O conteúdo visa contribuir para uma urgente mudança de perspectiva, para que pessoas do Brasil e do mundo possam conhecer a amazônia sob uma nova perspectiva
Lançado recentemente pela Fundação Heinrich Böll, organização política alemã com presença em 35 países, o Atlas da Amazônia Brasileira, uma publicação inédita com 32 artigos de amazônidas e pesquisadores da região, reúne dados e saberes da maior floresta tropical do mundo e amplifica o debate ambiental no ano da Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas no Brasil, a COP30, que ocorre em novembro na capital paraense. Trata-se de um conteúdo que visa contribuir para uma urgente mudança de perspectiva, para que pessoas do Brasil e do mundo possam conhecer a amazônia novamente, desta vez sob a perspectiva dos diversos habitantes da região. Um conselho editorial foi formado por acadêmicos, ativistas e comunicadores amazônidas – ou que atuam há décadas na região – para identificar autores locais e temas a serem abordados. Entre os 58 autores e autoras, estão 19 indígenas, cinco quilombolas e dois ribeirinhos.
Existe uma visão de que a amazônia é só floresta, mas existe uma riqueza singular na região que muitas vezes fica invisibilizada. As pessoas mal sabem que 75% da população da amazônia é urbana. Tem povos e comunidades que há muito tempo trabalham na relação com a natureza, com formas de proteção e preservação ambiental com a construção de um bem viver cada vez mais sustentável por isso, é preciso colocar quem está nos territórios para ter um papel de protagonista nesses debates. Entre 2019 e 2022, a amazônia registrou recordes de desmatamento (principalmente para abertura de pastagem para criação de gado); o garimpo ilegal em áreas protegidas (principalmente em terras indígenas da região amazônica) cresceu em 90%; e cidadãos estimulados pelo avanço da extrema direita se armaram – entre 2018 e 2022 o número de pessoas com registro de armas na amazônia ocidental aumentou 1.020%. Ao mesmo tempo, em 2022 a região reuniu mais de um quinto dos assassinatos de defensores do meio ambiente em todo o
mundo: foram 39 ativistas assassinados naquele ano.
Os últimos anos parecem ter desenhado um futuro sombrio para a Amazônia e sua população, seja pelos impactos do colapso climático na região, seja pelas disputas políticas que ditam não apenas o ritmo da intensificação de crimes ambientais (cada vez mais organizados pelas facções do tráfico de drogas nos territórios), mas os interesses econômicos que orientam grandes projetos para a região. Por outro lado, a amazônia é território de uma efervescente mobilização de movimentos sociais, coletivos e organizações socioambientais que têm se tornado linha de frente das discussões envolvendo tanto a gestão territorial regional, quanto a agenda climática global. Essa mobilização envolve a valorização dos modelos de pensamento dos povos e comunidades, que constroem relações com o território e seus seres bastante distintas daquelas que guiam os setores responsáveis pelo iminente colapso climático.
Importantes rotas do tráfico de drogas passam pela amazônia brasileira e controlar essas rotas e os mercados locais se tornou o objetivo das facções. Com a profissionalização do narcotráfico e sua relação com os crimes ambientais, a região vive um processo de interiorização da violência. Desde os anos de 1980, a bacia amazônica é utilizada pelo crime organizado. Na época, como um importante corredor para o escoamento de cocaína que entrava pelas fronteiras do Brasil com os países andinos, principalmente Bolívia, Colômbia e Peru, que até hoje se destacam como os maiores produtores de cocaína do mundo. Facções criminosas que antes atuavam na região sudeste passaram a ter mais presença na amazônia, tais como, o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e o Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro. Além disso, facções regionais passaram a se organizar na região instituindo relações de poder e controle dos territórios, a exemplo da Família do Norte (FDN) do Amazonas e Comando Classe A (CCA) do Pará, fazendo alianças e enfrentamento aos grupos faccionais não-regionais, algo que contribuiu de forma significativa para os conflitos violentos na amazônia. Segundo os autores, a relação entre o narcotráfico e os crimes ambientais se dá por meio de atividades ilegais como exploração ilegal de madeira, contrabando de minérios (manganês e cassiterita) e grilagem de terras.
O material segundo os produtores, provoca diálogos pela justiça socioambiental e inspira soluções para as adversidades que a amazônia e seus povos enfrentam. O atlas aprofunda temas cruciais para a região e indica alternativas para um desenvolvimento sustentável e justo. Na pauta, a preservação ambiental e os saberes ancestrais, a cultura e a educação local, os desafios fundiários e o desmatamento, o impacto das mudanças climáticas, a luta das mulheres amazônidas pela justiça socioambiental e a crescente violência e exploração ilegal, como na mineração. A obra também questiona a utilização dos recursos naturais como moeda e a prática do “greenwashing”, o marketing que vende produtos e serviços como sustentáveis sem que isso seja verdade.
Trata-se de uma publicação enriquecida com saberes e ciências locais, que desafiam o cientifismo ocidental. O Atlas da Amazônia Brasileira pode servir como uma porta de entrada aos conhecimentos da região, sendo instrumento de aprendizagem sobre as complexas relações que compõem esse imenso território. A partir disso, ele poderá provocar debates, diálogos e inspirar soluções para os diferentes desafios, de forma a incentivar um futuro sustentável e autodeterminado para a amazônia e seus povos.
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