A exposição se tornou não só o maior ponto de atração turística e econômica da cidade como a maior feira deste importante segmento no estado
Carregando consigo a insígnia de maior, mais tradicional e mais famosa Feira Rural do Estado do Rio de Janeiro pela crítica especializada, reconhecida como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Estado, a Exposição Agropecuária, Industrial e Comercial de Cordeiro – Expo Cordeiro, com 104 anos, promete atrair milhares de visitantes entre os dias 12 e 20 de julho, no Parque de Exposições Raul Veiga, à Av. Pres. Vargas, 234, Centro, Cordeiro, RJ, combinando cultura, entretenimento, agronegócio e desenvolvimento regional, nove dias com uma programação gratuita e democrática, em ambiente seguro e acolhedor, com estrutura para todos os públicos e atividades para toda a família. A expectativa da organização é superar o público das edições anteriores e movimentar significativamente a economia local.
A Exposição conta com inúmeras atrações para todas as idades, como parque de diversões, concurso Rainha da Expo, tenda cultural, exposição de arte, tenda literária, exposição de máquinas e equipamentos, exposição e julgamentos de raças, concursos leiteiros, rodeios, leilões, diversas opções de gastronomia e uma uma seleção de shows de artistas regionais e nacionais que contempla diferentes estilos musicais, sendo considerada por unanimidade, a porta de entrada do crescimento econômico regional, especialmente no que tange aos setores agropecuário, industrial e comercial, já que a Feira Rural alavanca o crescimento dos setores de forma bastante abrangente. Além disso, ainda há a força cultural, turística, de entretenimento e popularidade do evento, que reúne no período, com entrada franca, cerca de 200 mil espectadores anualmente.
A Expo Cordeiro vem acompanhando as mudanças culturais, sociais e econômicas, sem perder a sua grandeza e o seu lugar na história. Aos poucos, foi agregando eventos paralelos em um mesmo lugar. Assim, foi se reinventando e expandindo as suas atividades, que a exposição se tornou não só o maior ponto de atração turística e econômica da cidade como a maior feira deste importante segmento em nosso estado. Se tornou um marco para Cordeiro desde a sua primeira edição, em 1921, reconhecida em muitas regiões pela festa, a marca registrada da cidade, atraindo produtores rurais, industriários, comerciantes, empresários e visitantes de todo país ao bom e velho Parque Raul Veiga. Tanto que em 2016 garantiu ao município o título de “Cidade Exposição”, em lei (Lei Estadual nº 7.285, de 25 de maio de 2016) sancionada pelo então governador Francisco Dornelles.
Em 2021, ano do seu centenário, a tradicional feira foi oficialmente reconhecida como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Estado do Rio de Janeiro pela Lei nº 9.352, de 08 de julho de 2021, contribuindo ainda mais para o fomento do turismo local, com a expansão da cultura e do agronegócio e o consequente crescimento da região.
Os bovinos, equinos, asininos e muares expostos, julgados e premiados nas edições da exposição saem do certame mais valorizados em relação ao preço de mercado. Os animais são criteriosamente analisados por renomados juízes, todos com vasta experiência em julgamentos de morfologia, biótipo, condições frigoríficas e funcionalidade. A organização está confiante no sucesso desta edição e afirma que vai entregar em 2025 a melhor festa já realizada até hoje. Com o trabalho dos últimos anos foi possível incrementar a programação artística, trazendo o que há de melhor na música brasileira. Entre as atrações para a família, destaca-se o espaço Agro Kids, com diversas atrações de música, circo, teatro e fazendinha, entre outros.
A valorização dos talentos locais também é prioridade. A Tenda Cultural reunirá diariamente talentos de Cordeiro e região em um total de 62 apresentações musicais e 300 artistas, que celebram a diversidade de estilos e ritmos da cena serrana. Uma programação especial foi pensada para promover os músicos da terra e garantir o clima de festa ao longo de todo o evento. O público poderá ainda visitar exposições de arte e artesanato, manifestações culturais populares e participar de atividades em família nos espaços temáticos do parque, reforçando o vínculo entre a tradição rural e a criatividade regional. A estrutura do evento também contempla áreas acessíveis para pessoas com deficiência e fraldários.
A história da Exposição Agropecuária de Cordeiro
A partir o terceiro quarto do século 19, os produtores rurais da região serrana fluminense vão substituindo progressivamente o café pelo gado em seus tratos com a terra. Igualmente começam a se preocupar com a seleção das raças, na escolha de matrizes e reprodutores, na formação de pastagens com gramíneas nutritivas, com o registro de linhagens objetivando o aprimoramento genético e com a vacinação periódica dos animais. As raças existentes no Brasil como a caracu, a mocha, a curraleira e a crioula eram basicamente as mesmas que os portugueses haviam trazido para o Brasil-Colônia. Foi somente com a introdução do Zebu, raça bovina originária da Índia nas variedades Guzerá e Nelore, que o rebanho nacional se transforma ganhando qualidade.
O Zebu é um gado extremamente fecundo e precoce em seu desenvolvimento, de grande rusticidade, prospera em qualquer pastagem, resiste facilmente as epizootias e é quase refratário a tuberculose, o que não acontece com o gado europeu. Produzia um leite muito gordo. Enquanto se empregavam 22 litros de leite de vacas europeias na fabricação de um quilo de manteiga, bastavam para idêntica produção 17 litros de vacas zebuínas.
Barão das Duas Barras
Em 1870, Elias Antônio de Moraes, o segundo Barão das Duas Barras toma a iniciativa de importar reprodutores Zebus. Os primeiros lotes foram exemplares da raça Guzerá criada na Fazenda Ribeirão Dourado, em Macuco, que logo se expandiu para outras propriedades da região. O mesmo ocorreu com Manoel Ubelhard Lemgruber em 1878, comprando raças Ongole da Índia.
Foi na Fazenda Santo Antônio de Sapucaia, no Carmo, que desenvolveu a criação iniciando uma prole que seria conhecida como Nelore Lemgruber. Júlio César Lutterbach na Fazenda da Glória e Sebastião Monnerat Luterbach na Fazenda Santana, seguem o exemplo de Manoel Lemgruber, se dedicando a criação do Zebu. O Nelore se difundiu muito no Triângulo Mineiro, Goiás e Mato Grosso. Já o Guzerá teve a preferência dos cantagalenses e a baronesa de São Clemente desenvolveu na Fazenda Areias uma raça quase pura. No entanto, quem mais se destacou na criação do Guzerá foi João de Abreu Junior. Na Fazenda Itaoca, em Boa Sorte possuía um numeroso plantel deste gado e ganhava o primeiro
lugar nas competições agropecuárias que participava. Seu touro de nome Pavilhão com 1.050 quilos, recorde que levou mais de 50 anos para ser batido, tinha um retrato no cinema de Cantagalo, orgulho da pecuária local. Pavilhão JA conquistou o primeiro prêmio do evento realizado em 1921 em Cordeiro, ainda distrito de Cantagalo. Por ser um animal dócil, permitia que crianças montassem em cima dele e também pessoas permanecessem por debaixo, sem qualquer risco. O touro era filho dos importados Dijon e Pilat e foi adquirido em 1917. O animal foi tema de música, a cabeça foi usada em moedas brasileiras e muitos quiseram ser fotografados ao lado do animal.
da I Exposição de Gados e Derivados de Leite, realizado no então Parque
do Posto da Mata, que ainda não era reconhecido como Parque Raul Veiga
O gado de João de Abreu Jr. projetou novamente Cantagalo por todo o país como fizera o café durante o Império. Planejando as efemérides do centenário da Independência, os pecuaristas decidiram realizar em Cordeiro, terceiro distrito de Cantagalo, uma Exposição de Gado e Produtos Derivados para que servisse de preparação para a exposição no Rio de Janeiro, comemorativa da independência. Foi destinada uma área de 55.700 m² para o evento composta por seis pavilhões em forma de chalé para abrigar os animais a serem expostos, um coreto para a banda de música, pista para o desfile dos animais, entre outras benfeitorias.
Em 1921, impulsionadas pelo crescimento da pecuária no interior do Estado do Rio de Janeiro, as principais autoridades estaduais e federais do setor projetaram um evento para marcar época e servir de vitrine para todo o país, já que se aproximava o centenário da Independência do Brasil. A Vila de Cordeiro foi escolhida para sediar a primeira Exposição de Gado e Produtos Derivados, que foi
brasileira e mundial. Ele fez o primeiro
livro zootécnico com genealogia, medição
corporal e produção de cada animal
inaugurada no dia 4 de maio de 1921, pelo presidente da República, Epitácio Pessoa, e o presidente do Estado, Raul Veiga. A ideia partiu do então “presidente” do estado do Rio, Raul Veiga, que se propôs a desenvolver o rebanho em animais do estado, criando Postos de Monta pelo interior. Como o projeto já havia sido instalado na região sul do estado, João Bellieni Salgado sugeriu que Cordeiro se candidatasse a esse projeto. A ideia contou com apoio do então prefeito de Cantagalo, do qual Cordeiro era distrito, o Coronel Januário Pinto de Freitas. O mesmo era pecuarista, comerciante e industrial cordeirense. A partir daí, o projeto teve apoio de diversos políticos. De início, a exposição aconteceria em agosto de 1920, porém a epidemia da febre aftosa afetou a programação e por três vezes o evento precisou ser adiado para maio de 1921.
Inaugurada em 4 de maio de 1921 pelo presidente da República Epitácio Pessoa, no Parque Raul Veiga da então Vila de Cordeiro e já como projeto especial para promover o crescimento pecuário no interior do estado e em todo o país, a Expo Cordeiro se consolidou como uma das maiores e mais antigas festas agropecuárias do Brasil. A inauguração contou, inclusive, com a presença da comitiva presidencial, com o Presidente da República, Epitácio Pessoa, que realizou a abertura da exposição de gado, acompanhada de Raul Veiga, Presidente do Estado do Rio de Janeiro. O distrito de Cordeiro, na época, possuía 5.675 habitantes, conforme dados do censo realizado em 1920.
da República Epitáio Pessoa e Raul Veiga, Presidente do Estado do Rio de Janeiro
Na época da inauguração, Raul Veiga abordou no jornal regional Gazeta de Cordeiro as exposições regionais e a importância do “certame de cordeiro”: “Vão desenvolver consideravelmente a indústria pecuária não só daquele município como em todos os outros do estado! As exposições regionais, como sabe, nada mais são do que exposições preparatórias para as nacionais. Mais eficientes que as outras, mesmo porque, são menores e por isso mais fáceis de serem examinadas. Espero dele ótimo resultado”. No balanço final da Primeira Exposição Agropecuária de Cordeiro foram registradas mais de 35 mil pessoas presentes, além da inscrição de mais de 400 animais, o que, segundo relatado pelo jornal Clic Pensado, “em relação a Exposição Nacional com 1.300 e poucas, é um sucesso colossal”.
antigo do país, em 1921 com seus pavilhões de madeira
No dia da inauguração, sessenta e um expositores de vários municípios fluminenses participaram da primeira exposição com 508 animais de diferentes espécies, dos quais 401 de grande porte com 370 bovinos e 33 equinos. Na relação dos bovinos não figurava ainda a raça Gir que ocuparia lugar de relevo no gado da região. Predominava na exposição as raças indianas Guzerá e Nelore em sua maioria pertencentes aos pecuaristas João de Abreu Junior e aos coronéis Júlio César e Sebastião Luterbach.
A segunda edição da exposição ocorreria apenas no ano de 1924, cujo resultado foi a criação de um posto de monta, um grande benefício na época. Na realidade, a mídia considerou este evento como a segunda exposição. Participaram os municípios de Cantagalo, Itaocara, Nova Friburgo, Carmo, Sumidouro, São Sebastião do Alto, Santa Maria Madalena, Trajano de Morais, Bom Jardim e Duas Barras. Quem tomou parte desta exposição foram as famílias Spinelli e Raul Sertã. O plantel da Granja Spinelli era formado pelo gado Guernsey. Já o friburguense José Pires Barroso ganhou o primeiro lugar em apicultura e vários outros friburguenses foram premiados tanto nesta modalidade como na de sericicultura. Porém, com a emancipação do distrito de Cordeiro no ano de 1943, que ganha o predicado de município, a exposição fica sob a sua administração, o que não deve ter agradado em nada os cantagalenses.
A Expo Cordeiro nasceu com o objetivo de fomentar a agricultura e a pecuária na Região Serrana do Rio de Janeiro. Ao longo das décadas, tornou-se um símbolo de identidade local e um marco econômico e cultural do município. Vinte e um anos depois, em 30 de maio de 1943, o presidente Getúlio Vargas e o interventor federal no estado, Amaral Peixoto, inauguraram a segunda versão da exposição, selando um pacto com o povo de Cordeiro que assegurou a emancipação do município em 31 de dezembro daquele mesmo ano.
Nas últimas décadas a Exposição Agropecuária de Cordeiro com exposições de animais e produtos da agropecuária do estado, passou a ser moldada e foi transformada no que é hoje, a Exposição Agropecuária, Comercial e Industrial de Cordeiro (a popular Expo Cordeiro), um evento com atrações musicais, exposições diversas, além de continuar sendo um espaço de negócios para os agropecuaristas. Desde sua primeira edição, em 1921, a Expo Cordeiro tornou-se um marco para a cidade que é conhecida em muitas regiões pela realização daquela que é sua maior festa e se tornou também sua marca registrada, atraindo produtores rurais, industriais, comerciantes, empresários e visitantes de todo país.