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Eficácia de acaricidas em estufas é ameaçada por mutação

Ácaro rajado (Tetranychus urticae)

Populações do ácaro rajado (Tetranychus urticae) desenvolveram resistência a acaricidas usados no manejo de cultivos hortícolas e ornamentais na Turquia. A resistência envolve uma nova mutação no gene mitocondrial e o aumento de enzimas que degradam pesticidas. O achado acende um alerta para produtores que dependem de acaricidas do grupo dos inibidores do complexo III da cadeia respiratória. Acequinocil e bifenazato são os principais compostos dessa classe. Ambos atuam na mitocôndria, interrompendo a produção de energia. São preferidos em sistemas de cultivo protegido por apresentarem baixa toxicidade a inimigos naturais.

Contudo, testes com populações de T. urticae revelaram resistência em quatro das doze amostras avaliadas. Os níveis de resistência superaram os limites esperados para controle eficaz no campo, explicam os pesquisadores que aturam no estudo. Populações oriundas de estufas ornamentais apresentaram níveis extremos de resistência. Análises moleculares revelaram a presença de uma mutação inédita, M128T, em uma região conservada da citocromo b, proteína-chave do complexo III mitocondrial. A mutação foi fixada em populações submetidas à seleção com acequinocil.

Testes de cruzamentos recíprocos entre linhagens resistentes e suscetíveis confirmaram a herança materna da resistência. O resultado indica envolvimento direto da mutação mitocondrial. Ainda assim, a resistência conferida pela M128T foi moderada. Isso sugere que outros mecanismos também contribuem para a redução da eficácia dos acaricidas. Análises transcriptômicas de populações resistentes revelaram a superexpressão de genes relacionados à detoxificação. Entre eles, destacam-se monooxigenases do tipo P450, esterases (CCE) e enzimas DOG (dioxygenases), associadas à degradação de compostos tóxicos. A população Tu4S, mais resistente entre as testadas, apresentou aumento na atividade de enzimas P450 e CCEs.

Sintomas e danos causados pelo ácaro-rajado (Tetranychus urticae) em plantas de morango em estufa - A- Morangueiro altamente infestado pelo ácaro, com folhas bronzeadas e frutos mal desenvolvidos; B – Planta coberta com teia confeccionada pelo ácaro; C – Evolução do ataque, com folhas bronzeadas e secas; D – Detalhe dos ácaros em folhas de morangueiro - Fotos: Marcelo T. de Castro
Sintomas e danos causados pelo ácaro-rajado (Tetranychus urticae) em plantas de morango
em estufa – A- Morangueiro altamente infestado pelo ácaro, com folhas bronzeadas e frutos
mal desenvolvidos; B – Planta coberta com teia confeccionada pelo ácaro; C – Evolução
do ataque, com folhas bronzeadas e secas; D – Detalhe dos ácaros em folhas de morangueiro
Fotos: Marcelo T. de Castro

Testes com sinergistas químicos confirmaram a atuação de P450s na resistência. Quando inibidas, houve aumento da toxicidade dos acaricidas, especialmente nas populações com resistência intermediária. No entanto, a eficácia dos sinergistas foi limitada nas populações altamente resistentes, indicando um conjunto de fatores atuando em sinergia. A seleção com acequinocil também elevou a resistência ao bifenazato, sugerindo resistência cruzada entre os compostos.

Os testes mostraram correlação direta entre os níveis de resistência a ambos os produtos. Já para outros acaricidas, como abamectina e piridabem, a resistência se manteve estável, indicando que os mecanismos já estavam presentes nas populações iniciais. Populações resistentes apresentaram ainda mutações associadas à resistência a outros modos de ação, como a H92R no complexo I mitocondrial. Essa combinação genética torna o manejo químico mais difícil e reforça a necessidade de estratégias integradas.

A pesquisa recomenda o monitoramento constante das populações de T. urticae quanto à presença da mutação M128T. A mutação pode servir como marcador molecular para diagnóstico precoce de resistência. Além disso, os pesquisadores sugerem a rotação de moléculas com modos de ação distintos e o uso de agentes biológicos, integrando ferramentas no contexto do manejo integrado de pragas (MIP). Acesse ao artigo científico CLICANDO AQUI.

A “seleção natural”, termo proposto por Charles Darwin há muitos anos, é o ponto central que explica um dos principais desafios da agricultura moderna: a evolução da resistência de plantas daninhas e pragas. Existem na natureza alguns indivíduos que são naturalmente tolerantes ou resistentes a determinado fator, como a algum princípio ativo ou molécula. A evolução da resistência ocorre devido à contínua pressão de seleção. É um caso pico de seleção Darwiniana em que a constante pressão de seleção aumenta a frequência relativa de alguns indivíduos “pré-adaptados” presentes na população de determinada espécie-praga. A pressão de seleção que resulta na evolução da resistência é o contínuo uso de elevadas doses de pesticida a que compartilham do mesmo modo de ação, o que favorece a sobrevivência de indivíduos portadores de genótipos resistentes. Com o passar das gerações da praga, esse processo pode aumentar a frequência de resistência e, consequentemente, reduzir a eficiência do controle de pesticidas.

A utilização indiscriminada de agrotóxicos para controle de pragas favorece a seleção de populações resistentes - Foto: Thomas Cristofoletti/USAID
A utilização indiscriminada de agrotóxicos para controle de pragas favorece
a seleção de populações resistentes – Foto: Thomas Cristofoletti/USAID

Os mecanismos de resistência das pragas aos produtos químicos e biológicos apresentam uma grande variabilidade. Em relação a uma mesma espécie, os mecanismos podem ser diferentes dependendo das populações. Diversas espécies-praga apresentam potencial para o desenvolvimento de resistência a produtos de origem química ou biológica. A grande responsabilidade pela seleção de populações resistentes é de quem emite a recomendação, portanto, entre outros aspectos, deve haver atenção na escolha dos produtos recomendados para o controle de pragas. Além disso, é importante a conscientização dos agentes de extensão e produtores rurais para não utilizarem métodos que aumentam os riscos de seleção de resistência aos pesticidas.

O controle adequado e racional das doenças e pragas inicia-se com o aprendizado constante, com a identificação do problema, das condições favoráveis a estes organismos, dos métodos de controle disponíveis e a utilização correta dos agrotóxicos que devem ser evitados ao máximo. Desconsiderar os fatores que favorecem o aparecimento da resistência nessas populações acarreta a seleção de indivíduos que serão mais difíceis de controlar; maior exposição aos produtos; maior número de aplicações e maior deriva de produtos ao ambiente. Além disso, pode culminar em altos danos e perdas a produção. O manejo da resistência é extremamente importante na agricultura, principalmente quando não se dispõe de grande número de classes químicas de produtos para o controle do organismo-alvo, comparado a outros países.

O problema de falhas de controle de algumas pragas vem se agravando e a utilização indiscriminada de agrotóxicos para controle favorece a seleção de populações resistentes. Para minimizar o problema os técnicos recomendam como estratégia antirresistência, a alternância de produtos com modos de ação diferenciados, assim como o uso de doses recomendadas pela pesquisa. Nos últimos anos a pesquisa atualizou ainda as informações sobre o nível de dano aceitável (densidade da praga na qual recomenda-se a aplicação) sem prejuízos. Essa informação é a base das recomendações do Manejo Integrado de Pragas (MIP). O surgimento da lagarta Helicoverpa por exemplo, mostrou a importância de sistemas mais equilibrados e como os inimigos naturais ajudam nesse problema.

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