abre portas para um manejo mais sustentável e econômico.
Os carrapatos estão entre os maiores inimigos da bovinocultura, provocando perdas financeiras que afetam diretamente a renda do criador. Essas pesquisas mostraram caminhos promissores para enfrentar a praga, apresentando animais mais tolerantes e produtivos. Os pesquisadores utilizaram ferramentas de mapeamento genético para identificar regiões do genoma associadas à defesa contra o carrapato. A partir dessa seleção, foi possível multiplicar indivíduos com maior capacidade de resposta imune e menor infestação. A raça se destaca pela rusticidade, adaptação climática e boa performance no campo. Agora, a nova resistência ao carrapato agrega ainda mais valor a essa genética, tornando-a uma opção estratégica para diversas regiões do país.
Os cientistas destacam que a resistência ao carrapato depende de vários fatores combinados. A reação do animal à picada, a força do sistema imunológico e até a habilidade de se limpar sozinhos influenciam diretamente o resultado. Com mais de 100 mil marcadores genéticos avaliados, a pesquisa identificou os genes favoráveis à tolerância e direcionou cruzamentos.


Testes realizados em campo comprovaram que animais resistentes apresentaram até um terço a menos de infestação. Para chegar a esse número, os pesquisadores realizaram uma infestação controlada de larvas do carrapato Rhipicephalus microplus e fizeram a contagem de parasitas sobreviventes após determinado período. Essa metodologia permitiu comparar indivíduos da mesma raça, identificar os mais eficientes e selecionar os melhores reprodutores.
Os prejuízos causados pelo carrapato impressionam globalmente. Estima-se que o parasita cause perdas de até US$ 30 bilhões por ano no mundo. Além disso, cada carrapato presente no bovino reduz o ganho de peso diário em 1,37 grama. Quando se calcula esse impacto ao longo de todo o ciclo produtivo de um novilho, o resultado chega a aproximadamente R$ 750 a menos por animal. Essa redução no desempenho influencia diretamente a rentabilidade da propriedade, prolongando o tempo até o abate e encarecendo a produção.
A tecnologia já está chegando aos produtores. Com os resultados positivos comprovados, reprodutores com genética resistente ao carrapato já começam a ser multiplicados em propriedades rurais. A perspectiva é que a adoção desse material genético cresça rapidamente, especialmente entre produtores que enfrentam dificuldades para controlar a praga de forma química. Além de reduzir custos com produtos veterinários, os animais apresentam ganho de peso mais rápido e maior segurança sanitária.

A estimativa da Embrapa mostra que um único touro resistente pode gerar até R$ 28 mil adicionais na renda da fazenda ao longo de sua vida útil. Esse valor representa o ganho distribuído entre os descendentes que herdam a característica, trazendo mais peso, menor custo e eficiência reprodutiva. Como consequência, o pecuarista passa a trabalhar com mais previsibilidade e maior retorno por hectare.
Outro benefício importante está na redução do uso de produtos químicos. Com menor necessidade de aplicações, o produtor economiza e diminui o risco de resistência parasitária, problema comum quando o tratamento é repetido por longos períodos. Ao mesmo tempo, a pecuária se torna mais sustentável, atendendo às exigências de mercados que valorizam boas práticas ambientais e sanitárias.
A adoção de animais resistentes ao carrapato não apenas reduz prejuízos, mas também melhora o bem-estar do rebanho e fortalece a competitividade do setor. Em um cenário em que produtividade e sustentabilidade caminham juntas, tecnologias como essa mostram que inovação é caminho direto para maior rentabilidade.
Fonte: Canal Rural