Pesquisa revela que o setor enfrenta dificuldade para atrair e reter profissionais tanto na gestão quanto no campo, evidenciando um gargalo estrutural
O agronegócio brasileiro avança em tecnologia, produtividade e alcance global, porém convive com um paradoxo que se intensifica ano após ano: a dificuldade de encontrar e manter profissionais qualificados. Pesquisa realizada pela FESA Group indicou que a disputa por profissionais qualificados no agronegócio brasileiro conta com um pilar principal: atração e retenção de profissionais. A consultoria especializada em recursos humanos entrevistou 56 executivos de empresas nacionais e multinacionais de grande porte, com faturamento superior a R$1 bilhão e mais de 500 funcionários. Mais de 90% ocupam posições na diretoria, vice-presidência ou gerência executiva, e 56% das respostas são do estado de São Paulo.
Para 25% dos que responderam a pesquisa, a atração e retenção de talentos é o principal desafio de recursos humanos no setor e tema central da agenda de RH, à frente de treinamento e capacitação de equipes e de remuneração e competitividade, ambas com 15%. A retenção de profissionais é visto como a maior dificuldade do setor pela escassez de talentos. Para os especialistas, isso não é um tema novo, e acontece devido à complexidade do agronegócio. Esse movimento evidencia como a competitividade no agro passa, inevitavelmente, pela valorização do capital humano.

colaborador encontre sentido no trabalho e enxergue oportunidade de evolução
O agro possui uma curva de aprendizado maior se comparar com outros setores. Enquanto a indústria alimentícia pode lançar um novo produto em poucas semanas, cadeias produtivas agrícolas podem levar mais de um ano até sua conclusão. Essa característica torna o desenvolvimento de competências mais demorado, exigindo profissionais pacientes, adaptáveis e comprometidos com ciclos produtivos longos. Além da complexidade técnica, as localizações remotas das operações agrícolas espalhadas pelo Brasil agravam o desenvolvimento de profissionais e o desafio de atrair essa mão de obra. Muitas unidades produtivas estão situadas longe dos grandes centros urbanos, exigindo deslocamento, mudança de cidade ou adaptação a rotinas afastadas da infraestrutura urbana. Essa dificuldade inclui tanto funções administrativas quanto a mão de obra no campo.
O gargalo estrutural combina localização remota,
complexidade operacional e novas demandas de carreira
Para isso, o setor precisa de líderes que valorizem ciclos mais longos para funcionários nas empresas. Segurança psicológica e autonomia retêm muito mais que um aumento pontual de salário e as novas gerações vêm com essa expectativa. Nem sempre essa disposição é compatível com o perfil desses novos trabalhadores, que buscam respostas rápidas, crescimento acelerado e maior autonomia no trabalho. O engajamento é um ativo estratégico para disputar os melhores profissionais do mercado. Assim, as empresas precisam oferecer mais do que pacotes financeiros competitivos, sendo necessário criar ambientes de desenvolvimento contínuo, capazes de motivar e reter pessoas que façam a diferença no negócio.

oferecendo mais do que vagas: oferecendo caminhos de desenvolvimento
Foto: Wenderson Araújo/CNA
As empresas precisam estar atentas de que a retenção da força de trabalho depende de algo maior: cultura, propósito, segurança psicológica, autonomia e clareza de carreira. A pesquisa mostra que, para manter profissionais por mais tempo, é essencial que o colaborador encontre sentido no trabalho e enxergue oportunidade de evolução.
As expectativas para os próximos anos indicam um RH mais estratégico no setor com uso ampliado de tecnologia para apoiar decisões. O principal dilema das empresas é onde investir seus recursos e para isso é preciso buscar equilíbrio entre inovação operacional e desenvolvimento humano, criando programas de formação, capacitação regional e incentivo à permanência. Investir em tecnologia muda a eficiência no curto prazo, mas em pessoas dá consistência. Os pesquisadores também ressaltam o uso de inteligência artificial como recurso fundamental. Ela deixa de ser um diferencial para se tornar um requisito e os profissionais capazes de utilizá-la de forma estratégica ocuparão espaços privilegiados em um cenário de transformação digital, um lugar garantido no mercado, especialmente em áreas como gestão de dados, logística agrícola, planejamento e análise de riscos. O setor, que carrega um papel decisivo na economia brasileira, precisa reorganizar sua relação com os talentos, oferecendo mais do que vagas: oferecendo caminhos de desenvolvimento.