A tecnologia combina fungos, nanotecnologia e casca de arroz, um resíduo agrícola comum, para criar uma solução eficaz, segura e sustentável
A casca de arroz, frequentemente descartada e queimada pela indústria, pode ser transformada em uma valiosa matéria-prima para a agricultura sustentável. É isso que a pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanotecnologia para Agricultura Sustentável (INCT) e professora da Universidade de Sorocaba (UNISO), Renata Lima, está fazendo, com resultados bastante promissores. Ela desenvolveu um método inovador que utiliza fungos para sintetizar nanopartículas de sílica a partir desse resíduo, com baixo custo e menor impacto ambiental.
Os métodos sintéticos convencionais de obtenção da sílica são, em sua maioria, envolvem altos custos e impactos ambientais. O trabalho da Prof.ª Renata propõe métodos verdes de síntese biogênica, que utilizam fungos para obtenção das nanopartículas de sílica a partir das cascas de arroz descartadas pela indústria. A casca do arroz é uma matéria-prima rica em sílica que, quando não aproveitada em iniciativas como essa, acaba sendo descartada e queimada pela indústria. Ao inocular a casca de arroz com fungos, é possível gerar nanopartículas de sílica de forma barata e ecologicamente segura. A sílica é um material promissor para o desenvolvimento de diversas soluções para a agricultura, trazendo benefícios como:
- aumento da resistência das plantas a estresses bióticos e abióticos;
- melhora na absorção de nutrientes e na fotossíntese;
- possibilidade de aplicação como nanoherbicida, nanofertilizante e nanopesticida;
- estímulo ao crescimento de raízes e da parte aérea.
Acesse o artigo “Silica and Silica Nanoparticles: An Approach to Biogenic Synthesis and Their Main Applications” CLICANDO AQUI.
A inovação não parou por aí. Renata e sua equipe de pesquisadores avançaram ainda mais. A partir da obtenção da sílica pela síntese verde, eles desenvolveram um bioinseticida promissor para o controle das principais pragas do milho e da soja: a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) e a falsa-medideira (Chrysodeixis includens). A solução proposta pela equipe de cientistas utiliza os conídios (esporos formados por mitose e responsáveis pela reprodução assexuada de alguns grupos de fungos) do fungo Beauveria bassiana, já conhecido dos agricultores no combate a pragas como as lagartas. Esse fundo atua se instalando, envolvendo todo o corpo do organismo-alvo, no caso as pragas, infectando e causando sua morte. Porém, pelos sistemas convencionais atualmente existentes, o fungo sofre degradações devido a fatores ambientais, como sol e chuva, o que gera a necessidade de diversas reaplicações pelos produtores.
as espécies de fungos entomopatogênicos mais estudadas e comercializadas
na agricultura, visto o seu potencial para o controle biológico de pragas
Na nova versão do bioinseticida proposta pela equipe de pesquisadores, os conídios do fungo são envolvidos pelas nanopartículas de sílica protegendo-os contra sol e chuva, reduzindo a necessidade de reaplicações frequentes no campo. A Beauveria envolvida pela sílica ganha fotoproteção, diminuindo consideravelmente as perdas na aplicação do fungo que acontecem atualmente no manejo, como relatado anteriormente. Com isso, o produtor se preocupa menos, pois o seu biocontrole vai durar mais tempo no ambiente.
Além disso, os resultados da pesquisa mostram que a sílica ajuda na aderência e penetração da Beauveria nos organismos-alvo, além de possibilitar uma liberação controlada do fungo nas pragas. Com isso, é possível pensar em um produto de aplicação única. A nova formulação nanotecnológica alcançou até 90% de eficácia no controle das pragas da soja e do milho, uma taxa de sucesso muito maior do que a obtida com a aplicação do fungo sem fotoproteção. Esse avanço promete um salto de qualidade na aplicação do controle biológico na agricultura brasileira.