Floração de palmeira exótica é atração no Rio de Janeiro

Endêmica do leste e sul da Índia, é uma das cinco espécies aceitas no gênero Corypha, com distribuição também em Myanmar, Sri Lanka, Tailândia e China, a Corypha umbraculifera, chamada vulgarmente de palmeira talipot, é uma das maiores palmeiras do mundo. A árvore é conhecida como kudapana em malaiala, que significa palmeira “guarda-chuva”. Alguns exemplares atingem alturas de até 34 m, com um tronco de até 1,3 m de diâmetro. Possui folhas grandes, em forma de leque, que podem chegar a 7 m de diâmetro, armadas com pequenos espinhos de 2 cm, pecíolo de até 4 m de comprimento e até 130 folíolos. A palmeira apresenta a maior inflorescência ramificada conhecida no planeta, com 6 a 8 m de comprimento, composta por até vários milhões de pequenas flores, que nascem em uma haste ramificada que se forma no topo do tronco.

É monocárpica (floresce e produz sementes apenas uma vez durante sua vida, morrendo após a floração), florescendo apenas uma vez, entre os 30 e 80 anos de idade. A planta produz mais de 5 milhões de flores. Depois, essas flores dão origem milhares de frutos redondos e verde-escuros, com 3 a 4 cm de diâmetro, que levam cerca de um ano para amadurecer. Quando os frutos caem, ela inicia o processo de morte. Cada fruto contém uma única semente. A seiva é extraída para fazer vinho. As folhas são usadas para cobertura de telhados. Na Costa de Malabar, as folhas da palmeira eram usadas para fazer guarda-chuvas tradicionais para trabalhadores agrícolas e estudantes em áreas rurais até algumas décadas atrás. Na maré baixa, os pescadores usam os frutos para entorpecer os peixes. Também os pecíolos das folhas são utilizados na fabricação de flechas, bengalas, guarda-chuvas, tapetes e agulhas de rede. Já as duras sementes são aproveitas na fabricação de pequenas esculturas, contas e botões. A planta não existe mais em muitas regiões de seu habitat natural devido à urbanização. Uma de suas enormes folhas pode abrigar 10 homens da chuva. É multiplicada por sementes que germinam em aproximadamente oito meses.

As palmeiras do Parque do Flamengo - Foto: Humberto Baddini
As palmeiras do Parque do Flamengo – Foto: Humberto Baddini
As palmeiras podem ser vistas das pistas do Aterro - Foto: TV Globo
As palmeiras podem ser vistas das pistas do Aterro – Foto: TV Globo

O espetáculo da natureza em plena megalópole

Para quem passa pelas ruas do Flamengo ou pelo Jardim Botânico nos últimos dias, vale a ficar atento. Moradores e visitantes têm a chance de testemunhar um espetáculo raro da natureza: a floração das palmeiras talipot. Para muitos visitantes, ver o fenômeno é motivo de emoção e também um convite à reflexão, pra repensar o que o homem vem fazendo com o planeta. No Aterro do Flamengo, as copas carregadas chamam a atenção. No alto das árvores, milhões de pequenas flores amareladas formam uma espécie de grande coroa, algo que a maioria das pessoas jamais verá duas vezes. Foi introduzida no Aterro na década de 1960 pelo paisagista Roberto Burle Marx. Não se sabe exatamente de onde ele trouxe as sementes. Ele foi à Índia, pode ter sido de lá. Outra possibilidade é de terem origme de hortos de amigos botânicos em torno do mundo. Antes disso, dois exemplares já haviam sido plantados no Jardim Botânico, onde também florescem nesta primavera.

As flores encantam cariocas e turistas do Brasil e do mundo. Parecem fogos de artifício no topo da palmeira. A inflorescência das talipot, no Aterro do Flamengo, parece comemorar os 60 anos do parque, inaugurado em outubro de 1965. Burle Marx as trouxe do exterior e introduzidas no projeto paisagístico, que projetou o Parque do Flamengo com mais de 350 espécies de árvores e plantas para criar um tipo de “laboratório botânico” com uma biodiversidade brasileira e tropical. Com 120 hectares, o Aterro do Flamengo é considerado uma das obras paisagísticas mais emblemáticas do século 20. O parque tem cerca de 17 mil árvores no total, plantadas em 11 setores, com 40 espécies de palmeiras e outras variedades ornamentais e nativas.

As flores brancas-amareladas da palmeira que só floresce uma vez na vida
As flores brancas-amareladas da palmeira que só floresce uma vez na vida
Frutos
Frutos
As sementes
As sementes
A semente já brotando
A semente já brotando

A duração da vida desse tipo de palmeira vai depender de uma série de fatores, que incluem questões climáticas, questões de adaptação e de solo. O processo é lento quando ela começa a florescer, apontando primeiro a inflorescência, que é uma estrutura contendo as flores. Até apontar a inflorescência, crescer, abrirem as flores, elas amadurecerem e se transformam em sementes que vão se desenvolver em frutos, é um processo que leva mais de um ano. As sementes vão caindo aos poucos da palmeira e as que ficarem podem germinar. Essa não é a primeira vez que as talipot florescem no Aterro do Flamengo. Foram registradas florações da planta no local no início dos anos 2000 e em 2019 e já existem muitos filhotes dessas palmeiras que floresceram ali. Inicialmente imaginava-se as palmeiras plantadas no Parque do Flamengo demorariam 70 anos para florescer, mas começaram aos 40 anos. O fato de florescer mais rápido no Brasil talvez tenha a ver com o ambiente onde a planta se encontra. As que conseguem receber luz do sol crescem mais.

A floração da talipot é um espetáculo que muita gente vê uma vez na vida. E nunca sabe se quando vai acontecer, pois pode ser em 30 anos ou pode demorar 80 anos. É realmente um fenômeno raro e interessante, um misto de alegria e tristeza, pois quem vivencia fica feliz de ver o espetáculo, mas triste porque sabe que ela vai morrer depois. Atualmente, o parque tem duas palmeiras da espécie adultas florescendo e uma mais jovem, plantada no lugar da que floriu há dez anos. Já existem mais mudas prontas para plantio e a ideia é substituir as que forem morrendo por exemplares da mesma espécies.

Burle Marx

Roberto Burle Marx
Roberto Burle Marx

Artista plástico e paisagista brasileiro, Roberto Burle Marx era também pintor, desenhista, designer, escultor e cantor. Ele introduziu o paisagismo modernista no Brasil e foi um dos primeiros a utilizar plantas nativas brasileiras em seus projetos. Burle Marx Influenciou mundialmente o design de jardins tropicais no século 20. Jardins aquáticos foram um tema popular em suas obras. Ele foi um dos pioneiros a reivindicar a conservação das florestas tropicais no Brasil, tendo organizado inúmeras expedições e excursões pelos biomas brasileiros, durante as quais descobriu novas espécies. Mais de 30 plantas levam seu nome.

Sua obra é encontrada em todo o mundo. Ele morou grande parte de sua vida no Rio de Janeiro, onde estão localizados seus principais trabalhos. Foi na capital fluminense que adquiriu o Sítio Santo Antônio da Bica, em Guaratiba, zona sudoeste do Rio, hoje conhecido como Sítio Roberto Burle Marx, sob direção do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O Sítio era usado como espaço de aclimatação de plantas e hoje possui mais de 3.500 espécies de plantas diferentes. As flores da primeira talipot do sítio começaram a despontar na semana seguinte à morte de Burle Marx, ocorrida em 4 de junho de 1994.

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